“Há alguma latência, são os problemas de videoconferências”. Mais do que uma vez, o jornalista que falou com Chris Cox, o diretor de operações do Facebook (que agora chama à casa-mãe Meta), gracejou esta frase entre perguntas ao executivo que apareceu num ecrã no palco da Web Summit. Ironicamente, Cox estava a defender um futuro no qual o Facebook quer que estejamos submersos numa realidade virtual que está a construir e que envolverá os seus milhares de milhões de utilizadores. Apesar de otimista, o funcionário de topo da Meta, assumiu sobre o Facebook: “Não somos perfeitos”.
Web Summit. Chris Cox, do Facebook, também só vai participar remotamente
Na segunda-feira, Frances Haugen, a antiga funcionária do Facebook que denunciou alegadas práticas maliciosas das marcas de Mark Zuckerberg, líder da Meta, esteve no evento presencialmente a acusar novamente a empresa, e Cox teve de falar sobre o tema. “Estes são assuntos que levamos super a sério”, referiu. Mesmo assim, afirma que o público deixou de olhar para o que a Meta tem feito para “proteger as pessoas”.
Segundo Cox, o Facebook tem os “melhores empregados a trabalhar para manter as pessoas seguras”. Quanto a muitos destes funcionários estarem a revelar documentos internos da empresa, o executivo esquivou-se à questão e, ao invés, deixou uma mensagem a quem trabalha na empresa: “O vosso trabalho é importante”. Depois, continuou a defender o Facebook. “Acho que devemos ter estas conversas”, disse ao afirmar que a Meta está a querer resolver as controvérsias nas quais está envolvida.
Pelo meio da conversa foram existindo problemas de som e de vídeo que dificultaram o acompanhamento da presença à distância de Cox. Apesar da plateia do Altice Arena estar bastante composta, a certo momento as bancadas superiores do fundo do evento estavam mais entretidas a ligar e desligar as lanternas dos smartphones do que a acompanhar a conversa do palco — algo que Cox não pôde ver por estar a falar através de um ecrã. Contudo, foi sempre respondendo às questões do jornalista dizendo que a Meta é o início de um mundo no Metaverso, um futuro em que a barreira entre o digital e o real será mais ténue.
[Abaixo, o momento durante a conversa de Cox em que as bancadas superiores começam a ligar e desligar as lanternas]
Chris Cox is “at” the #WebSummit to “unveil the metaverse”. If he was physically in the room he’d know the crowd is not listening at all and also flashing lights at him. But he doesn’t know that because he’s remote. The metaverse! Incredible. pic.twitter.com/nguChzXBjd
— Ryan Broderick (@broderick) November 3, 2021
De acordo com Chris Cox, o Facebook pode ter falhado, mas tem investido para resolver os problemas que têm aparecido. A título de exemplo, o diretor de operações referiu o Oversight Board (Quadro de Supervisão), que supervisiona algumas decisões de liberdade de expressão da empresa mais delicadas. “Temos de criar contrapesos destes e mais regulação”, defendeu.
O metaverso “não vai começar pelas conversas sérias” e a defesa do amigo Zuckerberg
Quando questionado sobre o metaverso, a ideia que dá lugar à mudança de nome do Facebook para Meta, Cox referiu que a empresa está a “tentar começar uma conversa”. Aludindo às imagens “cartoonescas” que Zuckerberg mostrou na semana passada para mostrar a ideia, Cox acrescentou que, no entanto, o metaverso não vai “começar pelas conversas sérias”.
Afinal, Nick Clegg, vice-presidente do Facebook, não veio à Web Summit
No fundo, o executivo repetiu a ideia que o presidente executivo da empresa tem defendido: para já, o Facebook está a mostrar aquilo que o metaverso pode ser e quer começar desde o início a falar sobre isso. “Não se falava super a sério das redes sociais em 2006, não nos levaram a sério”, disse quanto à conversa que a empresa está agora a criar.
[A Meta/Facebook do futuro] Não deve substituir a vida real, não deve. Eu espero que não, não vou construir um produto para isso”, disse Cox.
Por fim, Cox foi questionado sobre o papel de Zuckerberg na empresa, ao que disse que o amigo “é um fazedor [builder, em inglês]”. “Como muitas das pessoas na audiência certamente serão”, continuou por dizer ao defender o líder da Meta.
Cox apareceu na Web Summit um dia depois de Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais da Meta (que também é dona do Instagram e do WhatsApp), ter também aparecido remotamente no evento. A seguir à apresentação de Cox subiu presencialmente ao palco a jornalista do New York Times Cecilia Kang, que voltou a afirmar aquilo que já tinha referido em entrevista ao Observador: “O Facebook está focado no crescimento, em viciar”, criticando a conversa de Cox.
Zuckerberg e Sandberg “estão horrorizados pelos danos que o Facebook causou”
A Web Summit arrancou na segunda-feira novamente em formato presencial depois de um ano em que foi totalmente online. Até quinta-feira, ainda passarão pelo Altice Arena e pela FIL nomes como Tim Berners-Lee, inventor da Web. Esta quarta-feira, contou também com a presença de Marta Temido, ministra da Saúde. No evento de abertura, estiveram presentes, além da denunciante do Facebook Frances Haugen, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira. Este ano, devido à pandemia de Covid-19, há várias restrições.
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