No final do primeiro encontro com o AC Milan, no Dragão, Sérgio Conceição tinha falado numa exibição a roçar a perfeição mas que tinha pecado na finalização. Nesse dia não fez muitas mais considerações, até por saber que os números contavam melhor a história do que mil palavras, mas não perdeu a oportunidade de voltar ao tema na conferência seguinte, na antecâmara da deslocação a Tondela, entre a crítica velada por ter ouvido uma nova questão sobre o momento de Luis Díaz e os interesses gerados.

FC Porto empata em Milão e sobe ao segundo lugar do grupo com mais um ponto do que o Atl. Madrid

“Pois, a primeira pergunta foi mais de bola, sobre o Tondela… Não sei se vocês fazem o favor de comentar a forma como nós entrámos no jogo com o AC Milan, a questão da pressão sobre o nosso adversário, de como fizemos essa pressão, de onde quisemos roubar a bola ao AC Milan, o que é que vamos agora preparar contra o Tondela… Vocês vão mais pela questão do pestanejar, do levantar o braço, mais essas questões… Os tubarões… Por isso é que comecei logo por responder a essa”, atirou de cara descontraída mas falando muito a sério sobre um encontro que entrará nos melhores que fez a nível europeu desde que assumiu o comando dos azuis e brancos e levou a equipa em duas temporadas aos quartos da Champions.

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O encontro do AC Milan em Roma este domingo mostrou o porquê dessa quase “vaidade” do treinador dos portistas na análise ao encontro frente aos transalpinos, com os rossoneri a vencerem o conjunto de José Mourinho por 2-1 e a manterem a liderança partilhada da Serie A com o Nápoles tendo dez vitórias e um empate. É que, olhando para a classificação na Champions sem pontos, a tendência poderia remeter para uma análise mais enquadrada com aquilo que a equipa era antes da chegada de Stefano Pioli mas este conjunto atravessa uma fase de amadurecimento como aquela que levou o Inter ao título no ano passado. Ou seja, mais do que repetir a fórmula, o desafio do FC Porto era encontrar outra estratégia para a vitória.

“O plano de jogo é definido, a estratégia também. Tirámos ao AC Milan o que gostam tanto de fazer e vimos como a Roma se sentiu desconfortável com o AC Milan a ter muita bola no meio-campo ofensivo, o jogo pelos corredores laterais. Os alas por vezes estão muito em cima dos centrais e fica difícil contrariar. Quanto mais longe estivermos da nossa baliza melhor é, e foi o que se passou aqui no Dragão. O plano de jogo tem a ver com esses pontos fortes do adversário e com aquilo que nós somos: não sou muito de mudar tudo o que são os princípios da equipa em função de um adversário, apesar de já o ter feito, por exemplo contra o Manchester City”, explicara Sérgio Conceição antes da partida de San Siro.

Uma vitória em Milão seria um passo importante rumo ao apuramento para os oitavos, uma derrota dava ainda maior ênfase ao que poderia fazer o Atl. Madrid em Anfield frente ao Liverpool. “Vida ou de morte? Os jogos de futebol são sempre de vida, sempre de alegria. Temos de ser inteligentes a nível emocional, nos 15/20 minutos iniciais, que nestes ambientes é sempre difícil. Temos de saber jogar com isso, entrar da mesma forma ou mais fortes que o adversário, com a mesma agressividade, pausar o jogo quando temos de pausar, mas não acho que temos de abordar o jogo de forma diferente pensando neste ou noutro resultado”, ressalvou. Mas as coisas até começaram a correr logo da pior forma no aquecimento.

Ainda em dúvida depois do problema muscular sofrido na goleada frente ao Boavista, que o levou a sair mais cedo na segunda parte, Uribe ainda apareceu como titular, iniciou os habituais exercícios mas acabou por ressentir-se da lesão, dando lugar a Grujic num meio-campo que mudava por completo no corredor central depois da troca de Vitinha por Sérgio Oliveira. E o médio acabou por ser a grande figura do jogo, com uma exibição fabulosa que quase fez um prolongamento dos comentários de Sérgio Conceição perante a reação do sérvio à derrota na Taça da Liga com o Santa Clara: “O Grujic está um filósofo incrível. É por aí, ele tem razão. Não sou muito adepto das redes sociais mas se ele disse isso acho interessantíssimo. Acho que é uma frase à Pedroto. Aqui ou se ganha ou se aprende, é verdade”. Só faltou mesmo ganhar.

Ficha de jogo

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AC Milan-FC Porto, 1-1

4.ª jornada do grupo B da Liga dos Campeões

Estádio de San Siro, em Milão

Árbitro: Clément Turpin (França)

AC Milan: Tatarusanu; Calabria (Kalulu, 46′), Romagnoli, Tomori, Theo Hernández; Tonali (Kessié, 68′), Bennacer; Saelemaekers, Brahim Díaz (Krunic, 68′), Rafael Leão (Daniel Maldini, 85′) e Giroud (Ibrahimovic, 76′)

Suplentes não utilizados: Mirante, Jungdal, Kjaer, Bakayoko e Gabbia

Treinador: Stefano Pioli

FC Porto: Diogo Costa; João Mário, Mbemba, Pepe, Zaidu; Grujic, Sérgio Oliveira (Vitinha, 73′); Otávio (Pepê, 85′), Luis Díaz (Bruno Costa, 79′); Taremi (Toni Martínez, 85′) e Evanilson (Bruno Costa, 79′)

Suplentes não utilizados: Marchesín, Fábio Cardoso, Corona, Wilson Manafá, Nanu e Fábio Vieira

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Luis Díaz (6′) e Mbemba (61′, p.b.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Stefano Piolo (28′), Grujic (49′), Tomori (55′), Mbemba (65′),Vitinha (73′) e Francisco Conceição (90+2′)

Sérgio Conceição tinha pedido especial atenção aos 15/20 minutos iniciais, sabendo da previsível estratégia dos rossoneri em assumir a partida desde o arranque, e foi nesse período que os dragões tiveram um jogo carregado de ADN FC Porto, marcando aquele que foi o golo mais rápido da temporada e beneficiando de mais duas excelentes oportunidades para dilatar o marcador: Luis Díaz inaugurou o marcador com um remate cruzado na área após um roubo de bola a Bennacer e consequente assistência do médio Grujic (6′); o mesmo Luis Díaz ganhou as costas de Tomori após um lançamento de Zaidu mas o passe atrasado para Otávio terminou com um remate por cima (10′); e Grujic, na sequência de um livre lateral do lado direito marcado por Sérgio Oliveira ao segundo poste, desviou de cabeça para grande defesa de Tatarusanu (16′).

A defesa visitada tremia por tudo o que era sítio sem Kjaer (no banco), Tonali tinha de ir buscar bola quase atrás dos centrais numa primeira fase de construção demasiado recuada, Saelemaekers e Rafael Leão nas alas continuavam sem bola, não havia ligação entre setores e o FC Porto conseguia sete ações defensivas no meio-campo contrário só em 20 minutos. Ou seja, nem o AC Milan aprendera muito com o que se passara no Dragão, nem os azuis e brancos tinham mudado o chip para ir à procura do jogo em vez de esperar que o jogo os encontrasse. Nas bancadas ouviam-se assobios, no campo os jogadores rossoneri discutiam uns com os outros, pelo meio Tatarusanu mantinha o 1-0 com outra defesa a remate de Grujic (26′).

O líder da Serie A tentava sair de uma meia hora falhada mas só mesmo com os (raros) erros portistas na zona do meio-campo ia conseguindo algo mais que não fosse ser uma equipa banalizada pelo FC Porto e foi isso que aconteceu no primeiro remate à baliza dos dragões, com Giroud a receber na sequência de uma transição por perda de bola de Sérgio Oliveira e a rematar em jeito de pé esquerdo de fora da área para grande defesa de Diogo Costa (33′). Essa seria mesmo uma exceção no completo domínio e controlo dos portistas com e sem bola, tendo Luis Díaz como um autêntico diabo à solta no ataque e Grujic a fazer de longe o melhor jogo desde que chegou ao Dragão, como voltou a demonstrar num lance em que recuperou fintou, ganhou e passou de calcanhar antes de um remate de Sérgio Oliveira por cima (45+2′).

Pioli mexeu apenas ao intervalo por questões físicas, tirando o lateral Calabria, que saíra lesionado para os balneários, e lançando Kalulu. Apesar disso, o técnico começava já a falar com Zlatan Ibrahimovic tendo em contra possíveis mexidas caso o resultado e o próprio rumo do encontro não mudassem. Foi isso mesmo que aconteceu: o AC Milan teve mais Tonali no jogo (e a jogar mais metros à frente), encontrou Rafael Leão pela primeira vez num lance em que o avançado português estava fora de jogo mas foi o FC Porto a ameaçar mais uma vez o segundo golo, desta vez num lance aéreo em que Pepe amorteceu ao segundo poste de cabeça e Evanilson viu o desvio bater no poste (57′). Pelo chão ou pelo ar, os dragões dominavam e só mesmo com muito azar à mistura acabaram por consentir o empate quando voltavam a criar perigo.

Na sequência de um livre de Bennacer que ficou na barreira para remate de Giroud e defesa para o lado de Diogo Costa, Kalulu conseguiu colocar a bola entre as pernas de Diogo Costa e Mbemba desviou de forma infeliz para a própria baliza (61′), lançando a equipa para os únicos minutos em que o AC Milan conseguiu ter mais capacidade pelo aditivo anímico que veio do resultado. No entanto, e mais uma vez, o FC Porto teve o condão de se equilibrar de novo, voltar a ter posses mais longas e beneficiou de outra boa oportunidade para se recolocar na frente, com Luis Díaz a insistir na área rossoneri após cruzamento, a colocar a bola nos pés de Taremi mas o remate do iraniano a sair por cima da baliza de Tatarusanu (72′).

O encontro podia cair para qualquer um dos lados, mesmo com essa preocupação de AC Milan e FC Porto em nunca deixar partir em demasia a partida por forma a que se transformasse numa total anarquia mas as substituições acabaram por congelar essas investidas ofensivas, havendo apenas um lance de maior perigo no último quarto de hora quando Ibrahimovic ainda marcou mas o golo foi anulado por fora de jogo no início da jogada de Theo Hernández (83′). Quando já não conseguiam ganhar, os dragões jogaram bem para também não perder. E o ponto em San Siro, sabendo a pouco, pode ser muito importante no futuro.