Um ensaio clínico conduzido no Reino Unido avaliou o efeito da dose de reforço (terceira dose) em pessoas que tivessem a vacinação completa com a vacina da Oxford/AstraZeneca ou Pfizer/BioNTech e verificaram um aumento da resposta imunitária (com anticorpos e células T) capaz de prevenir contra internamento e morte com Covid-19, segundo os resultados publicados na revista científica The Lancet.

Os efeitos da dose de reforço são comparáveis entre o grupo dos 30 aos 69 anos e o grupo com mais de 70 anos. E o aumento da resposta imunitária aconteceu mesmo quando se deu uma terceira dose diferente das que tinham sido administradas anteriormente — em alguns casos, preferencialmente.

A intensidade da resposta, no entanto, é variável consoante as vacinas tomadas no esquema inicial e na dose de reforço. Em teste estiveram as vacinas da AstraZeneca, Pfizer/BioNTech, Moderna, Janssen, Curevac, Novavax e Valneva.

Por exemplo, depois de duas doses da vacina da AstraZeneca, outra dose igual não é uma boa estratégia de reforço em termos de imunidade celular (células T). Já uma terceira dose da Novavax terá melhor efeito depois de duas da AstraZeneca do que depois de duas da Pfizer. Só a vacina da Valneva depois das doses da Pfizer não mostrou aumentar a resposta imunitária.

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Se o seu país ou região do mundo só tem uma das vacinas que mostrámos poder aumentar [a resposta imunitária], isso será bom e seguro para usar como reforço. Não tem de ser tudo mRNA”, disse Saul Faust, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Southampton e co-autor do estudo, citado pelo The New York Times.

Outro fator relevante, verificaram os autores, é que o ponto de partida da resposta imunitária antes da terceira dose também é diferente consoante o esquema vacinal anterior, nomeadamente o tipo de vacina (AstraZeneca ou Pfizer), o intervalo entre as duas doses ou se foram tomadas duas doses iguais ou houve mistura de vacinas.

Durante o ensaio foram testados os efeitos da dose completa e metade da dose e os resultados preliminares indicam que são igualmente eficazes a desencadear o reforço na resposta imunitária. Aliás, a dose de reforço recomendada pela Moderna é metade das doses iniciais.

Se a imunogenicidade puder ser mantida em estudos maiores que testem uma redução dose, isso poderia significar um aumento do número de doses disponíveis a nível global,” refere a equipa.

O efeito das vacinas foi testado contra as variantes Alpha, Beta e Delta. A vacina de reforço mostrou-se eficaz com qualquer uma delas, mas os investigadores destacam principalmente o efeito das células T sobre as variantes Beta e Delta, com alguma capacidade para escapar aos anticorpos. Falta agora perceber se também será eficaz no caso da variante Ómicron.

A nossa esperança, como cientistas, é que a proteção [das vacinas] contra internamentos e morte [com a variante Ómicron] permaneça intacta”, disse Saul Faust, citado pelo The Guardian.

O ensaio clínico demonstrou ainda que a terceira dose, dada pelo menos 70 dias depois da segunda dose da AstraZeneca e pelo menos 84 dias depois da segunda dose da Pfizer, era segura e não apresentava efeitos secundários diferentes das doses anteriores. Os efeitos secundários graves, no grupo de quase 3.000 participantes, foram raros.