No momento em que tentava fugir de Paris, o principal suspeito por chefiar os ataques terroristas Bataclan, em 2015, Salah Abdeslam, viu-se obrigado a dar uma entrevista num controlo rodoviário. A emissora pública belga RTBF decidiu divulgá-la esta terça-feira, na véspera do julgamento em Paris.
Na noite do massacre na capital francesa, as suas fronteiras foram cercadas por postos de controlo da polícia. A repórter Charlotte Legrand, da RTBF, encontrava-se a entrevistar motoristas enquanto as autoridades verificavam as suas identidades e revistavam todos os carros, horas após o ataque. Por coincidência, calhou de entrevistar o carro onde seguia Salah Abdeslam.
“Não me lembro da marca do carro ou da cor”, disse Legrand ao jornal The Guardian. “Havia três jovens dentro dele que pareciam muito cansados. O que vi no banco de trás, estava enrolado numa espécie de casaco comprido”, continuou.
Os homens “não foram particularmente amigáveis, mas responderam às minhas perguntas enquanto a polícia revistava o carro e verificava os seus documentos. Mas assim que receberam os papéis de volta, interromperam a conversa e foram embora”, concluiu a repórter.
Na entrevista curta, pode ouvir-se o desagrado de todos os membros que seguiam no carro de Salah Abdeslam. Questionados sobre o que achavam da intervenção policial, responderam: “Este é o terceiro polícia”; “A terceira verificação” e ainda: “Francamente, pensamos que está a ser tudo um pouco exagerado.” Até hoje nunca ficou claro quem disse o quê pela sobreposição das vozes revoltadas.
Nessa noite, o nome de Abdeslam não havia ainda sido divulgado à polícia como possível suspeito dos ataques e os homens foram autorizados a seguir caminho. Legrand confessa ter editado o seu “artigo de 90 segundos”, com a entrevista aos “três jovens de origem norte-africana”, e não ter pensado mais nisso.
Quando começaram a surgir detalhes da fuga de Adbeslam, com os cúmplices Mohamed Amri e Hamza Attou, a repórter começou a suspeitar. Contudo, estas suspeitas só foram confirmadas em 2016, após a prisão de Abdeslam, no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, e a consequente divulgação de uma conversa sua com outros dois presos na prisão de Bruges.
Nessa conversa gravada, o suspeito do massacre revela aos seus companheiros de cela que tinha morto pelo menos quatro pessoas e que tinha sido entrevistado na fronteira enquanto era revistado pela polícia. A RTBF ficou então com a confirmação da sua identidade e publicou a entrevista esta terça-feira, um dia antes do julgamento de Salah Abdeslam.
Abdeslam, de 31 anos, cidadão francês nascido em Bruxelas, é considerado o último sobrevivente da cela de 10 homens que executaram os ataques de Paris. A maioria tirou a própria vida ou foi morta pela polícia. É também suspeito de ter planeado o seu próprio ataque suicida, mas depois terá desistido.
Os ataques de novembro de 2015 em Paris foram uma série de atentados terroristas ocorridos na noite de 13 de novembro. Consistiriam em fuzilamentos em massa, atentados suicidas, explosões e sequestros de reféns. Terão ocorrido em bares e restaurantes, sendo que o que matou o maior número de pessoas ocorreu no teatro Bataclan. 130 pessoas morreram e 490 ficaram feridas.