O BE vai pedir à Autoridade para as Condições do Trabalho para fiscalizar abusos de direitos laborais no Centro de Mangualde da Stellantis e o despedimento dos trabalhadores precários mais jovens, anunciou esta segunda-feira a coordenadora bloquista.

Catarina Martins esteve a falar com trabalhadores à porta do Centro de Mangualde da Stellantis (antiga PSA) esta segunda-feira, e lembrou que este integra “um dos grupos do ramo automóvel que melhor resistiu à crise e que se vangloriou dos extraordinários resultados que teve”.

“Nesta empresa muito sólida estão pura e simplesmente a mandar embora todos os trabalhadores da geração mais nova que têm contratos a termo”, lamentou, em declarações aos jornalistas.

Segundo a coordenadora do BE, estes trabalhadores “estão a ser enviados para o desemprego ao mesmo tempo que os trabalhadores efetivos estão a fazer turnos de 11/12 horas e a ser colocados em trabalho noturno contra a sua vontade” e chegam a Mangualde “trabalhadores de outros países da Europa para ocupar postos de trabalho”.

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Na sua opinião, “isto é incompreensível”, atendendo a que a empresa teve apoios públicos nacionais e europeus para manter postos de trabalho no interior do país.

“Vamos junto do Ministério do Trabalho, da Autoridade para as Condições do Trabalho, pedir para ser fiscalizada esta situação. Não me parece possível aceitarmos que no nosso país isto esteja a acontecer”, frisou.

No entender de Catarina Martins, não se pode admitir que, “quando a empresa ainda por cima tem resultados tão bons, possa estar pura e simplesmente a mandar para o olho da rua os trabalhadores mais jovens, penalizando os outros que vão ficando” e “retirando qualquer horizonte de futuro no emprego em Mangualde”.

“Há, para além disso, situações de clara ilegalidade, nomeadamente no abuso do recurso ao lay-off, com trabalhadores que estão em lay-off e depois são obrigados a vir fazer algumas horas em banco de horas”, acrescentou.

A coordenadora do BE referiu que a Stellantis “está, por um lado, a usar a Segurança Social para pagar os salários que ela devia estar a pagar” e, por outro lado, “a despedir os trabalhadores mais jovens e, com isso, a ter menos emprego e não mais, que foi para isso que recebeu benefícios fiscais e apoios até hoje”.

“A empresa está a fazer um ataque aos trabalhadores não só em Portugal. Porque está a obrigar trabalhadores de outros países a virem para Portugal substituir aqueles que aqui despediram, mas os trabalhadores de outros países também não pediram para vir para aqui”, criticou.

Contactada pelos jornalistas, fonte da empresa referiu que o Centro de Mangualde da Stellantis, “como unidade de produção que está inserida num grupo global, tem como compromisso a transversalização de competências e de sinergias entre entidades”.

“O empréstimo de colaboradores entre fábricas é uma situação recorrente. Muitos colaboradores de Mangualde também já têm realizado missões noutras fábricas”, explicou.

Segundo a mesma fonte, atualmente estão “a trabalhar temporariamente na empresa cerca de 50 colaboradores de outras fábricas da Europa”.

“Não vêm substituir colaboradores efetivos, vêm reforçar a produção em Mangualde, que felizmente, nos últimos tempos, tem sido menos afetada pela crise da atividade”, sublinhou.

António Silva, da Comissão de Trabalhadores, disse aos jornalistas que, apesar de não ter números concretos, terão sido mandados embora entre 60 e 70 trabalhadores devido ao fim do contrato desde as férias de verão.

“Moralmente é inaceitável, infelizmente, o problema é que a lei permite. Mesmo a questão da vinda dos colegas polacos é algo que é permitido através das normas da União Europeia, mas em termos morais é muito mau”, considerou.