Dourada, tofu ou alheira? A decisão é tomada pelas poucas dezenas de estudantes que estão na fila da cantina e também por Beatriz Gomes Dias, que prefere o tofu (“opto muitas vezes por pratos vegetarianos. Também gosto de seitan”, explica ao Observador). De tabuleiro na mão, enquanto espera que as colheradas de arroz lhe cheguem ao prato, vai fazendo o balanço do debate que na quarta-feira opôs os doze candidatos a Lisboa: “Éramos muitos candidatos, dá pouco tempo a cada um…”

Os alunos e ex-alunos que esperam para almoçar com a candidata na cantina da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na sua maioria militantes do Bloco, destinam-lhe elogios e dizem que gostaram de a ouvir. Mas o debate preferido de Beatriz Gomes Dias foi mesmo o da TSF, que só incluiu BE, PCP, Carlos Moedas (PSD e CDS) e PS: “Consegui explicar melhor os meus pontos de vista e definir as diferenças”. Para um debate tão alargado como o de quarta, talvez fosse melhor alargar também o tempo — “2h30, por exemplo”, sugere.

A fila avança e a candidata também, enquanto elogia a oferta de pratos vegetarianos na cidade e nas cantinas. É a sua oportunidade para um momento de campanha mais descontraído, a jogar em casa — todos aqui concordam que a FCSH é um “ponto forte” para o Bloco — e em registo de conversa informal.

Enquanto engole o caldo verde, ouve o relato dos ex-alunos:

– A cantina costumava ser a minha opção, mas pagar quatro euros por dia, cinco dia por semana é muito…

– Uma vez, nós os dois dividimos um quarto muito, muito, muito pequeno. A senhoria dividiu o quarto em dois e ainda disse: ah, podem pôr uma cortina!

– O meu quarto tinha uns cinco metro quadrados e custava 280 euros!

– E os quartos que não tinham janelas?

A candidata ouve com interesse e vai fazendo perguntas a Raquel Lindner, Rafael Guerreiro, João Sebastião, Ana Teresa Sebastião e Leonor Rosas (que pertence à Mesa Nacional do Bloco), todos na casa dos 20 anos. As maiores queixas têm a ver com os preços da habitação — “estudar fora de casa acaba por ser um privilégio”, lamenta Ana Teresa — e a falta de vagas nas residências estudantis.

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É o mote ideal para, bebido o café, Beatriz explicar já fora da cantina que a criação dessas vagas (400 por ano) foi precisamente uma das medidas que os bloquistas impuseram na negociação do acordo com o PS, há quatro anos.

Assumindo que “há dificuldades que continuam a persistir” e que “a habitação é sem dúvida o maior problema”, tendo em conta que apenas 6% dos estudantes deslocados têm lugar numa residência (a nível nacional a percentagem sobe para 13%), o BE quer mais residências — ainda ontem o partido apresentava a sua proposta para reconversão da Academia Militar, em parte com este objetivo.

Esse reforço será para continuar, ao lado do PS, nos próximos quatro anos? “É fundamental que o Bloco tenha mais força para impor medidas e continuar a pressionar”, diz, assumindo que o partido quer mesmo assinar um “acordo escrito”, não “exclusivamente verbal” nem que sirva apenas para assumir pelouros específicos sem dividir globalmente a governação da cidade, atira.

É um ataque ao PCP, que tem criticado o acordo PS/BE e acusado os bloquistas de passarem um cheque em branco a Medina, além de recusar assinar entendimentos formais. Agora, Beatriz decidiu contra-atacar. Ainda esta tarde, irá visitar uma residência para estudantes na Ajuda, para continuar a puxar pelas medidas do Bloco — nesta área, o partido quer garantir a criação de 5 mil vagas até 2025.