Se no sábado do Grande Prémio do Algarve em MotoGP, que termina este domingo, já era muito o apoio a Miguel Oliveira, tanto na pista como na quantidade de gente equipada ou vestida com roupa e artigos alusivos ao português, em dia de corrida esse carinho sentiu-se ainda mais. E nem era preciso chegar ao Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, para sentir que os adeptos portugueses vinham para apoiar o jovem de 26 anos, independentemente do 17.º lugar na grelha conseguido na qualificação. Não foi certamente o resultado que os fãs queriam, muito menos Miguel Oliveira, mas este domingo era de apoio e festa, ou não fosse apenas à terceira vez em Portimão que o MotoGP tinha adeptos.

Longe e a caminho do autódromo, ao lado do trânsito que se fazia sentir pela manhã, viam-se algumas pessoas a pé, não só com roupa do do número 88 do circo da maior prova do motociclismo, como até grandes bandeiras para apoiar o piloto de Almada eram visíveis. Era dia de Miguel Oliveira, de MotoGP finalmente com as bancadas cheias, mas ainda também o dia de Valentino Rossi, na última passagem por Portugal e na penúltima corrida da carreira. Sem surpresas, o amarelo associado ao italiano era também uma das cores mais proeminentes nas bancadas, à semelhança do que aconteceu em todos os circuitos.

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Mesmo com os olhos e a esperança do lado do português, é verdade que as fases de qualificação não correram de feição a Miguel. Além de não conseguir o acesso à segunda fase de qualificação (Q2) logo à primeira, na Q1 não conseguiu fazer melhor. O piloto da KTM até entrou bem na Q1, com tempos rápidos e a rodar nos lugares da sessão (1.º e 2.º) que davam acesso à Q2. No entanto, seria logo ultrapassado por outros pilotos, que conseguiram tempos ainda melhores, empurrando então o português para o 17.º lugar da grelha.

Oliveira, que venceu em Portimão no ano passado, já tinha admitido dificuldades na sexta-feira, visto também não ter conseguido tempos famosos nas primeiras sessões de tempos livres. “Está a ser uma surpresa, depois da corrida da semana passada. Mas não estou a perder a confiança. É um bocado frustrante, mas temos de ter calma, reagir e não desistir, procurando fazer algo para nos apresentarmos melhor”, disse no dia antes das qualificações. Não se apresentou melhor, verdade, mas antes do arranque da prova portimonense havia mostrado confiança e disse aos portugueses (e demais adeptos do Falcão) que se sentia “muito bem”, também visto ser a “primeira vez que é possível sentir o público português”. “Espero que gostem, se divirtam e, no domingo, possamos celebrar algo”, frisou a meio da semana sobre a prova que esperava 60 mil pessoas.

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Mas, além do português e para lá de Rossi era importante relembrar que havia uma corrida pela frente, na qual o italiano Francesco Bagnaia ia começar na pole positionO piloto da Ducati, que caiu na última corrida, em Misano, Itália, viu o título ser alcançado pelo rival francês Fabio Quartararo, mas prometeu lutar para a vitória em Portugal e em Valência, Espanha, na última corrida. O recém coroado campeão do mundo partia apenas a sétima posição, mas havia muito espaço para uma nova luta a dois, ainda que Jack Miller (Ducati), da Austrália, ou o espanhol Joan Mir (Suzuki), campeão em 2020, por exemplo, pudessem atrapalhar a rivalidade.

Com estes a serem alguns dos motivos de interesse do Grande Prémio do Algarve, estava pronto o circo e o melhor que o motociclismo tem para oferecer, pelo menos a nível de destaque, adesão e apreço por parte do público.

E este mesmo público foi desde logo presenteado a meio da manhã com a emocionante corrida de Moto3, de onde saiu um novo campeão do mundo, o espanhol Pedro Acosta, aos 17 anos. Primeiro rookie a vencer o título em Moto3, Acosta viu o principal adversário, Dennis Foggia, cair na última volta, o que acabou por praticamente decidir o campeonato, visto o italiano ser a principal ameaça do espanhol, que se limitou a levar a mota até à meta. Desde 1990 que um rookie não era campeão. Nesse ano, o italiano Loris Capirossi conquistou o campeonato de 125cc.

Mas não parou por aí o espetáculo. No arranque da corrida de MotoGP, que viu Danilo Petrucci cair logo na primeira volta, Miguel Oliveira começou imediatamente a ganhar posições na corrida e muito rapidamente galgou cinco posições, chegando ao final da primeira volta no 12.º lugar. Mais uma volta, mais lugares: Miguel em décimo. O Falcão chegou ao nono lugar, onde estava na volta oito, numa corrida que era liderada por Francisco Bagnaia, que tinha a pole position, desde o seu início. O principal perseguidor era Joan Mir, campeão do mundo em 2020 que teve uma época abaixo do esperado.

Miguel Oliveira foi ultrapassado por Alex Rins mas voltou ao décimo lugar que tinha no final da segunda passagem pela meta. Com 20 pilotos em pista a 12 voltas do fim, portanto a meio da corrida, o português seguia também a meio do pelotão, liderado ainda e cada vez mais por Bagnaia, que ia deixando Mir e os restantes pilotos para trás. O italiano disse antes da corrida que estava mais chateado por ter perdido a última prova, em Misano, onde caiu, do que ter falhado o título mundial, conquistado por Quartararo.

A duas voltas do fim uma queda com vários pilotos, onde se incluía Miguel Oliveira, fez com que fosse levantada a bandeira vermelha, confirmando a vitória de Bagnaia. O português acabou por ser “varrido” por Iker Lecuona numa curva, depois de ter deixado deslizar a moto, e abalroou o número 88, que precisou de receber assistência médica pela forma como ficou com a perna esquerda presa no embate. Acabava assim de forma inglória mais uma corrida emocionante deste Mundial, neste caso a penúltima, com o português da KTM a não conseguir confirmar aquele que poderia ter sido o primeiro top 10 desde o final de junho, quando ficou em quinto em Assen no melhor momento da temporada.