Uma decisão inesperada. Horas depois de a direção de Rui Rio ter proposto formalmente aos conselheiros sociais-democratas a realização de eleições diretas a 4 de dezembro, o líder social-democrata agendou uma conferência de imprensa de urgência para sugerir aos conselheiros nacionais do partido que considerassem o adiamento das eleições internas até que a situação de governabilidade do país ficasse clarificada.
“Entendo que o PSD e o seu Conselho Nacional deviam ponderar muito bem se devem marcar eleições”, argumentou o líder social-democrata, sugerindo que o partido não estaria em condições de “disputar eleições [antecipadas] taco a taco” com o PS se estivesse a discutir a próxima liderança social-democrata.
“O que entendo que seria de bom tom era que este Conselho Nacional fizesse a análise das autárquicas, não marcaria diretas, e ficaria marcado um Conselho Nacional para depois da aprovação ou não do OE. Se o OE for aprovado, há condições para diretas, se não for não vejo como o partido pode fazer internas e legislativas ao mesmo tempo”, afirmou Rui Rio.
“Se este Orçamento não passar, como pode acontecer, o PSD é apanhado em plenas diretas e completamente impossibilitado de disputar as eleições legislativas taco a taco”, continuou.
Desafiado a dizer se, em caso de eleições antecipadas, seria candidato, Rui Rio deixou pouca margem para dúvidas: “Claro, isso é evidente, sou o líder do partido, fui candidato a primeiro-ministro em 2019. Depois de sair das autárquicas, será ainda mais fácil“.
O Conselho Nacional vai discutir já esta quinta-feira a data da realização eleições internas no PSD. Inicialmente, a proposta avançada pela direção do partido aponta as diretas para o dia 4 de dezembro. Apesar de propor formalmente essa data, a direção de Rui Rio vai colocar à consideração dos conselheiros nacionais a hipótese de as realizar a 8 de janeiro.
Duas datas — uma preferencial, outra alternativa — que acabaram por ficarem esvaziadas de sentido, entende Rui Rio. Os recentes desenvolvimentos vieram dar força à tese de fim de ciclo socialista: com o chumbo do PCP ao Orçamento em cima da mesa e com Marcelo Rebelo de Sousa a falar abertamente sobre eleições antecipadas, é importante que o PSD tenha uma direção preparada para ir a votos assim seja preciso.
Resta saber o que decidirão os conselheiros nacionais. O adiamento das eleições baralharia todas as contas no interior do partido e podia condicionar (e muito) a corrida à liderança do PSD.
Ainda esta quarta-feira, em entrevista ao Observador, Miguel Pinto Luz, assumido apoiante de Paulo Rangel em caso de candidatura à liderança do PSD, dizia que “haveria tempo” para um novo líder social-democrata enfrentar António Costa e que Rangel seria “claramente” melhor candidato.
Miguel Pinto Luz: “Se Paulo Rangel for candidato, estarei naturalmente ao lado dele”
O plano original
Inicialmente, como avançou o Observador esta tarde, a direção do PSD enviou uma proposta aos conselheiros nacionais para que as eleições acontecessem já a 4 de dezembro. Nesse cenário, o congresso do PSD aconteceria mais de um mês depois, a 14, 15 e 16 de janeiro.
Essa era a proposta que iria formalmente a votos. No entanto, e antecipando eventuais polémicas, a direção tinha preparada uma data alternativa: colocar à consideração dos conselheiros nacionais a hipótese de realizar as diretas a 8 de janeiro.
Esta última data não era do agrado da direção de Rui Rio. A intenção da direção do partido passou sempre por fazer as eleições o mais cedo possível, para que existisse um processo de clarificação interna célere e para que o partido se voltasse a dedicar à oposição ao Governo socialista.
Agora, tudo mudou: Rui Rio não quer o PSD em eleições internas antes de perceber se António Costa aguenta ou não o embate no Parlamento e um eventual chumbo do Orçamento.