Um caso positivo de Covid-19 detetado numa funcionária da Escola Básica Quinta de São Gens, em Matosinhos, levou ao isolamento profilático de 314 crianças, de turmas do 1.º ao 4.º ano. A decisão do delegado de saúde de Matosinhos, no entanto, não gerou consenso e vários pais e encarregados de educação estão descontentes com a medida, que afeta mais de metade de todos os alunos daquela escola (492 alunos no total). “É uma medida exagerada”, refere Dulce Silva, encarregada de educação que criou um abaixo-assinado que já conta com 216 assinaturas para exigir mais esclarecimentos sobre a situação.

Tudo começou na sexta-feira, quando os pais e encarregados de educação foram informados de que as crianças teriam de entrar em isolamento por terem estado em contacto com uma funcionária que testou positivo à Covid-19. De acordo com as informações que foram transmitidas, o número elevado de crianças em isolamento deve-se ao facto de a funcionária em questão ser uma assistente operacional da cantina da escola e também supervisora do recreio, tendo contactado com todos os alunos que almoçaram na cantina e com os alunos do 1.º e 2.º ano que estiveram no recreio — o segundo ano foi todo colocado em quarentena.

Não estando vacinadas (por não terem sido incluídas no Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19), estas crianças são consideradas contacto de alto risco. “A decisão foi tomada, mas continua a ser uma medida desproporcional por causa de um caso positivo”, explica Dulce Silva, que tem duas crianças em isolamento e que já estão a ter aulas online. O abaixo-assinado, refere, serve para “obter alguma resposta relativamente a esta decisão da delegação de saúde de Matosinhos de praticamente encerrar uma escola por causa da deteção de um caso positivo”.

Nós, enquanto pais, queremos perceber o porquê desta decisão tão drástica de colocar mais de 300 crianças em casa por causa de um caso de Covid-19, passando apenas três semanas do início das aulas, quando tudo parece esta a regressar relativamente à normalidade e as nossas crianças, de uma maneira geral, continuam a ser as mais prejudicadas”, atira ainda a encarregada de educação.

Dulce Silva receia ainda que esta situação se venha a repetir várias vezes ao longo do ano letivo: “Daqui a 15 dias pode haver outro caso, daqui a três semanas vai haver outro caso — porque o vírus neste momento vive entre nós e não vai desaparecer. A nossa grande questão é como é que vai ser o resto do ano letivo. Estamos muito preocupados em relação a isso, em relação à saúde emocional das nossas crianças. Na sexta-feira houve várias crianças a chorar toda a tarde na escola porque sabiam que iam para casa novamente e não estavam a perceber porquê. Gostava que alguém pudesse pensar nas nossas crianças em Portugal e na sua saúde emocional, que é extremamente importante”.

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Carine Gonçalves, outra encarregada de educação que esteve esta segunda-feira à porta da escola de Matosinhos, também não concorda com esta medida, uma vez que considera que, embora as crianças não estejam vacinadas, “a funcionária consegue estar sempre de máscara e de certeza que mantém algum afastamento”. “Os pais devem estar atentos a sintomas, mas as crianças podiam vir à escola ou, pelo menos, podiam ter dois/três dias para fazer o teste e, caso fosse negativo, voltavam à escola”, aponta ainda Carine, destacando também a dificuldade de os pais justificarem as faltas ao trabalho pelo isolamento dos filhos.

Já do lado da Associação de Pais e Encarregados de Educação desta escola, Gabriela Silva, a vice-presidente, assegura que a associação tem estado a acompanhar a situação desde o primeiro momento e assume que “a dimensão do isolamento é enorme”. Em causa está o facto de a assistente operacional que testou positivo ter contactado com várias turmas do primeiro ciclo, originando este elevado número de isolamentos.

“Num caso normal, cada funcionário teria de contactar com menos turmas cada um. Como não existe um número suficiente, acabou por ter de contactar com todas as turmas. Este já não é um problema de agora, já dura há bastante tempo. Temos vindo a pedir mais assistentes operacionais, porque efetivamente, agravando mais agora com a pandemia, a escola precisava de ter mais assistentes”, explica Gabriela Silva, cujo filho não precisou de ficar em isolamento porque não almoçou na cantina (uma das exceções previstas para este isolamento).

Os alunos terão de ficar em isolamento até à próxima segunda-feira, dia 18 de outubro, estando já a ser testados e já a ter aulas online (à exceção do primeiro ano, para os quais ainda está a ser pensada uma solução). O Observador tentou chegar ao contacto do delegado de saúde de Matosinhos, mas sem sucesso até ao momento. Já a direção da escola não quis prestar declarações. Entretanto, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte confirmou mais um caso positivo de uma funcionária da mesma escola.