“Má fé”, “absolutamente falso”, “abusivo”, “desonesto”, “inaceitável”. A bancada parlamentar do PS decidiu sair numa acérrima defesa da ministra da Saúde, Marta Temido, depois de esta se ter visto envolvida numa polémica que provocou críticas um pouco por todo o espetro político ao dizer, numa audição parlamentar, que um dos critérios para a contratação dos médicos deve ser a “resiliência”.

Em declarações ao Observador, a deputada socialista Sónia Fertuzinhos não poupou em adjetivos para descrever as reações de quem veio, entretanto, criticar as palavras de Temido. O argumento usado tanto por Catarina Martins como por Paulo Rangel para atacar a ministra, garante, é “absolutamente falso” e só pode ser usado “por má fé”, através de um “aproveitamento abusivo de declarações que a ministra não fez”.

A irritação ainda é, no entanto, maior com o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que poucas horas depois das declarações de Temido criticava a governante por “tentar justificar” com a suposta falta de resiliência as saídas e demissões em bloco no SNS e chegava a sugerir “arranjar outro ministro”.

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“Do senhor bastonário — infelizmente, porque julgamos que a Ordem devia ter um papel importante em todas as discussões sobre saúde e SNS — já nos habituámos que procure ele próprio problemas para poder vir dizer que o SNS está sempre na iminência da implosão”, dispara Fertuzinhos. “Se não há problemas, o senhor bastonário arranja problemas. Só lhe posso recomendar, se adiantar de alguma coisa, que vá ouvir de facto as declarações da ministra, para depois se entender e tiver coragem poder vir pedir desculpa, pelo menos desta vez”.

Depois, o contexto: a deputada lembra que Temido se estava a referir especificamente aos médicos que trabalham nos serviços de urgências (pelo menos, era essa a pergunta que lhe tinha sido feita pelos deputados), um trabalho “extremamente desgastante”. E a intenção da ministra, diz, era apontar para soluções para esses profissionais — melhorar o pagamento pelas horas extraordinárias e as condições para a “dedicação plena”, uma modalidade de exclusividade prevista no novo estatuto do SNS.

O que queria, então, Marta Temido dizer quando disse que a “resiliência” seria uma qualidade importante a incluir nos critérios de contratação? A deputada remete para as declarações da ministra, que se referia a qualidades úteis para exercer este tipo de funções (“temos de investir nisso”, diz Temido no vídeo da audição), e não a apontava como “uma solução para a falta de médicos”. Por isso, insiste Fertuzinhos, qualquer interpretação que conclua que Temido estava a dizer que os médicos não estão a ser resilientes o suficiente é “absolutamente inaceitável”.

Marta Temido quer contratar médicos mais resilientes. Bastonário sugere: “Se calhar arranjava-se outro ministro”

A polémica começou quando, esta quarta-feira, Temido foi questionada na Comissão Parlamentar da Saúde, a propósito das dificuldades vividas no Centro Hospitalar de Setúbal, e falou do processo de contratação destes profissionais, sublinhando que “aspetos como a resiliência” são “tão importantes como a competência técnica”.

Estas funções, prosseguia Temido, “exigem uma grande capacidade de resistência, de enfrentar a pressão e o desgaste e temos que investir nisso”. Sobre Setúbal, foi mais longe: “A melhor forma de atrair recursos humanos é conquistá-los para projetos de trabalho e não passar uma imagem, ou intensificar uma imagem, de que a instituição vive enormes dificuldades e num clima de confronto”.

Marcelo reage a declarações de Marta Temido: “Se há característica que os profissionais de saúde demonstraram é resiliência”

A ministra teve, já nesta quinta-feira, direito ainda a uma resposta de Marcelo Rebelo de Sousa: “Se há característica que os profissionais de Saúde demonstraram é resiliência. Tomara muitos de nós”, disse o Presidente da República, por entre garantias de que não entrará em “querelas”.