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Covid. Morreu o general Colin Powell, estratega da Guerra do Golfo e antigo secretário de Estado norte-americano

Este artigo tem mais de 3 anos

Colin Powell foi conselheiro de Ronald Reagan e uma figura importante da presidência de George W. Bush, central na invasão do Iraque em 2003. Morreu aos 84 anos de Covid-19, apesar de estar vacinado.

epa09530044 (FILE) - US Secretary of State Colin Powell waits for United Nations Secretary General Kofi Annan outside Annan's office, at the UN Headquarters in New York City, USA, 21 August 2003 (reissued 18 October 2021). Colin Powell has died at the age of 84, his family said on Facebook on 18 October 2021.  EPA/MATT CAMPBELL
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George W. Bush recordou Colin Powell como um homem "muito respeitado", "o favorito dos presidentes"

MATT CAMPBELL/EPA

George W. Bush recordou Colin Powell como um homem "muito respeitado", "o favorito dos presidentes"

MATT CAMPBELL/EPA

O antigo secretário de Estado Colin Powell, que teve um papel decisivo na invasão norte-americana do Iraque em 2003, morreu aos 84 anos devido a complicações relacionadas com a Covid-19, informou a família no Facebook. “Perdemos um marido, pai e avô notável e amoroso, e um grande americano”, comunicou a família, acrescentando que o general estava vacinado contra a Covid-19 e agradeceu à equipa médica do Walter Reed National Medical Center.

A CNN recordou que, depois de ter combatido no Vietname, Colin Powell tornou-se o primeiro conselheiro de segurança nacional negro, durante o final do mandato do Presidente Ronald Reagan, no final da década de 1980. Depois, tornou-se também no mais novo e no primeiro afro-americano a liderar as Forças Armadas (um cargo que em Portugal é ocupado pelo Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas) durante a Guerra do Golfo (1990-91).

Em 2001, Colin Powell foi nomeado secretário de Estado na Administração de George W. Bush, assumindo, por isso, um papel decisivo durante a luta contra a terrorismo que se seguiu aos atentados de 11 de setembro desse ano. Assumiria um papel central em 2003 durante a invasão norte-americana no Iraque, quando os Estados Unidos entraram em Bagdade para derrubar o regime de Saddam Hussein, utilizando a justificação, que se viria a revelar falsa, de que o país possuía armas de destruição maciça.

Colin Powell cumpriria apenas um mandato enquanto secretário de Estado, apesar de George W. Bush ter sido reeleito em 2004. No ano seguinte, Powell foi substituído no cargo por Condoleezza Rice.

Do Harlem ao papel na invasão do Iraque , até às críticas a Donald Trump

Colin Luther Powell nasceu a 5 de abril de 1937, no Harlem, em Nova Iorque, filho de imigrantes jamaicanos. Depois de crescer no sul do Bronx, estou no City College, em Nova Iorque, começando a ganhar interesse pela carreira militar. Entraria para o exército norte-americano em 1958, depois de acabar os estudos, e nos dois anos seguintes serviu no sul do Vietname, onde foi ferido em combate duas vezes, incluindo uma situação de queda de um helicóptero, enquanto tentava resgatar outros dois soldados.

A experiência no Vietname marcaria decisivamente Colin Powell, que desde então foi subindo progressivamente no exército. Entre 1989 e 1993 desempenhou o cargo de Chefe do Estado-Maior do exército, com papel de destaque na invasão do Panamá, em 1989, e na primeira Guerra do Golfo, nos dois anos seguintes.

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Colin Powell acabaria por arrepender-se da invasão do Iraque, e diz que tentou avisar George W. Bush das consequências

O desempenho do general de quatro estrelas, que já tinha trabalhado com Ronald Reagan e George H.W. Bush, fez com que fosse apontado como um potencial candidato do Partido Republicano às presidenciais de 1996, mas tal não viria a acontecer. Quatro anos depois, no entanto, Powell assumiria um lugar central na Administração de George W. Bush, embora o seu mandato tenha ficado pela defesa da invasão do Iraque.

Em fevereiro de 2003, Colin Powell compareceu perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas acusando Saddam Hussein de possuir armas químicas e de estar a desenvolver armas nucleares, informação que, alegadamente, tinha sido transmitida pelos serviços de informação, com base em testemunhos de desertores iraquianos.

As Nações Unidas não aprovaram a invasão do Iraque, o que não demoveu os Estados Unidos, com o apoio de Espanha e do Reino Unido, numa cimeira na Base das Lajes, nos Açores, de decidirem prosseguir com a operação militar que mudaria não só o Iraque como o resto da região.

Um ano depois, em 2004, a CIA concluía que Saddam Hussein tinha destruído as últimas armas de destruição maciça iraquianas na década anterior. Colin Powell admitiria anos depois o seu arrependimento. “Lamento agora porque a informação estava errada, claro que sim”, disse Powell numa entrevista a Larry King, na CNN, em 2010. “Mas sempre serei visto como aquele que expôs o caso perante a comunidade internacional”, acrescentou o ex-secretário de Estado, referindo que tentou alertar Bush das consequências da invasão, embora, no final, tenha dado o seu apoio ao Presidente.

Apesar de ser uma figura muito respeitada dentro do Partido Republicano, Powell manifestou publicamente o seu apoio à candidatura presidencial do democrata Barack Obama em 2008, no seu primeiro mandato. Foi também um crítico de Donald Trump quando este foi o nomeado republicano em 2016, ano em que apoiou Hillary Clinton na corrida à presidência. Quatro anos depois, ainda mais desiludido com o rumo do Partido Republicano sob a égide de Trump, apoiou Joe Biden.

“Será impossível substituir o general Colin Powell”. As reações à morte do “favorito dos presidentes”

Um dos primeiros a reagir à morte de Colin Powell foi o ex-Presidente George W. Bush. “Foi um grande servidor público, começando como soldado durante a guerra no Vietname. Muitos presidentes confiaram nos conselhos e na experiência do general Powell”, afirmou em comunicado George W. Bush, momentos depois do anúncio da morte de Colin Powell, um homem “muito respeitado” nos Estados Unidos e no estrangeiro. Para Bush, Powellowell era “o favorito dos presidentes”.

Já Dick Cheney, vice-presidente durante a Administração de George W. Bush, destacou a “carreira notavelmente distinta” de Colin Powell, com quem teve a “sorte de trabalhar”. “Colin foi um pioneiro e modelo para muitos: filho de imigrantes que se tornou conselheiro de segurança Nacional, chefe das Forças Armadas e secretário de Estado”, destacou Cheney, em comunicado citado pelo Washington Post.

O atual Presidente dos Estados Unidos recordou o “amigo”, descrevendo-o como um “patriota de honra e dignidade incomparáveis”. Apesar de admitir ter havido alguns desacordos entre os dois, o antigo general é lembrado por Joe Biden como “alguém que deu o seu melhor” e que “corporizou os maiores ideias de guerreiro e diplomata”. 

Não tendo feito uma referência à guerra do Iraque, Biden refere que Powell vai ter um “lugar privilegiado na história” por ter um “compromisso pessoal aos valores democráticos”. “Ele colocou o país antes de si, antes do partido, antes de tudo e com isso ganhou o respeito universal do povo americano.”

“Acima de tudo, Colin era meu amigo. Fácil de partilhar uma gargalhada com. Um bom confidente nos bons e nos maus momentos”, refere o Presidente norte-americano.

Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico que chefiou o governo do Reino Unido durante a invasão do Iraque, referiu-se a Colin Powell como uma “figura de destaque na liderança militar e política da América ao longo de muitos anos”. “Inspirou lealdade e respeito. A sua vida é um testamento não apenas ao serviço público, mas também à forte crença na vontade de trabalhar para lá das divisões partidárias ao serviço dos interesses do seu país”, acrescentou Blair, citado pelo The Guardian.

Já o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, recordou o seu “mentor” e disse que é impossível substituir Colin Powell. “Será impossível substituir o general Colin Powell. Ele foi um grande amigo pessoal e mentor para mim, e há agora um vazio no meu coração quando penso na sua perda. Os meus pensamentos e orações hoje estão com a sua família, e quero que saibam que sentirei muito a sua falta”, disse Austin numa publicação partilhada no Twitter.

“Hoje, a nação perdeu um homem de uma coragem destemida e uma campeão de caráter”, escreveu no Twitter o republicano Mitt Romney, que concorreu à presidência contra Barack Obama em 2012, considerando Colin Powell “um estadista e pioneiro, dedicado à América e à causa da liberdade”.

O secretário de Estado norte-americano Antony J. Blinken recordou Colin Powell como um “líder extraordinário” e um “grande homem”, sendo um modelo para o corpo diplomático.

No que diz respeito a Barack Obama, o ex-Presidente escreveu na sua conta pessoal do Twitter que Colin Powell “percebeu o que era melhor para o país e tentou trazer a sua própria vida, carreira e declarações públicos a esse ideal”.

Num comunicado, Obama referiu que Colin Powell foi “um soldado e patriota exemplar”, estando à frente de alguns “eventos com mais consequências” das nossas vidas. “Ajudou uma geração de jovens a almejar mais. Nunca recusou o papel que a raça iria colocar nos seus limites”, frisou o ex-Presidente, acrescentando que a maneira de que o antigo secretário de Estado viu o mundo tornou-o numa “figura central” da política norte-americana.

A nível pessoal, Obama destaca a estima pessoal que tinha pelo antigo general, lembrando a tomada de posse enquanto Presidente em 2008.

Santos Silva diz que Colin Powell sempre cultivou “bom relacionamento com Portugal”

O ministro dos Negócios Estrangeiros lamentou a morte do general norte-americano Colin Powell, recordando-o como um “grande chefe militar” e posteriormente um secretário de Estado que sempre cultivou um bom relacionamento com Portugal.

“O general Colin Powell foi um grande chefe militar norte-americano e foi, depois, um secretário de Estado que sempre cultivou, aliás, um bom relacionamento com Portugal, e sempre compreendeu a importância da aliança bilateral entre os Estados Unidos e Portugal, em particular a função estratégica dos Açores e da Base das Lajes nessa aliança”, declarou Augusto Santos Silva de acordo com a Agência Lusa.

O ministro, que falava no final de uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia (UE), no Luxemburgo, durante a qual os 27 foram informados da morte do general norte-americano, admitiu que a carreira de Colin Powell também ficou marcada, como o próprio reconhecia, pela sua intervenção no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2003 a defender a invasão do Iraque, devido à suposta existência de armas de destruição em massa, que se revelou mais tarde falsa, mas preferiu neste momento destacar “os méritos”.

“A hora da morte não é propriamente a hora de nós salientarmos as divergências, mas sim de salientarmos os méritos e as convergências”, afirmou o ministro.

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