Os adeptos do Newcastle ficaram em êxtase após a Premier League ter confirmado esta quinta-feira a aquisição por mais de 300 milhões de libras (cerca de 353 milhões de euros) do clube de futebol inglês por parte de um consórcio formado em parte por investimentos da família real da Arábia Saudita. O objetivo é voltar a conquistar troféus e engrandecer novamente o clube, que será agora dos mais ricos da Liga inglesa. Contudo, o negócio foi contestado pela Amnistia Internacional, devido às acusações de violações dos direitos humanos que recaem sobre Riade.
Detido anteriormente pelo milionário Mike Ashley, o clube tem tido desempenhos aquém nas últimas temporadas, estando atualmente no penúltimo lugar da Premier League. “Os últimos 14 anos foram horríveis”, diz Allen O’Connell, adepto do clube ao The Guardian. “O clube é como se fosse o bater do coração da cidade e basicamente está ventilado na última década”, relata Paul Loraine ao mesmo jornal.
O fundo saudita que comprou o clube designa-se por PCP Capital Partners e a Premier League assinala ter recebido “garantias legais de que o Reino da Arábia Saudita não vai controlar o Newcastle”. Yasir Al-Rumayyan, governador do investimento público saudita, disse estar “orgulhoso” da compra daquele que é um “clubes mais célebres do futebol inglês”.
Com esta compra, e tendo em conta que foi realizada por investimentos públicos que são administrados também pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, tudo indica que a coroa saudita poderá a passar (pelo menos nos bastidores) a controlar a equipa. Também o ministério do Comércio terá um papel preponderante na gestão do clube.
Os novos investimentos deste fundo saudita deverão ser aplicados primeiramente numa nova academia de treinos, bem como no incentivo a que a comunidade do nordeste de Inglaterra se volte a aproximar do clube. Além disso, o atual treinador do Newcastle, Steve Bruce, também poderá ser dispensado. Antonio Conte, que levou o Chelsea ao topo da Premier League em 2017, é o nome desejado pelo consórcio saudita para suceder ao atual técnico, depois de ter deixado o Inter de Milão em maio.
Amnistia Internacional critica negócio
Após a aprovação do negócio, a Amnistia Internacional acusou a Premier League de permitir que pessoas “implicadas na violação dos direitos humanos entrem no futebol inglês só porque têm dinheiro” e pede que o organismo que “altere as suas políticas de donos e presidentes para que se adequem aos direitos humanos”.
Esta aquisição mostra “que o futebol inglês está aberto para negócios para lavagem de imagem de um país que viola os direitos humanos. A Amnistia considera absurdo que indivíduos implicados em crimes de guerra ou crimes contra a humanidade possam — mesmo que tenham dinheiro — comprar a sua passagem para o topo do futebol inglês”, criticou a organização.
Isto quando o herdeiro da Arábia Saudita foi acusado em março deste ano de crimes contra a humanidade por um tribunal alemão.
No entanto, estas manifestações de repúdio não desmobilizaram os adeptos, que apoiaram a compra do clube. Aliás, segundo uma sondagem, 93% dos adeptos concordaram com a venda e muitos foram mesmo para a porta do estádio St. James’ Park festejar. “Enquanto adeptos, não há muito que possamos fazer em relação aos assuntos de direitos humanos”, argumenta Paul Loraine ao The Guardian. “O compasso moral é sempre estranho em tempos como estes”, sintetiza.