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Moedas no Bairro Alto para lutar pela "amazing city"

Este artigo tem mais de 3 anos

O candidato social-democrata encerrou o terceiro dia oficial de campanha com uma incursão pelo Bairro Alto e com repetidos apelos ao voto útil. "A Câmara só pode mudar se eu ganhar as eleições".

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JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Colete, camisa azul-bebé, calça clara e sapatilhas, Carlos Moedas chega ao Largo do Camões, em Lisboa, pouco depois das 22h30, hora marcada. Bebe um café, troca umas palavras de circunstância, verifica se estão todos e atira-se para o coração do caótico e babilónico Bairro Alto.

Vai mais para ouvir as queixas dos comerciantes (falta de segurança, regras incompreensíveis, falta de articulação entre a polícia, negligência da autarquia) do que para conquistar votos. Até porque entre turistas, jovens adolescentes, estafetas de comida atarantados com a multidão e convivas empenhados nos comes e (sobretudo) nos bebes, poucos havia para convencer a votar.

Nada que atrapalhasse Moedas, apostado em fazer uma campanha sóbria, no sentido figurado e literal do termo — apesar da natural tentação, não houve uma gota de Gin para eternizar o momento. Ao terceiro dia oficial de campanha, e depois de um arranque controlado com um comício cheio no Teatro Trindade, e de um segundo dia exclusivamente dedicado ao debate televisivo a doze, o social-democrata saiu finalmente à rua (Alcântara, Belém, Bairro Alto), mas fê-lo dispensando o habitual foguetório das campanhas mais tradicionais.

Moedas sente-se mais confortável noutro registo. Pára para conversar, chega a pedir desculpa pela intromissão, ouve longos testemunhos, aceita um café de borla a muito custo (“Isto assim não tem jeito”), permite-se a falar da própria experiência de vida (“A minha mãe também nasceu em 1935, mas em Beja”), troca algumas palavras de conforto, promete encontrar soluções e segue para nova paragem, onde o ritual invariavelmente se repete, com uma ou outra diferença mediante o interlocutor.

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JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Isto mesmo num Bairro Alto à pinha com portugueses confusos (“Mas o que é que se passa, estão a dar amendoins?”), outros tantos mais empenhados em enrolar um alegado cigarro (“Voto Nulo!”), um par de italianos embasbacados com as câmaras de televisão (“Cristiano Ronaldo!?”), brasileiros frenéticos (“Será que vou aparecer na TV?”), e um casal de ingleses embevecidos (“Such an amazing city”). Moedas é um homem com uma missão e de poucas distrações. “It will be even better“, promete para inglês ouvir.

Para os lisboetas, o mantra é um e só um: voto útil, voto útil, voto útil. “Temos de mudar a Câmara Municipal de Lisboa e a única maneira de a mudar sou eu. Este socialismo de fação de Fernando Medina só pode mudar se eu ganhar as eleições”, repetiu aos jornalistas, no final da incursão pelo Bairro Alto, já depois de o ter dito durante a tarde.

Claro que este registo mais comedido tem um natural revés da medalha. Onde não há foguetório, não há bandeiras e aparelho partidário; onde não há bandeiras e aparelho partidário, não há efeito cénico; onde não há efeito cénico, não há câmaras de televisão; onde não há câmaras de televisão, não há campanha em casa dos lisboetas; onde não há campanha em casa dos lisboetas, não há onda mediática; onde não há onda mediática, muito dificilmente haverá onda política capaz de derrubar Fernando Medina. E pouco importa o que é a causa ou o efeito: Moedas ainda procura o criar o seu momentum.

JOSÉ FERNANDES/OBSERVADOR

Em três dias oficiais de campanha, não houve foguetes e muito menos canas para apanhar. À exceção do dedicado líder da concelhia do CDS/Lisboa e candidato a vereador, Diogo Moura, as estruturas partidárias estão praticamente desaparecidas em combate. Os candidatos às juntas de freguesia estão a fazer pela (sua) vida e pouco ou nada aparecem — ou, se aparecem, pouco fazem.

Os ilustres dos dois maiores partidos têm-se contado pelos dedos — esta quinta-feira, na apresentação do candidato à Junta de Belém, houve Telmo Correia, do CDS, que interveio, e os discretos Paulo Mota Pinto e José Matos Rosa, do PSD, que se juntaram à pequena multidão; antes, no arranque da candidatura, houve Nuno Morais Sarmento e um virtual Adolfo Mesquita Nunes. Independentes como Pedro Simas ou Laurinda Alves, esses, não têm faltado à chamada, mas pode não chegar para criar a mobilização de que Moedas precisa.

Junte-se a isto um partido a discutir nos bastidores e na praça pública a sucessão de Rui Rio e de como o resultado de Moedas pode ou não influenciar o curso da história e as contas ficam mais difíceis. O candidato parece seguir indiferente. A onda está a crescer, vai-se jurando na comitiva

Na perspetiva da campanha social-democrata, se conseguir reunir e convencer os três grupos-chave (os que não são refletidos pelas sondagens, os eleitores de outros partidos que preferem ainda assim Moedas a Medina, e os indecisos) a vitória é perfeitamente possível. Daí a insistência em apelar à mobilização, insistir na bipolarização e reforçar as três grandes bandeiras: menos impostos, transportes gratuitos para os mais jovens e para os mais velhos, plano de saúde para os mais desfavorecidos.

A ideia daqui para a frente é manter o gatilho apertado (“Medina dá vontade de rir, seis anos e não fez absolutamente nada”), dramatizar (“Preciso de cada um de vós, não podem ficar em casa) e, até à reta final da campanha, aumentar a intensidade no terreno. Ainda não foi assim no Bairro Alto. No futuro, chegará para dar o salto?

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