Sol bem forte, 40 minutos de atraso e candidato nem vê-lo. Atraso da praxe, nada dramático, não fosse a manhã quente, quente em Campo de Ourique. A comitiva do Chega, capitaneada pelo candidato à Junta, Pedro Miguel Pinto, aguardava pacientemente a chegada de Nuno Graciano, enquanto trocava umas curtas impressões sobre o debate da véspera. “Estava mais solto, já estava melhor“, avaliavam, sem regatear um elogio aqui e acolá às prestações de Sofia Afonso Ferreira (Nós, Cidadãos) ou de Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal). “O Medina é que é correr com ele“, insurgia-se um dos elementos mais fervorosos da comitiva.
Às 11h43, Nuno Graciano, conduzido por Bruno Mascarenhas, ex-militante do CDS e antigo vogal na direção de Bruno de Carvalho, chega finalmente. Troca umas palavras de circunstância e atira-se para o Mercado de Campo de Ourique, conduzido energicamente por Pedro Miguel Pinto, diligente cicerone que parecia conhecer o nome e apelido de todos com quem se cruzava.
Graciano acompanha o ritmo, ainda mais peixe fora d’água do que espécie autóctone desta coisa chamada campanha política. “Que bela sandwich que aqui está!”, “e estes chernezinhos de que eu gosto tanto!?”, “companheiro, é dos carecas que elas gostam mais“, ia soltando o antigo apresentador. Ser (re)conhecido ajuda, mas não desfaz todas as barreiras naturais.
Os anos de televisão, ainda assim, são uma bengala confortável para um candidato que tem de lidar com a sombra de André Ventura. Graciano é reconhecido o quanto baste, mas as marcas Chega e Ventura ainda se confudem. “Alguém tem de me trazer cá o Ventura!“, chegaram a pedir-lhe. Nada que atrapalhasse uma manhã tranquila, em modo passeio.
Sem grandes estados de alma, o candidato ainda ouviu umas quantas palavras de incentivo. “É preciso dar uma volta nesta treta”, atirou-lhe um. “O Medina? É porrada para cima deles“, encorajou uma comerciante. “Vão tirar a maioria ao homem? Vocês juntem-se todos”, avisou outro curioso.
Tudo isto numa freguesia carregada de simbolismo. Pedro Costa, filho do primeiro-ministro, chegou a presidente depois de substituir Pedro Cegonho, que saiu a meio do mandato, tal como António Costa fez com Fernando Medina. Também por isso um e outro eram os visados preferenciais nas conversas que se iam mantendo durante o passeio. “Hoje, o Costa Jr. lá andava a passear no Rato…”, ia ouvindo o Observador.
Até que surge uma pausa estratégica para apreciar autocolantes colados em vários postes de eletricidade. Cópias de artigo de jornal, onde se lia que o “filho de Costa” seria presidente de Campo de Ourique e uma legenda a vermelho: “Socialism = Never-ending corruption“. Na comitiva do Chega jurava-se que o partido nada tinha a ver com aquilo, mas não se escondia um certo divertimento.
Infligir uma derrota ao PS nesta junta em particular teria, também por isso, um gosto especial, iam comentando com o Observador alguns elementos da comitiva do Chega. Eleger um vereador em Lisboa, hipotecando as hipóteses de maioria absoluta de Medina, seria cereja no topo do bolo — ainda que o desafio seja reconhecidamente difícil.
No final, em declarações ao Observador, Nuno Graciano assumia o otimismo. “O Chega está com força. Vamos ter uma agradabilíssima surpresa na noite eleitoral. Expectativas? Eleger um vereador seria muito bom, dois vereadores era excelente”. A ver.