Chegará à Europa em 2022 aquele que será, potencialmente, o adversário capaz de fustigar com maior ferocidade o desempenho comercial do Tesla Model 3. O ET5 é uma berlina com 4,79 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,50 m de altura e 2,89 m de distância entre eixos, cuja versão mais interessante anuncia nem mais nem menos que 1000 km de autonomia!
O valor impressiona, embora estejamos a falar de um alcance estimado não de acordo com o protocolo de homologação europeu WLTP, mas sim segundo o China Light-Duty Test Cycle (CLTC), método que poderá ser mais favorecedor do que os critérios que são usados na Europa. Contudo, não há que esperar grandes desfasamentos, na medida em que o Tesla Model 3 tracção traseira anuncia 491 km de autonomia no Velho Continente, enquanto na China homologou 556 km de alcance entre recargas. Ou seja, mais 13,2% que, a manter-se, permitirá ao ET5 registar na Europa, em WLTP, qualquer coisa como 868 km na versão com maior autonomia!
Não é nenhum milagre, mas sim um trunfo que os chineses conseguem esgrimir por propor três packs de bateria, todos eles “generosos”. O mais “pequeno” arranca nos 75 kWh de capacidade (equivalente ao maior dos Tesla Model 3), o que permitirá aos futuros proprietários do ET5 percorrer até 550 km entre visitas ao posto de carga ou às estações de troca de bateria, serviço que a marca também disponibilizará na Europa e em que ancora outro dos seus argumentos de venda, já que a troca se processa em escassos minutos, num período que corresponde basicamente ao tempo necessário para atestar um depósito num ligeiro com motor de combustão. O processo demora 3 minutos e implica que a compra se faça com aluguer da bateria, o que sai mais barato, mas depois há que pagar à volta de 36€ por cada troca (valor convertido a partir do custo do serviço na China).
Além do pack standard, para os que desejam ir um pouco mais longe, a Nio propõe uma bateria de 100 kWh (a capacidade que a Tesla usa nos Model S e Model X), energia que alegadamente será suficiente para homologar mais de 700 km de autonomia, sempre de acordo com o protocolo local CLTC. A “cereja no topo do bolo”, com os tais 1000 km de autonomia que mencionámos inicialmente, diz respeito ao acumulador com 150 kWh de capacidade, de longe o maior do mercado. Esta versão, denominada Ultralong Range, tem uma bateria com o dobro da capacidade do Model 3 Long Range (82 kWh total, 75 kWh úteis), que entre nós anuncia 614 km de autonomia (em WLTP) e exige 58.990€ em troca.
Ora, o preço é outro dos tópicos onde a Nio faz questão de marcar a sua agressividade, ao propor a versão de entrada por 328.000 yuans na China, o equivalente (sem incluir as ajudas estatais) a pouco mais de 45.400€ à cotação de hoje. O Model 3 standard no mesmo mercado sai mais barato (255.652 yuans ou 35.426€), mas não na opção com aluguer da bateria. Nesse caso ficam taco a taco, pois o ET5 custará 258.000 yuans (cerca de 35.900€), preço a que haverá que descontar o incentivo governamental, que é de 18.000 yuans (2494€) para modelos com uma autonomia acima de 400 km. A versão do ET5 com bateria de 150 kWh não será comercializada com aluguer do acumulador.
Com uma estética claramente inspirada no irmão mais velho, o ET7, a nova berlina eléctrica chinesa destaca-se pelo desenho esguio e elegante, dando a primazia do traço à aerodinâmica, o que explica o Cx de 0,24 – um excelente valor, mas naturalmente superior ao do porta-estandarte da Nio, pois o ET7 reclama um coeficiente aerodinâmico de apenas 0,208. A marca chinesa foi parca em detalhes quanto às motorizações que irá propor, mas é garantido que haverá opções com até 490 cv de potência. Com dois motores eléctricos, um com 150 KW (204 cv) à frente e outro com 210 kW (286 cv) atrás , o ET5 vai de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos. Perde para o Model 3 Performance (3,3 segundos), mas joga outras cartadas capazes de convencer os mais indecisos.
Um desses trunfos implica entrar a bordo e deixar-se ser surpreendido pela sofisticação tecnológica da berlina chinesa. Enquanto os europeus e a própria Tesla se concentram em aumentar o tamanho dos ecrãs, os chineses da Nio conseguem que o destaque no ET5 não recaia nem no painel de instrumentos com 10,2 polegadas, nem no display central, disposto na vertical e associado a um sistema de som surround Dolby Atmos. É um facto que eles estão lá, mas o que se destaca é mesmo é o PanoCinema. O nome é elucidativo, pois trata-se de combinar a realidade aumentada e a realidade virtual para conseguir projectar, a seis metros de distância, um ecrã de 201 polegadas, tecnologia que a Nio se associou à NREAL para desenvolver uns óculos de realidade aumentada específicos para o ET5.
A tudo isto há ainda que juntar a mais recente geração do sistema de condução autónoma da marca, o NIO Aquila Super Sensing e o NIO Adam Super Computing, preparado para uma assistência de nível 3 e disponível mediante uma assinatura mensal de 94€. O fabricante destaca ainda o baixo centro de gravidade (48,26 cm) e o facto de a carroçaria ser em aço e alumínio, proporcionando uma rigidez torsional de 34.000 Nm/grau, com a resistência ao capotamento a superar os critérios para a atribuição de cinco estrelas por parte da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária norte-americana (NHTSA).
De recordar que a Nio já está na Europa, continente onde entrou via Noruega. Nos planos da empresa está a ampliação da presença no Velho Continente, pelo que está previsto que a marca chegue, no próximo ano, à Alemanha, Holanda, Suécia e Dinamarca. E levará consigo todos os seus serviços e modelos, incluindo este ET5. Como o objectivo do fabricante chinês é estabelecer-se em mais de 25 países até 2025, pode ser que Portugal seja contemplado na estratégia de expansão da Nio.