Quando Bruno Lage assinou pelo Wolverhampton, nada foi propriamente uma surpresa: não foi uma surpresa para o público, já que a contratação era mais do que esperada; não foi uma surpresa para Bruno Lage, que voltou a Inglaterra depois de já ter sido adjunto de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e no Swansea; e não foi uma surpresa para o clube, que trocou de português depois dos quatro anos com Nuno Espírito Santo ao leme.
O início foi complicado, com o Wolverhampton a perder contra Leicester, Tottenham e Manchester United nas primeiras três jornadas da Premier League. A primeira vitória apareceu já em setembro, contra o Watford, seguiu-se mais um desaire frente ao Brentford mas, a partir dos três pontos conquistados com o Southampton, tudo mudou: nos últimos cinco encontros para a liga inglesa, a equipa de Bruno Lage somou quatro vitórias e um empate, mantendo-se na primeira metade da tabela e a um ponto de United e Arsenal.
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Com base nisso, e tendo em conta que uma das vitórias foi frente ao Everton, as exibições do Wolves têm recebido elogios por parte da opinião pública inglesa — maioritariamente de Jamie Carragher, o antigo internacional inglês do Liverpool que faz comentários na Sky Sports e escreve para o jornal The Telegraph. “Eles mereceram ganhar ao Everton. Foram superiores nos primeiros 30 minutos, de longe, e foi isso que lhes permitiu ganhar. Tenho ficado impressionado com eles desde o início da época. Esta é uma grande vitória, sem dúvida. Se olharmos para os primeiros jogos, frente ao Manchester United, ao Tottenham… Não tiveram aquilo que mereciam. Acho que as pessoas não têm prestado muita atenção ao Wolverhampton esta época. Este é um Wolves diferente, com outro treinador, também português, com o mesmo sistema tático, mas estamos a ver um Wolves diferente. E é inevitavelmente melhor de se ver, não há dúvidas sobre isso”, disse o antigo jogador no passado fim de semana.
Ainda assim, e mesmo com os resultados positivos a impulsionarem o otimismo, Bruno Lage recordou que ainda estamos em novembro e que o plantel do Wolverhampton não tem muitas soluções. “Por agora, não quero saber da classificação. O que eu quero são os pontos e 16 pontos para nós é muito bom. O inverno vai ser difícil para nós, temos um plantel curto, por isso precisamos de trabalhar arduamente para ganhar o máximo de pontos possíveis. Por isso, precisamos deste tipo de jogos”, explicou o técnico logo depois do encontro com os toffees.
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Este sábado, o Wolves deslocava-se a Londres para defrontar um Crystal Palace que ainda não tinha perdido em casa para a Premier League e que vinha de uma vitória surpreendente frente ao Manchester City, no Etihad. Lage lançava Trincão e Hwang Hee-chan no apoio a Raúl Jiménez, com Moutinho (que fazia o jogo 150 pelos ingleses), Rúben Neves e Nélson Semedo a serem também titulares, e deixava Podence, Fábio Silva, Dendoncker e Traoré no banco. Do outro lado, na equipa de Patrick Vieira, o destaque ia como quase sempre para Wilfried Zaha, que já leva três golos esta temporada.
A primeira parte em Selhurst Park terminou sem golos e praticamente sem nada: somaram-se um remate enquadrado para cada lado, cinco remates no total, quatro pontapés de canto e nenhum fora de jogo assinalado, algo que também demonstrava a ausência de profundidade do jogo. O Crystal Palace manteve uma superioridade ligeira, com mais bola e mais acerto no passe, mas as duas equipas estavam completamente encaixadas no meio-campo, não permitiam espaços no último terço e o jogo foi para o intervalo sem nada semelhante a uma oportunidade de golo.
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O jogo voltou para a segunda parte de forma semelhante, sem grande velocidade nem grandes aproximações à baliza, mas o Crystal Palace depressa começou a dar indicações de querer algo mais. Zaha caiu na grande área e ficou a pedir grande penalidade de Kilman, com o VAR a indicar que não existiu falta, e Kouyaté teve o momento mais perigoso do encontro até então com um remate que passou por cima da trave (56′). Já depois da hora de jogo, a equipa de Vieira acabou por conseguir mesmo capitalizar a superioridade e abriu o marcador: na conclusão de uma insistência, McArthur apareceu tombado na esquerda e desmarcou Zaha, que à saída de José Sá atirou cruzado para o fundo da baliza (61′). O golo ainda começou por ser anulado pelo árbitro assistente, por alegado fora de jogo do avançado, mas o VAR confirmou que o costa-marfinense estava em posição regular.
Bruno Lage respondeu com uma espécie de all in e tirou Trincão e Nélson Semedo para lançar Podence e Adama Traoré. A pouco mais de 20 minutos do fim, Aït-Nouri foi carregado em falta por Joel Ward na esquerda, o árbitro ainda assinalou grande penalidade mas voltou atrás depois de ouvir o VAR, que considerou que o francês foi derrubado fora da grande área. O lance seria uma espécie de milagre caído do céu para o Wolverhampton, já que a equipa continuava algo passiva, não conseguia criar oportunidades e começava a sofrer as dificuldades associadas ao facto de ter esticado os setores para a frente e de sobrar espaço atrás.
O Crystal Palace continuou a insistir e chegou mesmo ao segundo golo, com Conor Gallagher a atirar cruzado e a beneficiar de um desvio em Coady para enganar José Sá e aumentar a vantagem (78′). Até ao fim, João Moutinho ainda ficou perto de reduzir de livre direto, com o guarda-redes Guaita a evitar o golo com uma grande defesa (82′), e o resultado não voltou a alterar-se. Cinco jornadas depois, o Wolverhampton voltou a perder num jogo em que nunca conseguiu implementar o seu futebol e deixou um aviso a Bruno Lage: antes de estar preocupado com o inverno, o treinador terá de se preocupar com o fim do outono.
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