Passavam 45 minutos da meia-noite, já na madrugada de sábado em Portugal, quando o Barcelona deu o passo que se esperava desde a manhã. Com um vídeo que recordava a despedida de Camp Nou há seis anos, que lembrava as declarações, as lágrimas e as emoções da altura, o clube catalão anunciou finalmente e oficialmente que o nome do novo treinador se escreve com quatro conhecidas letras: Xavi.

“Estava destinado. Bem-vindo a casa”, limitou-se a dizer o Barcelona, horas depois de o Al Sadd já ter anunciado que o técnico ia deixar o Qatar e voltar à Catalunha. O negócio chegou a ter contornos de novela, já que os qataris terão oficializado a transferência quando ainda não existia acordo entre os dois clubes quanto ao pagamento da cláusula de rescisão e à frágil situação financeira dos catalães, mas tudo ficou sanado quando Xavi e o Barcelona decidiram pagar os cinco milhões de euros a meias. Os detalhes só serão totalmente conhecidos na segunda-feira, na apresentação do novo técnico, mas algo é certo: Xavi assinou até 2024, vai ser treinador dos blaugrana e cumpriu o sonho que nunca escondeu.

Mas Xavi, em teoria, só vai estrear-se no dia 20 de novembro, contra o Espanyol. Este sábado, em Vigo e perante o Celta, Sergi Barjuán fazia o terceiro jogo ao comando dos catalães e despedia-se do cargo de treinador interino — e também não escondia o sentimento agridoce. “Quando falas com o clube e decides aceitar o desafio, sabes que tens uma data de validade. Mas quando te dão um doce como este, claro que nunca gostas de o deixar. Mas estou feliz e falta o último passo. Temos de convencer os jogadores a serem tão corajosos como foram em Kiev”, explicou, recordando a partida contra o Dínamo Kiev, a meio da semana, onde os espanhóis derrotaram os ucranianos e aproveitaram a derrota do Benfica em Munique para subir ao segundo lugar do grupo da Liga dos Campeões.

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Em Vigo, o Barcelona encontrava uma equipa que estava apenas um ponto acima da zona de despromoção e procurava aproximar-se dos lugares cimeiros da liga espanhola antes da chegada de Xavi. Barjuán lançava Ansu Fati, Depay e Gavi no trio ofensivo, De Jong, Busquets e também Nico González no meio-campo e Eduardo Coudet, do outro lado, respondia com Iago Aspas, Denis Suárez e o ex-Benfica Nolito. O Celta até começou melhor, com mais bola nos instantes iniciais e uma grande oportunidade que Aspas desperdiçou na cara de Ter Stegen (2′), mas o Barcelona não demorou muito até demonstrar que o peso que parecia empurrar a equipa para baixo está a começar a desaparecer.

Ansu Fati abriu o marcador ainda nos primeiros cinco minutos, ao receber no corredor esquerdo, aproximar-se da grande área para fintar um adversário e atirar em jeito para o poste mais distante (5′). Antes de estarem cumpridos 20 minutos, Busquets fez um dos raros golos da carreira e aumentou a vantagem com um pontapé rasteiro de fora de área (18′), e Depay dilatou o resultado de cabeça (24′) na sequência de um cruzamento perfeito de Jordi Alba depois de um grande trabalho de Nico González. O Barcelona foi para o intervalo a ganhar confortavelmente e depois de uma primeira parte em que jogou muito e bem mas não deixou de receber mais uma má notícia: num dos últimos lances, Ansu Fati sofreu um problema muscular na coxa, saiu praticamente em lágrimas e ficou desde logo certo que já não regressaria para o segundo tempo.

Na segunda parte, Sergi Barjuán lançou Alejandro Baldé para o lugar de Ansu Fati mas também tirou Eric García para colocar Ronald Araújo. Do outro lado, Eduardo Coudet também mexeu e trocou Solari e Hugo Mallo por Fran Beltrán e Kevin Vázquez. O Celta Vigo voltou bem melhor do intervalo e criou desde logo duas oportunidades, com Araújo a evitar o desvio derradeiro de Tapia (48′) e Galhardo a marcar mas em posição de fora de jogo (50′). Adivinhava-se o golo e Iago Aspas não repetiu o erro dos primeiros instantes do encontro: na recarga a uma defesa incompleta de Ter Stegen, que empurrou para a frente depois de um remate de Javi Galán na esquerda, Araújo tentou aliviar em cima da linha e ofereceu o golo ao avançado espanhol, que só precisou de atirar para a baliza desprotegida (52′).

Por volta a hora de jogo, o Barcelona voltou a sofrer um revés com uma lesão de Nico González, que ficou magoado depois de um duelo e pediu para sair, sendo substituído por Riqui Puig. Franco Cervi, outro ex-Benfica, entrou no Celta a 25 minutos do fim e teve vista privilegiada para o golo anulado a Nolito (69′), com o árbitro a considerar que o espanhol dominou a bola com o braço, e tempo para cruzar para o avançado cabecear a contar e reduzir ainda mais a desvantagem (74′). Os catalães ainda estavam a ganhar mas não tinham o jogo controlado depois de terem caído em rendimento e qualidade na segunda parte — ainda que a incerteza sobre o resultado tenha sido mais mérito do Celta do que demérito do Barcelona, já que a equipa de Vigo apresentou uma cara totalmente distinta depois do intervalo e empurrou o adversário às cordas sem permitir sequer transições rápidas perigosas.

Sergi Barjuán ainda tirou Gavi para colocar Abde Ezzalzouli mas o filme de terror ia mesmo confirmar-se: ao sexto minuto de descontos, no derradeiro lance do jogo, Iago Aspas atirou cruzado e de primeira, de fora de área, para bisar, voltar a bater Ter Stegen e empatar a partida (90+6′). O Barcelona foi para o intervalo a ganhar por três golos de diferença e depois de uma exibição quase perfeita ao longo de 45 minutos mas voltou a demonstrar que não tem pulmão nem capacidade mental para aguentar uma vantagem. Voltou a não vencer fora de Camp Nou, já está a oito pontos da líder Real Sociedad e empatou na despedida de Barjuán e no olá a Xavi. Se há alguém que pode salvar este Barça, é Xavi — mas não será de um dia para o outro.