Uma nova fuga de documentos secretos do Governo chinês mostra a importância do papel de Xi Jinping na perseguição de cidadãos da etnia muçulmana Uyghur pelas autoridades do país.

Uma investigação de 2019 do New York Times já tinha revelado algumas das ligações, a um nível mais superficial. Agora, alguns dos documentos secretos analisados pelo jornal (de 2014 a 2018), e outros ainda desconhecidos do público foram divulgados pelo Dr. Adrian Zenz, especialista em estudos chineses da Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo de Washington D.C., que os colocou na internet no sábado.

Estes documentos incluem relatórios de membros do Governo e associações estatais, discursos de membros do Governo e do Presidente Xi Jinping e outros documentos e memorandos de comunicação interna. Um dos documentos presentes, que continha três dos discursos do chefe de Estado chinês, estava mesmo classificado como sendo ultrassecreto.

O Presidente do país, tal como altos membros do Partido Comunista Chinês pediram, segundo o The Guardian, uma “reeducação e realocação” da população Uyghur para “corrigir a desproporção das populações Uyghur e Han em Xinjiang”, o que comprova, diz Adrian Zenz, a tentativa de levar a cabo um “genocídio cultural”, de forma a “salvaguardar o poder do Partido Comunista”.

Documentos internos do governo chinês revelam repressão contra muçulmanos

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A investigação do New York Times, em 2019, estabeleceu a ligação entre as palavras de Xi Jinping e o início da perseguição da etnia Uyghur, mas, segundo Adrian Zenz, a conexão entre “as palavras de Xi e as subsequentes medidas” tomadas é mais forte do que foi noticiado originalmente.

Segundo as novas informações disponíveis, o Governo da China promoveu, por vontade do seu chefe de Estado, várias medidas para uniformizar a população de Xinjiang — várias pessoas foram enviadas em massa em “campos de reeducação” para curar “pensamentos doentes” e aumentar a “imunidade” ao “veneno” do extremismo religioso. A celebração de rituais religiosos islâmicos foi, também, limitada, ou, em alguns casos, proibida pelo governo. Xi Jinping pediu, também, o envio de crianças de zonas rurais para colégios internos, de forma a que “estudam, cresçam e vivam na escola”, para impedir “pessoas religiosas de interferir com assuntos de um estilo de vida secular”.

O desemprego foi, também, um dos “problemas” abordados pelo executivo, que forçou várias pessoas a trabalhar em indústrias intensivas, uma vez que defende que pessoas que “não tem nada para fazer” podem “causar problemas”. A migração forçada de centenas de milhares de membros da população Han foi outra das medidas aplicadas, de forma a garantir o equilíbrio populacional entre os vários grupos étnicos.

Da China surgem, ainda, relatos de que mulheres Uyghur estão a ser esterilizadas em massa, de forma a prevenir o aumento desta população na região, e da separação de crianças desta etnia das suas famílias, para quebrar as tradições culturais do grupo, diz a BBC.

O Presidente da China disse, em discurso divulgado nesta fuga, que, de forma a garantir o sucesso da política de expansão económica chinesa, a situação instável da região de Xinjiang teria de estar sob controlo, para impedir que “as violentas atividades terroristas [ocorridas em] Xinjiang se espalhem para o resto da China. Segundo o político, este controlo é essencial para a garantia da segurança nacional e para atingir os objetivos a que o país se propôs para o século XXI, o que obriga o executivo a submeter a região a um “doloroso período de tratamento interventivo”.