O porta-voz da missão militar conjunta da África Austral em Moçambique (Samim, sigla em inglês) considerou esta segunda-feira que o terrorismo em Cabo Delgado é “multifacetado” e alertou para o perigo de alastramento em todo o sul do continente.
“O terrorismo no norte de Moçambique pode alastrar-se a toda a região Austral se não for contido e resolvido”, afirmou Mpho Molomo, numa intervenção por videoconferência no seminário do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) de Pretória, sobre a intervenção de forças estrangeiras no combate da insurgência em Cabo Delgado.
“A intervenção militar regional permitiu pacificar a região, mas é evidente que existe um elemento externo, porque alguns insurgentes são de fora, e também há a indicação clara de algumas manifestações locais”, salientou.
Mpho Molomo considerou que o “sucesso” na guerra em Cabo Delgado passa por “várias abordagens”, nomeadamente pela “reconstrução” daquela região do país, salientando que “o Governo moçambicano desenvolveu um programa de reconstrução que requer 300 milhões de dólares (257 milhões de euros) e está a trabalhar com outros parceiros internacionais na implementação desse processo”.
A Samim, cujo mandato inclui ainda o apoio às operações humanitárias, chegou ao terreno a 9 de agosto e anunciou estar totalmente operacional a 3 de setembro.
“Cerca de 800 mil pessoas foram deslocadas, a situação humanitária é catastrófica e a ação das forças militares estrangeiras tem sido instrumental na estabilização da região de Cabo Delgado para se implementarem projetos de desenvolvimento social”, adiantou.
Todavia, o porta-voz da Samim sublinhou que “as guerras deste género demoram muito tempo e a reconstrução não é algo alcançável num curto espaço de tempo“.
Sobre a duração da intervenção militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Molomo afirmou que “é uma decisão política que os chefes de Estado têm de tomar”.
Mais de 20 países ajudam Moçambique na luta contra o terrorismo na província de Cabo Delgado, região norte do país, segundo o Instituto de Estudos de Segurança de Pretória (ISS).
Um estudo do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) de Pretória, divulgado esta segunda-feira, adverte que a coordenação entre as várias missões militares estrangeiras e a adaptação da formação a ser fornecida às Forças Armadas moçambicanas “é vital para garantir respostas eficazes”.
O investigador moçambicano Borges Nhamirre considerou que Moçambique não consegue derrotar uma insurgência com uma intervenção “exclusivamente militar”.
“Precisamos de uma abordagem compreensiva para além da intervenção militar, porque o problema não se encontra ainda totalmente resolvido”, salientou.
Nesse sentido, o investigador moçambicano destacou a inclusão de uma “forte componente de disciplina e respeito pelos direitos humanos” na formação das Forças Armadas moçambicanas.
Borges Nhamirre questionou ainda a “falta de transparência” do Governo de Moçambique sobre o posicionamento separado das várias forças militares estrangeiras no terreno em Cabo Delgado, incluindo os termos de intervenção.
“Recentemente, na Assembleia da República, os deputados questionaram os termos dos acordos estabelecidos entre o Governo de Moçambique, o Ruanda e a União Europeia”, afirmou.
“O Governo deve divulgar publicamente os termos desses acordos”, referiu o investigador moçambicano.