A UMAR-Açores quer “alertar consciências” perante “o flagelo” da violência doméstica, apelando à participação massiva da comunidade numa concentração esta sexta-feira, ao final da tarde, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
“Quando se aborda este flagelo continuamos sem perceber que a violência doméstica não é um problema meu, teu. É um problema nosso, porque acontece na nossa família, no núcleo dos nossos amigos e amigas, acontece nas nossas relações de vizinhança“, alertou Maria José Raposo, coordenadora da UMAR-Açores, Associação Para a Igualdade e Direitos das Mulheres, em declarações à agência Lusa.
A UMAR organiza esta sexta-feira (entre as 17h30 e as 18h30 locais — 18h30 e 19h30 d Lisboa) uma concentração em frente ao Tribunal de Ponta Delgada.
“Nos Açores, não temos elevados registos de mulheres assassinadas, mas basta uma. E repudiamos toda e qualquer argumentação que apele à suavidade dos contornos deste hediondo ato”, sublinhou Maria José Raposo.
A coordenadora da UMAR-Açores explicou que a concentração pretende “homenagear” uma mulher” de 42 anos, morta este mês com uma catana na ilha de São Miguel, e cujo suspeito, um homem, de 39 anos, está em prisão preventiva.
“Mas, vamos também alertar consciências em relação à problemática da violência doméstica. Estamos a educar. Estamos a sensibilizar para que a sociedade reflita sobre estes comportamentos”, sublinhou, apelando à participação na concentração, lembrando que a presença “é uma força para que as mulheres que estão em relações abusivas possam dar o passo e saírem destes relacionamentos”.
E, acrescentou, “é também a força de presença para que os homens percebam que nós precisamos resolver este problema não amanhã, não depois, mas ainda hoje”.
A coordenadora da UMAR-Açores vincou que esta é “uma problemática de uma complexidade social bastante grande”, mas “um problema de todos”, quer sejam “homens ou mulheres”.
Maria José Raposo adiantou que o local escolhido (em frente ao Tribunal) “é simbólico”, porque “representa as instituições judiciais”.
“A sociedade, as instituições que trabalham na área e o poder judicial têm de estar todos em sintonia para podermos ultrapassar esta problemática”, reforçou.
A responsável explicou à Lusa que a dimensão regional da violência doméstica “tem contornos bastante elevados”.
“Em termos de estudos somos a terceira zona do país com maior prevalência desta problemática e temos de juntar aqui a nossa insularidade ou isolamento que permite maior abuso. Temos de educar, falar, refletir e banir este comportamento da nossa sociedade, das nossas relações de família, das nossas relações de amizade, das nossas relações de conjugalidade”, disse.
A responsável admitiu que no final deste ano os números da violência doméstica nos Açores possam estar “próximos da pré-pandemia”, ou seja, “idênticos a 2018”, ano em que foram “bastante elevados”.
“Em 2018, só na UMAR, tivemos um caso novo por semana e chegámos ao final daquele ano com 52 casos novos, além daqueles casos que transitam de ano para ano”, explicou.
Por isso, “é preciso continuar a consciencializar. Nestas relações confunde-se amor com poder. A brutalidade é tão grande e tão perversa para com as mulheres”, apontou Maria José Raposo.
No decorrer da concentração serão “distribuídas flores brancas em homenagem às mulheres assassinadas” com “o desejo de ser alcançada a paz”, informa uma nota da UMAR-Açores.