O histórico dirigente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) Sérgio Vieira morreu esta quinta-feira, aos 80 anos, vítima de doença, disse à Lusa fonte do partido no poder.
Vieira assumiu-se como um nacionalista moçambicano ainda muito novo, envolvendo-se em atividades consideradas subversivas pelo regime colonial, o que o transformou num alvo da polícia política portuguesa, a PIDE.
Uma fonte da Frelimo disse que o histórico dirigente morreu num hospital na África do Sul.
Sérgio Vieira nasceu em 1941, em Tete, e em Lisboa, para onde foi estudar Direito, participou fervorosamente nas atividades culturais da Casa dos Estudantes do Império (CEI), então viveiro de futuros líderes dos movimentos de luta contra o colonialismo português em África.
Teve de deixar a capital portuguesa antes de fazer a licenciatura em Direito, devido ao assédio exercido pelas autoridades coloniais, tendo-se exilado em França e Argélia, país africano onde se formou em Ciências Políticas.
Sérgio Vieira juntou-se à Frelimo ainda antes da independência, tendo exercido várias funções de relevo.
Com a independência de Moçambique em 1975, Vieira assumiu diversas pastas governativas, incluindo as de ministro da Segurança e Administração Interna, governador do Banco de Moçambique e governador provincial.
Era considerado um dos ideólogos do partido no poder em Moçambique durante o período de partido único, que durou até à aprovação da primeira constituição multipartidária do país, em 1990.
Sérgio Vieira era tido como uma das figuras próximas do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, que morreu em 1986 vítima de despenhamento do avião em que seguia.
Vieira disse várias vezes que só escapou à morte nesse desastre aéreo porque Machel o dispensou da viagem presidencial para poder estar ao lado da mulher, que na altura se encontrava doente, acabando por falecer.
Colocando-se sempre do lado da Frelimo mais ortodoxa do tempo do regime de partido único e amante da balalaica associada aos marxistas, insistia em tratar a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), hoje principal partido da oposição, como organização fundada por “bandidos armados” e a soldo do antigo regime de supremacia branca do apartheid da África do Sul.
Para Sérgio Vieira, tal como vários outros históricos da Frelimo, a queda do avião que transportava Samora Machel foi provocada pelos serviços de segurança do antigo regime de minoria branca da África do Sul, que queriam tirar do caminho uma das vozes mais críticas do sistema de segregação racial e apoiante da luta do movimento de maioria negra pela mudança política no país.
Tal como muitos veteranos e comunistas assumidos da Frelimo, Sérgio Vieira considerava a Renamo uma criação de “inimigos” da Frelimo, que pretendiam desestabilizar o país para travar a “revolução”.
Durante o período em que Armando Guebuza foi Presidente da República e da Frelimo, Sérgio Vieira dirigiu fortes críticas ao que considerava traição dos valores fundacionais do partido no poder, através de artigos que publicou em jornais.
Nessa época, insurgiu-se contra o que via como novo racismo de alguns setores na Frelimo, em referência a cartas anónimas que tratavam Sérgio Vieira e outros quadros do partido como parte da “ala goesa”, uma menção à origem em Goa de alguns históricos da organização.
Além de político, era um entusiasta da poesia, tendo publicado vários trabalhos e militado na Associação dos Escritores Moçambicanos (Aemo).
A última função pública de Sérgio Vieira foi como deputado da Assembleia da República, da qual depois abdicou.
Vieira era um parente próximo do atual primeiro-ministro de Portugal, António Costa.