Era o primeiro concerto de Irma, cantora e amiga de Carolina Deslandes, no Porto, onde ia apresentar o seu álbum de estreia Primavera. É com a cantora, já a atuar no palco, que começa o vídeo, partilhado no stories do Instagram de Carolina. O que parece ser um apontamento do concerto de 21 de outubro, no bar Hot Five, rapidamente se transforma noutra coisa. Com a câmara a apontar para si, a cantora de “A vida toda” começa a narrar o que aconteceu na noite de quinta-feira, altura em que lhe roubaram a mala, o casaco e uma caixa com uns ténis dentro do bar onde chegou a partilhar o palco com Irma.
No final da noite, Carolina Deslandes ainda teve um desentendimento com o proprietário do bar que terá ficado gravado nas câmaras de segurança. Com apenas as imagens, poderia ser contada qualquer história e foi esse um dos motivos que levou a cantora a detalhar publicamente tudo o que aconteceu naquela noite, como explica no vídeo.
O Observador contactou o bar Hot Five que, em resposta enviada por email, diz ter “seguido com uma queixa na polícia do roubo dos pertences da Carolina Deslandes e entrega das respetivas filmagens das câmaras de segurança”. Na mesma resposta, descarta qualquer responsabilidade pelo sucedido.
“Foi a primeira vez que isto me aconteceu”, começa por dizer a cantora, que afirma que em mais de 8 anos nunca se queixou no Instagram de ter sido maltratada num concerto. “Ontem fui cantar ao Hot Five, o clube de Jazz no Porto, na Boavista, com a Irma, a custo zero”, acrescenta, frisando que foi pela sua amiga.
“Cheguei para fazer o ensaio de som, na sala de espetáculos, e pousei as minhas coisas na cadeira. Fiz o ensaio de som e a seguir fomos maquilhadas e penteadas na casa de banho. Eu disse à Irma que não ia estar a levar as minhas coisas, ia deixá-las ali.” Carolina Deslandes conta que o clube ainda estava fechado, não tinham aberto as portas e que a casa de banho “é para aí a 25 passos da sala e não estava lá ninguém”.
“Sou maquilhada, penteada, as equipas regressam do jantar. Eu e a Irma não fomos porque ficamos a preparar-nos para o concerto, e começo a pedir as minhas coisas” à produção, recorda. É nesse momento que se apercebe que os seus pertences desapareceram: o casaco, a mala e uma caixa com um par de ténis.
O proprietário do bar diz-lhe que tem câmaras de vigilância, mas entre essa afirmação e o visionamento das imagens passam cerca de duas horas, segundo a cantora, já que a prioridade foi abrir as portas para dar início ao concerto agendado para as 21h30.
“Se tenho um artista que é assaltado dentro da minha casa e digo que tenho câmaras de segurança, o que é que faço? Antes sequer de pôr alguém lá dentro, vou verificar as câmaras para perceber se foi um roubo ou o que aconteceu”, frisa a artista.
As imagens — que Carolina Deslandes partilha no Instagram — mostram que se tratou de um assalto. “Alguém entrou pela porta do lado da sala que estava aberta — e que foi deixada aberta pela equipa da Irma, sim — mas têm de perceber que para alguém chegar àquela porta teve de trepar um portão de quatro metros que estava tapado por um carro e andar um corredor. Alguém deveria ter adivinhado que aquela porta poderia estar aberta e arriscar trepar um portão.”
Por tudo isto, considera que tudo é “profundamente rebuscado” e decidiu que, no dia seguinte, iria à polícia apresentar queixa.
Quando vou ver o vídeo, vejo uma pessoa que entra com toda a calma dentro da sala, uma sala onde estavam guitarras caríssimas, onde estavam milhares de coisas, olha para um casaco, uma mala e uns ténis e leva-o com a maior das calmas.”
Esse pormenor, deixou a cantora ainda mais de sobreaviso. “Fico a pensar: uma pessoa que trepa um portão, que apanha uma brecha de porta aberta, quer roubar umas coisinhas? Vai estar com a calma de quem passeia num parque? Não me cheirou bem esta história, mas era o concerto da minha amiga e eu não o queria estragar.”
O resto da noite seguiu e Carolina Deslandes diz que, apesar de frustrada por ter sido roubada, o seu objetivo era seguir para casa e descansar. Foi no momento da saída, quando ela e os amigos pagavam a conta, através dos cartões de consumo (que a cantora não tinha por ter entrado antes de o bar abrir para fazer o soundcheck) que se sentiu maltratada pelo proprietário.
“Chegamos à porta, eles entregam os cartões deles e eu não tinha cartão, porque eu estava lá desde a tarde, estive lá a cantar e ninguém me deu cartão. Pagamos a conta do cartão de consumo, que ainda foi uma conta fixe e ele está atrás da caixa a ver-nos a pagar a conta, a conversar sobre o sucedido.” Depois disso, já fora do bar, o grupo é abordado por uma funcionária do bar.
“Eis se não quando a funcionária, que estava ao lado dele quando pagamos a conta, vem a correr atrás de nós até ao fundo da rua. ‘Peço imensa desculpa mas vou ter de verificar se todos vocês me entregaram os cartões’. Ele mandou a miúda atrás de nós para ver se tínhamos pago tudo, se alguém tinha fugido. Isso por si só para mim já é ofensivo, agora, acabo de pagar a conta à tua frente, entrego os cartões à tua frente, não foi uma coisa de cinco minutos, estás-me a ouvir e mandas a tua funcionária atrás de mim ao fundo da rua depois de ter sido gamada aí dentro? De não me teres dirigido a palavra? De não teres chamado a polícia? Ainda estou a ser acusada de roubar, era o que me faltava. Aí mexeu com a minha sanidade mental”, relata Carolina Deslandes.
Regressou ao bar, confrontou o proprietário e perdeu a calma, assume, tendo gritado com a pessoa em causa, tudo imagens que terão ficado também gravadas nas câmaras de vigilância. “Falei alto, estava nervosa com legitimidade, estava revoltada com a situação”, acrescenta. “Berrei com o homem e ele em momento nenhum pediu desculpa.”
Para Carolina Deslandes, tudo o que aconteceu “é inadmissível desde o momento um” e terá dito isso mesmo ao dono do bar, acusando-o de não ter vergonha na cara, já que o “vídeo do assalto está muito mal contado”.
Na resposta enviada ao Observador, o bar Hot Five diz que a sua equipe tentou perceber o que aconteceu: “Não descansamos enquanto não desvendamos o mistério do desaparecimento dos seus pertences e apanhámos o ladrão nas câmaras. Quanto às restantes acusações que a própria nos faz são mentira e temos os vídeos das mesmas câmaras de vigilância que o comprovam. Temos 16 anos de história e com credibilidade no mercado.” Na mesma nota, sublinha-se que o evento foi responsabilidade da produtora Casulo — “que já se mostrou responsável por ter deixado as portas abertas durante a tarde o que permitiu a entrada do larápio” —, a quem o Hot Five alugou as instalações.
(notícia atualizada às 18:52 com a resposta do bar)