A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, acusou esta sexta-feira o grupo de restauração do Porto Madureira’s de beneficiar com a pandemia, ao ter despedido 50 trabalhadores apesar de receber apoios do Estado e apresentar uma “situação financeira perfeitamente viável”.

“As grandes empresas foram, de facto, quem beneficiou e, aliás, os restaurantes Madureira’s são um exemplo disso, porque esta empresa teve apoios do Estado quando até tinha uma situação financeira perfeitamente viável e, mesmo assim, quis despedir 50 trabalhadores”, acusou a sindicalista.

Isabel Camarinha participou esta sexta-feira no sexto protesto do Sindicato de Hotelaria do Norte em frente a um restaurante da empresa Madureira’s, desta vez no Campo Alegre, em que recordou que os 50 trabalhadores despedidos “não receberam qualquer importância a título de indemnização, nem subsídio de férias e subsídio de Natal”.

Considerando “não se poder olhar para o setor da restauração só à luz do período da pandemia”, a responsável da CGTP lembrou que este “tal como todo o setor ligado ao turismo no país, teve anos de uma pujança enormíssima e de muitos lucros até ao início da pandemia”.

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A chegada do novo coronavírus a Portugal, prosseguiu Isabel Camarinha, “provocou uma quebra grande, a necessidade de encerramento e houve todas as restrições, mas houve também muitos apoios que foram dados pelo Estado para a viabilidade das empresas”.

“O problema é que esses apoios não foram dados às empresas que precisavam, mas às que não precisavam. As mais pequeninas tiveram grande dificuldade em receber”, assinalou.

Defendendo que as empresas que precisam de apoios “devem continuar a tê-los”, frisou, no entanto, que “sejam apoios que garantam os postos de trabalho, o aumento dos salários, os vínculos efetivos e os direitos dos seus trabalhadores”, e que “não podem as empresas estar a amealhar apoios e aumentar os lucros dos acionistas”.

“As empresas têm de perceber que aumentar os salários é um investimento, também, para a sua própria viabilidade, para o desenvolvimento económico do nosso país”, insistiu a líder da central sindical que não esqueceu o papel do Governo de quem “medidas na legislação laboral, que garantam os direitos dos trabalhadores” e um “caminho de desenvolvimento para o país”.

Para Isabel Camarinha, é tempo de inverter o ciclo “aumentando o salário de todos os trabalhadores garantindo, assim, que estes melhorem as suas condições, valorizando as carreiras e as profissões, que têm estado a ser igualizadas ao nível do salário mínimo nacional, e isso não pode ser”.

Nuno Coelho, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte (STIHTRSN), acrescentou à Lusa sobre a situação dos trabalhadores que ditou mais um protesto à porta de um dos restaurantes, que a empresa “comprometeu-se a pagar valores muitos baixos e durante 12 meses, o que faz com que alguns recebam pouco mais de 40 euros por mês”.

O grupo Madureira’s tem cerca de 20 restaurantes (Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Gondomar e Rio Tinto) e as empresas do grupo “vivem uma boa situação económica”, referia uma nota distribuída numa manifestação a 06 de agosto, a quarta realizada desde 18 de junho.

“Nos últimos anos, o grupo cresceu muito e é bem visível o nível de riqueza dos seus sócios. Contudo, as empresas do grupo Madureira’s aproveitaram-se da pandemia, fizeram cessar o contrato de trabalho de mais de 50 trabalhadores e não lhes pagaram os direitos devidos”, concluía a nota.