Marinhas de guerra de 17 países da Aliança Atlântica testam em águas portuguesas tecnologia de ponta em veículos não tripulados, com missões que vão da guerra de minas até à análise de amostras de água.

O exercício REPMUS 21, que decorre até 24 de setembro em Tróia, é “o maior exercício de experimentação operacional da NATO” e nele testam-se “veículos autónomos não tripulados” que andam debaixo de água, à superfície ou aéreos, disse à agência Lusa o chefe da Divisão de Inovação do Estado-Maior da Armada, comandante João Lourenço Piedade.

Para além desta tecnologia, que se equipara aos ‘drones’ que já são usados, por exemplo, em missões aéreas, “há uma parte invisível que testa a interoperabilidade destes veículos”, ou seja, “colocar os veículos a ‘falar’ entre si e para outros sistemas a bordo dos navios ou em terra, mais uma panóplia de ferramentas de inteligência artificial”.

João Lourenço Piedade notou que a maioria das missões que estes robôs podem desempenhar são de “vigilância ou proteção de determinados locais”.

Não estamos a testar veículos com armas, mas efetivamente, alguns deles podem ter uma aplicação mais militar se colocarmos as armas a bordo. Assim, testamos táticas e procedimentos“, referiu.

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No REPMUS, que começou no dia 10 de setembro, participam 12 navios, sete dos quais da Marinha portuguesa, incluindo o submarino Tridente, a fragata Álvares Cabral e navio oceanográfico D. Carlos I, e navios das marinhas norte-americana e italiana.

“Alguns dos navios são utilizados como plataformas de lançamento dos veículos submarinos, para colocação de determinados sensores no fundo do mar e também como alvos para serem detetados pelos sistemas que estamos a testar”, elaborou.

Este exercício, o maior do seu género levado a cabo pela NATO, é um “exercício de seriado”, em que “não existe um cenário global, mas pequenas séries de exercícios que testam estas tecnologias em cenários muito específicos, desde o mapeamento do fundo, que é um cenário que pode ser completamente civil, até missões que têm aplicação militar, como por exemplo o apoio a um desembarque anfíbio numa praia”.

Com cerca de 1.200 participantes, o exercício junta forças armadas, investigadores da academia e representantes da indústria, uma reunião que serve para “acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias”.

João Lourenço Piedade indicou que, dependendo do tipo de missão, há tecnologias que “não têm ainda maturidade suficiente para ter utilização forte do lado militar”, pelo que a maioria dos envolvidos pertence às universidades e às empresas, que conseguem perceber melhor o que pretendem dos seus produtos os “utilizadores finais”, no caso, os militares.

Em certos cenários específicos, como a guerra de minas, “a tecnologia está mais madura” e a grande maioria dos envolvidos é das forças armadas.

“No fundo, todas acabam por se poder ligar e essa vertente de conhecer o oceano e conseguir compreender e modelá-lo, para o que é preciso recolher dados e ter modelos científicos. Acabam por ter uma grande utilização no mundo civil, não só no mundo militar”, salientou.

Entre veículos aéreos, de superfície ou submarinos, serão testados mais de 30 tecnologias numa área de 1.400 milhas náuticas.

Participam 15 empresas, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e oito outras entidades da Aliança Atlântica.