“Estamos à espera de quem? Temos de arrancar para não perdermos o elã da campanha. O elã nestas coisas é muito importante…”. Carlos Moedas está impaciente. Os jornalistas, tantas vezes vítimas dos atrasos olímpicos dos candidatos, desta vez são os responsáveis pelos 20 minutos de atraso com que a comitiva que acompanha o social-democrata se atira finalmente para o interior da boca do metro, na estação da Ameixoeira, em Lisboa.
Tudo pronto, esta viagem tem como destino da estação de Campo Grande. Carlos Moedas pica o bilhete às 8h26, aguarda uns quantos minutos pela chegada do metro, entra e fica de pé. No interior da carruagem, os passageiros-zombie levantam os olhos dos ecrãs dos telemóveis por breves segundos e regressam rapidamente ao torpor matinal de mais um dia casa-trabalho-casa. Se há coisa que esta campanha autárquica tem demonstrado é que a corrida em Lisboa não desperta, para já, grandes euforias.
Moedas hesita em entabular conversa. O assunto que traz é complexo e não move exatamente multidões. Mas é uma das grandes bandeiras do social-democrata. Com a polémica linha circular prometida e contratualizada por Fernando Medina, os utentes da linha amarela (Odivelas-Rato) terão de passar a fazer transbordo no Campo Grande para chegar ao centro da cidade. É preciso alertar que, por causa dos desvarios do socialista, estes lisboetas que vão perder “mais 20 ou 30 minutos” em mudanças de linha dispensáveis.
“Desculpe incomodá-la…”, intromete-se Moedas, algures entre o Lumiar e a Quinta das Conchas. O social-democrata explica o que está em causa e o que pode vir a acontecer se Medina vencer eleições e levar o plano adiante. A passageira sobressalta-se. “Mas hoje ainda posso!?”, interroga, completamente a leste do que aí vem. “Sim, ainda não aconteceu. Estou a falar do que pode acontecer futuro”, tranquiliza Moedas.
Mais tarde, aos jornalistas, explicaria a alternativa que tem para resolver um problema criado pelo atual executivo. “Nunca teria feito uma linha circular, mas não estamos aqui para destruir o passado”, diz. No entanto, é preciso corrigir o plano de Medina antes que seja demasiado tarde.
Antes, ainda no interior da carruagem, alguém pergunta à infeliz contemplada com toda aquela súbita atenção mediática se conhecia o candidato Carlos Moedas. “Não…”. E conhece outros candidatos? “Também não…”. Momento embaraçoso para todos, a começar e acabar pela própria. “Está a ver? Só precisa de conhecer um”, salva-a Carlos Moedas.
Às 8h38, já o candidato estava com pé e meio na plataforma. Tempo para reagrupar e falar aos jornalistas. “Esta linha circular vai trazer uma grande mudança à vida destas pessoas e as pessoas não estão de todo conscientes dessa mudança”, lamenta o social-democrata.
Com uma “simples solução de engenharia”, uma linha em laço e não circular, que evitará futuros transbordos, Moedas compromete-se a resolver o erro de Medina e a evitar o transtorno que o projeto vai causar. Um risco e um erro que Medina recusa assumir, quando insiste, queixa-se Moedas, que as mudanças introduzidas não vão implicar mais tempo no Metro.
“Fernando Medina mentiu ou então já mudou de ideias”, atira, antes de alertar, mais uma vez, para o “impacto terrível” que a obra de Medina vai ter na “vida das pessoas”.
Feito o ataque, Moedas passa à defesa. Confrontado com os relatos que vão surgindo a partir do bas-fond do PSD, e que dão conta de um certo desencanto e desmobilização na campanha a Lisboa, o social-democrata recusa deitar a toalha ao chão.
“Estamos cada vez mais próximos. Temos uma dinâmica de vitória clara. Estamos tão perto, tão perto, que vamos conseguir”, insiste o candidato. Convencido está. Agora é preciso convencer os eleitores, sobretudo os “indecisos”. “É para eles que estamos a falar”, rematou Carlos Moedas.