Finalmente, o tiro de partida de Nuno Melo. O eurodeputado do CDS apresentou este sábado a sua candidatura à liderança do partido e não deixou margem para segundas interpretações: “Sou candidato à presidência do CDS-PP”.

“Começa aqui hoje [no Porto] uma caminhada com que venceremos todos os novos cercos que querem fazer com que o CDS deixe de ser um dos partidos mais relevantes da democracia portuguesa”, afirmou Nuno Melo.

O agora candidato à liderança do CDS não poupou críticas à estratégia de Francisco Rodrigues dos Santos de antecipar o congresso do partido e assim tentar condicionar a corrida eleitoral. “Pela forma como a democraticidade interna do partido está a ser torturada, num dos momentos mais confrangedores da nossa longa existência partidária, isso só aumenta a nossa determinação, meus queridos amigos. É para ganhar que lá vamos.”

Nuno Melo recusou depois a ideia, veiculada por alguns jornais, de que estaria para breve uma “debandada”  caso a ala ‘portista’ perdesse o próximo congresso. “Se por alguma razão perdêssemos o próximo congresso, jamais sairíamos do CDS. A menos que fôssemos empurrados“, garantiu.

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O eurodeputado enumera depois alguns dos candidatos, vencedores e derrotados, nas últimas autárquicas e deixa uma crítica indireta à atual direção do partido por se tentar “apropriar” dos méritos dos outros.

“Ser candidato é para mim um imperativo de consciência e até uma obrigação”, disse. “O CDS tem de voltar a ser um espaço para onde se quer ir e de onde não se quer sair. O rigoroso oposto do que tem sido”, afirmou.

“Está o CDS em condições de ter um bom resultado em eleições legislativas se concorresse sozinho? Todos sabemos que não. O resultado seria penoso. Está o CDS em condições de fazer uma negociação digna com o PSD? É evidente que também não. A atual liderança será capaz de conter e reduzir o crescimento dos novos partidos? A atual liderança dificilmente conseguiria conter. Infelizmente, os eleitores percebem melhor o que querem o Chega e a Iniciativa Liberal e sabem pouco aquilo que defende o CDS”, sublinhou Melo.

Depois de acusar a atual direção de ter “resquícios sectários”, Nuno Melo insistiu na necessidade de recuperar quadros competentes para o partido e voltar a devolver o “friso de credibilidade” ao CDS. O eurodeputado recusou a ideia de um partido dividido em alas, tendências e fações. “Não me interessa se quem está no CDS é liberal, conservador ou democrata-cristão. O CDS precisa de todos.”

Comprometendo-se a fazer do CDS um partido “da direita clássica”, por oposição à “demagogia” do Chega, ao sem ignorar a sua identidade “cosmopolita” e de “utilidade”, Melo acredita que o CDS “tem colocar a doutrina ao serviço de causas“.

O eurodeputado enumerou depois várias dessas causas. A promoção da igualdade de género, “sem quotas” e em função do mérito, o combate ao “Estado pesado e burocrático”, a defesa de salários “condignos“, o auxílio aos mais necessitados, sem deixar de ser “implacável” com aqueles que “se apropriam” dos recursos do Estado.

“E para que fique claro: isto vale para brancos, para pretos, para amarelos, para ciganos e para índios. Vale para todos os que violem a lei”, afirmou Melo, numa clara referência (uma de muitas) ao Chega.

“O CDS tem de ser uma oposição capaz. Temos um governo que se bloquizou, que é nepotista nas escolhas, que depende do Bloco de Esquerda e do PCP, que estatiza empresas e que nos quer dividir entre público e privado. Temos de fazer oposição a um Governo que enumera casos e casos”, continuou candidato à liderança do CDS, lembrando as falhas do Executivo socialista em vários momentos — os incêndios de 2017, o “ataque” ao SEF, o envio de dados de manifestantes anti-Putin para Moscovo, entre outros episódios.

“Connosco as esquerdas terão no CDS a mais competente oposição e, quando for caso disso, o mais competente ao serviço de Portugal”, prometeu o democrata-cristão. Já perto do final do discurso, Melo insistiu na ideia que deverá acompanhar a sua campanha interna:

“O CDS tem de voltar a sentir que pode ser forte por si. Rui Rio tem dito que o partido é um partido do centro. Se o CDS não souber assumir a sua representação à direita, sem complexos, com marcas identitárias, se se distrair com generalidades e lugares-comuns, isso significará deixar todo o espaço político à direita nas mãos do radicalismo do Chega. É no CDS que a direita racional se deve concentrar. O CDS faz falta a Portugal. Os radicalismos só prevalecerá se a decência racional do CDS não se notar. O PS é tudo aquilo que, comigo, o CDS vai combater”, rematou.