Dez pessoas foram encontradas mortas no convés inferior de um barco de madeira que levava mais de 100 pessoas, perto da costa da Líbia na terça-feira. De acordo com o relato dos sobreviventes — 99 pessoas foram resgatadas — sufocaram depois de passar 13 horas no convés inferior do barco, que cheirava a combustível, noticia o The Guardian.

A equipa dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) acorreu ao desespero dos migrantes que tentavam chegar à Europa, e conseguiu resgatar quase 100 pessoas, que foram levadas a bordo do Geo Barents, barco dos MSF, com sinais de stress e trauma elevados.

Um dos membros da equipa de resgate, Fulvia Conte, descreveu o momento em que retiraram os cadáveres da embarcação: “Demorou-nos quase duas horas a juntá-los e trazê-los a bordo, para que possam ter um enterro digno quando chegarem à costa […] Foi horrível e enfurecedor ao mesmo tempo. Isto foi outra tragédia no mar que podia ter sido evitada”.

A linha de resgate Alarm Phone (que opera no oceano Mediterrâneo) acusou as autoridades europeias de ignorar o seu pedido de auxílio: “Soámos o alarme várias horas antes, mas ninguém respondeu. Estamos fartos de anúncios de mortes que podiam ter sido evitadas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A coordenadora do projeto do Geo Barents na MSF, Caroline Willemen, afirmou que se assiste a uma “falta de vontade da Europa” de providenciar meios para desenvolver a capacidade de “procura e resgate no centro do Mediterrâneo”.

A tripulação do Geo Barents realizou, num período de 24 horas, três operações de procura e resgate na zona de Malta e Líbia, conseguindo salvar 186 pessoas, nas quais se incluem as 99 do resgate referido acima. Os migrantes, onde se incluíam várias crianças (uma delas com apenas 10 meses) eram provenientes da Guiné, Nigéria, Costa do Marfim, Somália e Síria.

Os Médicos sem Fronteiras estimam que 1.225 pessoas morreram ou desapareceram ao tentar atravessar o centro do Mediterrâneo este ano (22.825 pessoas desde 2014), o que torna este espaço “a rota de migração que mais pessoas mata”, segundo Caroline Willemen.