O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, reiterou esta quarta-feira a sua preocupação face ao conflito interno etíope e pediu ao governo e à oposição que dialoguem para encontrar uma “solução pacífica” que interesse ao país.
Num comunicado, o presidente da União Africana (UA) afirmou que “acompanha com profunda preocupação a escalada do confronto militar” e espera que “todas as partes a salvaguardem a integridade territorial, a unidade e a soberania nacional do país”.
Moussa Faki Mahamat recorda que já em 9 de novembro de 2020 tinha pedido que os interesses do país se sobrepusessem a este conflito interno.
Assim, o presidente “apela à cessação imediata das hostilidades, ao pleno respeito pela vida e propriedade dos civis, assim como às infraestruturas estatais”. E pede que acabem os “atos de represália contra qualquer comunidade, e para que se abstenham de proferir discursos de ódio e de incitar à violência e à divisão”.
Segundo Mahamat, o governo e a oposição têm “obrigações internacionais relativamente ao cumprimento do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, com particular atenção à proteção dos civis e à garantia de acesso à assistência humanitária por parte das comunidades necessitadas”.
A União Africana (UA) mantém-se empenhada em “trabalhar com as partes” para se chegar “a um processo político consensual” e podem continuar com o apoio do Alto Representante da UA para o Corno de África, e ex-presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo.
Na terça-feira, o Conselho de Ministros da Etiópia anunciou um estado de emergência com efeito imediato e por um período de seis meses (prorrogável, se necessário) para, segundo o governo, controlar as forças rebeldes e evitar a desintegração do país.
Esta declaração veio depois do LTTE (Tigres de Liberação do Tamil) ter anunciado entre sábado e segunda-feira que iria tomar as cidades de Dessie e Kombolcha, ambas localizadas em Amhara, uma região a sudoeste de Tigray e a menos de 400 quilómetros da capital etíope, Adis Abeba.
Um grupo rebelde da etnia Oromo, aliado da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla original), que está a combater tropas do Governo no norte do país, anunciou hoje que a conquista da capital, Adis Abeba, “é uma questão de meses, se não de semanas”.
A guerra entre o Tigray e o executivo central da Etiópia estalou a 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope ordenou uma ofensiva contra o LTTE como retaliação por um ataque a uma base militar federal e na sequência de uma escalada de tensões políticas.
Desde então, milhares de pessoas foram mortas, cerca de dois milhões foram deslocadas internamente em Tigray e pelo menos 75.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.
Além disso, quase sete milhões de pessoas enfrentam uma “crise de fome” devido à guerra, alertou o Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU.