Rui Rio está disposto a alterar todo o calendário do PSD para disputar eleições internas mais cedo. Mesmo sem avançar com uma data em concreto, o líder social-democrata deixou um desafio aos seus críticos: se a falta de tempo para preparar o partido para ir a legislativas é um problema, pois que se faça tudo mais cedo.
“Vou fazer um exercício para comprimir isto tudo de modo a fazer diretas e congresso para não dizerem que fujo de eleições e que democracia está suspensa”, anunciou o líder do PSD em entrevista à TVI.
Para que a antecipação das diretas fosse aprovada, Rui Rio teria de conseguir fazer passar a proposta no próximo Conselho Nacional do PSD, agendado para sábado, em Aveiro. Ora, o líder social-democrata não tem maioria no órgão máximo do partido entre congressos pelo que, se dependesse apenas da vontade do presidente do PSD, a antecipação das eleições internas.
No entanto, Rio está a tentar usar a narrativa de Rangel contra o próprio: foi o eurodeputado quem pediu mais tempo a Marcelo para preparar o PSD para ir a votos nas legislativas, que margem tem agora para rejeitar o tempo que Rio lhe quer oferecer?
Antes da explicação e do volte-face, Rio fez as contas: “O PSD já perdeu outubro com estas guerras, vai perder o mês de novembro todo, enquanto o PS vai fazer campanha e os outros partidos também; a seguir vai perder o tempo todo de dezembro, com congresso e listas; e depois do Natal está livre e o PSD está apto para eleições no dia 2 de janeiro.”
Com um calendário praticamente impossível aos olhos do presidente do PSD, Rui Rio esforçou-se para pedir “ponderação” aos militantes e adversários e desenhou o cenário “ideal”: “Isto devia ser sem tumultos internos, todos unidos, todos focados para derrotar o PS no dia 30 de janeiro.”
“Estou numa missão, meti-me nesta missão e tenho obrigações. Estou a chamar a atenção para a balbúrdia que vai ser o PS preparar as eleições [a partir de novembro] e o PSD só em janeiro”, reiterou. Feitas as contas, Rio disse que “António Costa tem um mês e meio de vantagem sobre o PSD”.
O presidente do PSD disse mesmo que, ao contrário do advserário, está “adiantadíssimo” no que toca à preparação das eleições antecipadas por já ter conseguido construir uma estrutura dentro do partido. E até atirou que “a estratégia dos adversários não é muito inteligente” neste momento, uma vez que, caso o PSD perca as eleições, sabe que é um líder a prazo.
“Se eu for às eleições e não ganhar as eleições ou tiver um resultado igual ao que tive, posso ficar um mês, dois meses com o partido a ajustar-se às circunstâncias… Fico mais quatro anos à espera de novas eleições? Ou sou primeiro-ministro ou é a última eleição da minha vida”, assevera.
Consciente do trabalho feito e da dificuldade de quem pode vir a chegar à liderança do partido, Rio acredita que se o PSD estiver forte, os socialistas não ganham nas urnas: “Se o PSD fizer o que eu disse, o PS não ganha, está desgastado“, afirmou, acrescentando que o partido liderado por Costa “está em condições de perder” depois de ter visto um Orçamento do Estado chumbado.
Ainda sobre a adversidade que existe dentro do partido, Rio defendeu-se como o detentor da estratégia indicada para ir a votos, com uma postura low profile, principalmente quando se compara com o eurodeputado e dando aquilo que disse serem “factos” para o comprovar.
“Paulo Rangel vai às europeias e usa estratégia de atacar o Pedro Marques e António e teve 22%. A seguir vou com situação mais pausada, mais low profile, como deve ser, e tive 28%. Mais 6% em quatro meses. O CDS usa a mesma linguagem e a mesma forma que Paulo Rangel tinha usado e atirou com o CDS para os 4% ou 5%”, explicou o líder do PSD.
Antes, Rio tinha dito que os portugueses não escolhem quem dá mais nas vistas: “Os portugueses não votam para primeiro-ministro aquele que diz pior do primeiro-ministro em funções ou o que grita mais. Votam naquele que veem como um potencial primeiro-ministro e não em quem diz muito mal do outro.”
E se está num momento de pedir ponderação e calma aos “têm os nervos à flor da pele”, Rui Rio brincou ainda com a necessidade de bom senso, um “bem escassíssimo“. “Se estivesse no cabaz da inflação tínhamos inflação por 30%.”