O antigo secretário de Estado norte-americano e especialista em política internacional, Henry Kissinger, considera que a relação entre os Estados Unidos e a China atravessa um momento de tensão que pode resultar num confronto militar direto.

“A relação evoluiu de uma parceria para uma cooperação, depois para a incerteza e agora para uma situação próxima da confrontação ou até mesmo já de um confronto real“, afirmou Kissinger, em declarações ao Financial Times.

O ex-representante da política externa da presidência de Richard Nixon, que liderou a política de aproximação entre EUA e China no início da década de 1970, teme que a situação possa deslizar para um conflito militar real à conta de um pequeno incidente — como aconteceu aquando do assassínio do arquiduque Francisco Fernando, que levou ao início da I Guerra Mundial. “Na ausência de diálogo, esperar que sejam tomadas decisões sábias por todas as partes é um ato de fé no futuro que não aceito”, afirmou.

As declarações de Kissinger surgem poucas semanas depois de o Presidente norte-americano, Joe Biden, ter feito uma série de afirmações críticas ao Estado chinês. Num evento da CNN, Biden disse claramente que os EUA têm um “compromisso” com a defesa de Taiwan, caso a China ataque diretamente a ilha, o que pode representar uma nova política norte-americana face à defesa de Taiwan. Para além disso, o Presidente norte-americano também criticou o Presidente Xi Jinping por não participar na cimeira para o clima em Glasgow.

Também foi esta semana que o Pentágono publicou o seu relatório anual de avaliação da política militar e de segurança chinesa. O documento diz que a China está a acelerar a sua produção de armamento nuclear e que o país pretende “reformular a ordem internacional de forma a alinhar-se melhor com o seu sistema autoritário e os seus interesses nacionais”.

O relatório aponta ainda para o desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial por parte de Pequim. Este é um ponto igualmente sublinhado por Henry Kissinger, que considera que os Estados Unidos não sabem o suficiente sobre as capacidades chinesas nesta área: “Temos de aprender sobre as capacidades de inteligência artificial deles, ao mesmo tempo que compreendemos que elas produzem um nível de incerteza mundial que faz com que seja muito difícil manter uma paz permanente — provavelmente será até impossível”, afirmou o ex-secretário de Estado.

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