De uma forma ou de outra, os resultados desportivos têm sempre influência na forma como decorrem as assembleias gerais dos clubes. O que está ali em causa e o que se debate nunca tem nada a ver com futebol, com contratações ou com títulos nos relvados mas esse acabou por tornar-se ao longo dos anos uma espécie de bússola para se perceber para que lado vai a nau. No caso do Sporting, que tantas vezes andou de mão dada com crises institucionais mais ou menos latentes, essa realidade era multiplicada. Por isso, e partindo do que aconteceu desde que Rúben Amorim assumiu o comando da equipa há ano e meio, o regresso das reuniões magnas no Pavilhão João Rocha devia ser particularmente tranquilo. Apesar de tudo, não foi. 

Sporting passa de prejuízo a lucro de 135 mil euros na última época

Além do aparato policial junto à Rotunda do Leão que surpreendeu alguns associados que se deslocavam ao recinto, e que mais uma vez poderiam exercer o seu direito de voto e sair quase num modelo de eleições (o que fez com que o recinto nunca tivesse muitas pessoas fixas), voltaram a ouvir-se algumas críticas a Frederico Varandas, presidente do clube, mas também a Rogério Alves, líder da Mesa da Assembleia Geral. Outro dos pontos que mais uma vez levantou celeuma foi o facto de os boletins de votos serem numerados – alguns (poucos) sócios criticaram o facto dizendo que é uma forma de controlar as orientações de voto, os responsáveis recusaram a ideia e explicaram que era por uma mera questão de autenticidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já depois de Francisco Salgado Zenha, vice-presidente com o pelouro financeiro, ter apresentado de forma global o Relatório e Contas que foi a sufrágio, Frederico Varandas subiu também ao palco para um discurso onde falou dos sucessos desportivos no futebol e nas modalidades que marcaram a última época (uma das melhores sempre do clube verde e branco), tendo depois outras intervenções para responder a questões ou temas levantados pelos sócios onde chegou a deixar ainda algumas “farpas” ao passado recente e a Bruno de Carvalho, sem nunca ter referido diretamente o nome do antigo líder do Sporting.

Relatório e Contas e Orçamento do Sporting chumbados por quase 70% em AG tensa e com agressões (no exterior)

“A minha declaração de rendimentos foi entregue ao Conselho fiscal e Disciplinar mas posso garantir-vos que quando sair do Sporting não poderei ficar três anos sem trabalhar” e “Perdoo até aqueles sócios que ficam tristes com as vitórias do Sporting” foram duas das frases fortes de Frederico Varandas, depois de ter ouvido críticas em discursos anteriores de outros associados pela incapacidade de unir e pacificar de vez o clube em termos internos e também pela dívida do Sporting clube à Sporting SAD. De acordo com o que apurou o Observador, algumas franjas de associados do clube, percebendo o risco que existia de novo voto contra os pontos em discussão, tentou ainda mobilizar alguns grupos no sentido de pelo menos virem exercer o seu direito, algo que acabou por não acontecer de forma substancial para evitar o chumbo.

Os bastidores das dez horas de AG da Sporting SAD: o requerimento rejeitado, a dívida à Gestifute, o (único) mercado falhado e o campo Futre

A votação foi apurada por volta da meia-noite, sendo que existiam quatro pontos na ordem de trabalhos: Relatório e Contas de 2019/20 (que tinha sido anteriormente rejeitado em Assembleia Geral) e de 2020/21; Orçamento para a nova época; e atribuição de nomes de velhas glórias às sete portas do Estádio José Alvalade (Vítor Damas, Hilário, Francisco Stromp, Jordão, Cinco Violinos, Yazalde e Manuel Fernandes). À exceção do último ponto, aprovado com cerca de 60% dos votos, tudo acabou por ser chumbado pelos associados leoninos com um total de votos contra a rondar os 57% e os 60%. Terão votado cerca de 750 associados ao longo da noite no Pavilhão João Rocha, um universo pequeno na realidade leonina.

De recordar que, além da extinção de cinco empresas do universo Sporting que provocou uma descida de cerca de 50 milhões no ativo e no passivo, o exercício de 2020/21, também ele reprovado, apresentava um recorde de quotização num só ano. “O destaque é o valor recorde de quotização de nove milhões de euros (cash), registo que representa o maior valor de sempre do clube, resultante sobretudo de uma adesão massiva à campanha Sporting Sempre. A excelente receção a esta iniciativa resultou num impressionante crescimento de 28% dos sócios com débito direto, 14 vezes superior ao total registado nos últimos quatro anos acumulados. Neste momento 62,1% dos sócios do clube têm débito direto, dos quais 52,2% com a modalidade anual”, explica o Relatório e Contas referente à temporada que acabou a 30 de junho de 2021.

Varandas apela a “séria reflexão” de 99% de sócios contra a minoria do 1%

No final da reunião magna, e em declarações à Sporting TV, Frederico Varandas voltou a falar de uma minoria de bloqueio e apelou a todo o universo e branco uma reflexão sobre o que se passa no clube.

“Acima de tudo, esta noite é a noite ideal para os sócios fazerem uma séria reflexão do que querem do clube e que participação querem ter neste clube. A verdade é que sistematicamente temos um grupo de 400 pessoas que se apresenta sempre nas assembleias, com a sua orientação de voto quer o Sporting seja campeão nacional, quer ganhe a Liga dos Campeões, e estão no seu direito”, começou por apontar o presidente leonino, a propósito de uma reunião magna que contou com cerca de 750 sócios.

Frederico Varandas lança fortes críticas a “minoria ruidosa” no Sporting

“É um grupo inferior a 1% dos sócios votantes e a pergunta que faço é se os 99% dos sócios votantes querem continuar que uma minoria, que se dirige sistematicamente à assembleia com o insulto e ameaça como argumento, continue a bloquear a gestão do clube. Temos os estatutos, vamos cumprir, mas é altura da grande massa associativa do Sporting pensar no que quer para o clube e que participação quer fazer”, acrescentou ainda Frederico Varandas, que se mostrou agastado com o epílogo da reunião magna.

Varandas era contra mas houve “pena de morte” – e Bruno de Carvalho caiu como tinha feito cair

“O Relatório e Contas de 2019/2020 e o Orçamento para 2021/2022 foram reprovados. Votaram cerca de 750 sócios, 1% do total do universo com possibilidades para votar. Estas foram as pessoas que estiveram. A Assembleia Geral decorreu de forma adequada, os esclarecimentos foram prestados e as pessoas votaram naquilo que entenderam. Não vou tirar ilações políticas do resultado, isso será uma ponderação do Conselho Diretivo. À mesa compete organizar a Assembleia Geral e viabilizar a mesma, a análise compete ao Conselho Diretivo”, destacou no final Rogério Alves, em declarações ao canal do clube.