Quatro dias depois de ter assumido a pasta deixada vaga na passada sexta-feira por Eduardo Cabrita, Francisca Van Dunem, agora ministra da Justiça e da Administração Interna, revelou que na sequência da polémica com a nomeação de José Guerra para a Procuradoria Europeia chegou a pedir demissão a António Costa.

Se ainda se mantém no governo é porque o primeiro-ministro declinou o pedido. “Entendi que essa circunstância podia afetar negativamente a imagem do Governo, coloquei a questão ao senhor primeiro-ministro e disse-lhe. ‘Aqui estou, venho colocar o meu lugar à disposição’”, detalhou Francisca Van Dunem, em entrevista esta quarta-feira à noite à RTP.

Ainda assim, e apesar da dupla função que agora desempenha e que diz que aceitou por cumprimento do dever — “Aquilo que se trata é de executar um programa” —, não será por muito tempo. Como já tinha anunciado antes, Van Dunem diz que mantém a intenção de abandonar o governo e que, mesmo que o PS ganhe as legislativas de janeiro, o seu nome não constará da lista de ministros nomeados. “Mantenho a intenção de mudar de vida. Tenho muita coisa para fazer, preciso de escrever”, disse a jurista, de 66 anos, os últimos seis passados no ministério da Praça do Comércio. Questionada sobre se tenciona publicar uma autobiografia, Van Dunem não concretizou, limitando-se a parafrasear o militante anticastrista Reinaldo Arenas: “[Preciso de] escrever sobre coisas que vivi. Como dizia o escritor cubano, ‘antes que anoiteça’”.

A propósito do Dia Internacional contra a Corrupção, que se assinala justamente esta quinta-feira, Francisca Van Dunem defendeu que, mais importante do que combater e reprimir a corrupção, um fenómeno que considera “cultural”, será preveni-la. “É a cultura da cunha, a cultura do telefone e a cultura dos mais espertos porque passam à frente dos outros. Nós precisamos de ensinar as crianças de que não é assim. O paizinho não é mais esperto porque passa à frente da fila ou porque paga para ser servido antes”.

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