A ministra da Saúde afirmou esta quarta-feira que a reclassificação do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) do nível C para D, que permitiria aumentar o financiamento daquela unidade, depende de critérios técnicos e não de uma decisão política.

A classificação de uma unidade hospitalar, ou a sua eventual reclassificação, depende de um conjunto de critérios técnicos que se prendem com o volume de negócios, com a atividade assistencial, com a população servida, com a sua própria diferenciação. Não é uma questão estritamente de decisão política. É uma questão de avaliação de critérios”, disse Marta Temido.

“Essa avaliação de critérios tem em conta aquilo que é a classificação das restantes instituições do Serviço Nacional de Saúde. A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) tem estado a fazer um trabalho relevante de análise daquilo que é o agrupamento dos vários hospitais, em termos de níveis e de homogeneidade da sua resposta e clusterização dos hospitais, e a analisar e avaliar indicadores, com o apoio de peritos e técnicos exteriores, da atual classificação dos hospitais”, acrescentou.

Marta Temido, que respondia a perguntas dos deputados durante uma audição da Comissão Parlamentar de Saúde sobre as “Dificuldades que o CHS está a enfrentar”, requerida pelo PCP, assegurou, no entanto, que o Ministério da Saúde vai dar prioridade a este trabalho relativamente ao Centro Hospitalar de Setúbal e fazer as correções de classificação” que forem “tecnicamente adequadas e possíveis”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na audição, a ministra deixou também um reparo aos médicos que têm denunciado a falta de condições no CHS, lembrando que “a melhor forma de atrair recursos humanos é conquistá-los para projetos de trabalho e não passar uma imagem, ou intensificar uma imagem, de que a instituição vive enormes dificuldades e num clima de confronto”.

“O dinheiro aparece sempre, no final, mas aparece tarde”, diz conselho de administração do Centro Hospitalar de Setúbal

Marta Temido salientou ainda que, “nos últimos três anos, o Centro Hospitalar de Setúbal teve um investimento de mais de quatro milhões de euros em equipamentos diversos” e que estão previstos outros investimentos, para 2021 e 2022, “no valor de mais de sete milhões de euros”, a par do investimento na ampliação do Hospital de São Bernardo, que integra o CHS, já com o concurso público a decorrer, no valor global de 17 milhões de euros.

Por responder ficou uma questão do deputado do BE Moisés Ferreira, sobre a eventual desativação do Hospital Ortopédico do Outão e a deslocalização dos serviços de ortopedia para o Hospital de São Bernardo, uma possibilidade que muitos profissionais de saúde do CHS consideram ser inviável, porque, dizem, iria agravar ainda mais o atual problema da falta de instalações.

Na audição requerida pelo PCP, participou também o secretário de estado da Saúde, António Lacerda Sales, que, apesar de reconhecer as carências de pessoal médico, garantiu que o CHS tem hoje mais 37 médicos especialistas, dos quais 27 médicos internos, do que tinha em dezembro de 2015.

Depois de o diretor clínico ter renunciado ao cargo, outros 86 médicos pediram a demissão, sublinhando a “situação de rutura” nos serviços de urgência, nos blocos operatórios, na oncologia, na maternidade e na anestesia, entre outros. Entre os 86 demissionários estão diretores de serviço e departamentos, coordenadores de unidade e comissões, chefes de equipa de urgência e a restante direção clínica.

Os representantes dos médicos foram ouvidos no parlamento no final de outubro e alertaram que o Centro Hospitalar tem um défice de 70 clínicos.