Quase 24 horas depois do início do IV Congresso do Chega, André Ventura apercebeu-se de que o partido está a perder demasiado tempo com os adversários, principalmente com o PSD. “Talvez se tenha falado demais de Rangel e Rio: de facto, perdemos tempo com quem não interessa.”

Estava dado o mote para mais um discurso do presidente do Chega, o segundo em dois dias, e era preciso virar a agulha para a esquerda e a ideia de que o partido é o único que faz oposição ao PS e que essa “é a linha” que pretende ver sair da reunião magna de Viseu.

“António Costa, vamos atrás de ti (salvo seja). Não vai haver mais socialistas a rir-se no Parlamento. E agora não haverá Ferros Rodrigues para nos tirar o nosso tempo.” Se Rio e Rangel deviam ter ficado no discurso de arranque, Ventura voltou a trazer Ferro para mais um momento no púlpito: “Só tenho pena de que Ferro não esteja lá para ver a enorme avalanche política que vamos criar, não nos mandaria calar nunca mais.”

As críticas estavam lançadas e André Ventura colocou mais um dado em cima da mesa, já depois de ter estabelecido um objetivo de 15% para as eleições antecipadas: “Alcançaremos o Governo e não precisaremos nem do PSD nem do PS para governar, seremos nós a governar.”

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Apesar de se ter esquecido por diversas vezes — e de isso até ter sido motivo de riso do próprio, o líder do Chega estava ali para apresentar a moção estratégica com que venceu as eleições internas e foi reeleito. Não foi por muito tempo, mas o foco deu para perceber alguns tópicos.

Começou pelo eixo da chamada “ideologia de género” e fez “mea culpa” por não ter falado mais da “questão das escolas e das crianças”. “As escolas, a educação, as crianças, mães e pais precisam do nosso apoio. Pouco importa se parte dos sindicatos estão connosco ou não.”

O que recomendavam os militantes que o Chega não quis ouvir? As propostas que ficaram na gaveta

André Ventura anunciou ainda que vai ser retomada a Comissão de Ética e justificou que “um partido precisa de responsabilidade”. “Houve erros, houve, foram assumidos por mim porque é nomeada por mim. Mas nada são em comparação com a desordem em que vivia o partido antes da Comissão de Ética. Não podemos exigir ordem para fora sem responsabilidade cá dentro. Critiquem à vontade”. Outra coisa, disse, é “expor elementos pessoais” e “atacar famílias”. “É mau de mais. Este caminho tem de ser a nossa lápide de diamante.”

Ainda havia mais argumentos para a defesa: “Poucos partidos terão regras tão democráticas para os nossos órgãos internos”, disse Ventura, num momento em que a oposição interna se queixa de falta de democracia interna e apesar de não terem sido votadas as múltiplas “recomendações” que exigiam eleições diretas nos órgãos locais em vez das atuais nomeações.

A dois meses das eleições legislativas antecipadas, o líder do Chega admite que o partido “ficou sem dinheiro” após as eleições autárquicas e que “não estava à espera de eleições”, mas assegurou que vai “com tudo” ao próximo ato eleitoral, com a certeza de que a linha é para manter.

“Se mudarmos o ADN, se nos moderarmos apenas para ir de encontro à vontade do PSD, estaríamos a trair a nossa própria alma. Talvez isto não vá passar bem em casa, à noite, mas lembro-me sempre das palavras de Jesus Cristo: de que vale ao homem o mundo inteiro, se perder a alma?”