Este artigo é da responsabilidade da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC)

A Associação Portuguesa de Industriais de Carne (APIC) divulgou as mensagens resultantes das apresentações feitas por quem sabe da matéria, no seminário: “Carne q.b.  – Consumidor esclarecido “, um seminário realizado em colaboração com a Faculdade de Medicina Veterinária (FMV da Universidade de Lisboa), em outubro de 2021.

A APIC teve como objetivo criar um espaço de diálogo e, sobretudo, promover um debate transparente sobre a produção e o consumo da carne. Para este efeito, foram convidados peritos nas seguintes matérias: Bem-estar animal nas explorações, Impacte da produção animal no ambiente e ainda na nutrição a fim de ser transmitido a real importância do consumo de carne para a saúde das pessoas.

O Professor Doutor George Stilwell da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, começou por explicar que o bem-estar animal promove qualidade de vida, performance e crescimento dos animais, bem como promove a qualidade da carne, acabando por ter um efeito positivo no rendimento do produtor primário.

A produção animal é uma atividade capital e interfere positivamente na fixação das populações nas áreas rurais, na manutenção dos ecossistemas e da biodiversidade, levando à redução da probabilidade dos fogos florestais. É fundamental o equilíbrio justo entre o bem-estar dos animais, os custos de produção e as exigências dos consumidores. O que levará ao equilíbrio também entre preço da carne, qualidade da carne e o impacte no ambiente. Muito para alem do que é exigido pela legislação europeia, tem havido um grande incremento pelos produtores de animais na aplicação de boas práticas em bem-estar animal, nomeadamente em sistemas de certificação voluntária em Bem Estar animal nas explorações pecuárias, como garante de que níveis mais exigentes de bem-estar animal são cumpridos.

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Foi ainda afirmado que, na União Europeia, se tem trilhado um longo e notável caminho no sentido da melhoria do bem-estar dos animais de produção, mas que ainda há muito trabalho a fazer para garantir esse trinómio fundamental: bem-estar-rendimento-satisfação dos consumidores.

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Os sistemas de produção de carne, embora possam ter um efeito negativo sobre o ambiente, os seus impactos são bastante menores do que geralmente é propagado, o carbono emitido pelos ruminantes provém do seu alimento, uma fonte renovável que é capaz de, através da fotossíntese e do rizóbio, fixar CO2 e N em grandes quantidades, não se podendo comparar com a produção de gases de efeito de estufa (GEE) dos transportes ou da indústria que provém, na sua grande maioria, de combustíveis fósseis. Na verdade, 50% das emissões de GEE provenientes da produção de bovinos de carne são compensadas pelo sequestro de carbono nas pastagens e produção de outros alimentos, garantiu na sua apresentação o Professor Doutor Manuel Cancela de Abreu, da Universidade de Évora.

Luís Bagulho, médico veterinário, disse ainda que a carne de bovino produzida em Portugal, é manifestamente insuficiente para assegurar as quantidades necessárias para o abastecimento do país. Portugal tem muita produção no extensivo, existindo raças autóctones com grande capacidade de adaptação às condições edafo-climáticas da sua zona de origem, capazes de aproveitar os recursos locais, com o maneio tradicional de produção que lhes confere as referidas características únicas e diferenciadoras, num ambiente de neutralidade carbónica e no respeito pelo bem-estar animal. Neste sistema, os animais, utilizam na sua alimentação os produtos e subprodutos da exploração. Erva, pastagens biodiversas, fenos, restolhos, landes, bolotas, pastos secos e restolhos de cereais servem de base à alimentação dos animais. Estes produtos têm a grande vantagem de não concorrer com os utilizados na alimentação dos seres humanos e de neutralizar a produção de carbono através do seu sequestro pelas plantas.

Falou-se ainda sobre a importância do consumo da carne em padrões omnívoros, pois, como explicou a Professora Doutora Conceição Calhau, Catedrática de Nutrição e Metabolismo da NOVA Medical School, “enquanto espécie humana e na cadeia trófica, bem como o nosso próprio processo digestivo, dependemos da ingestão de carne. Inclusivamente, a ingestão de ferro, na sua forma mais bio disponível, pelo que, os vegetarianos terão que fazer as suas compensações.” A especialista salientou ainda a importância de adequar o consumo de carne à quantidade indicada na roda dos alimentos, bem como ajustar os hábitos em termos de consumo de hortícolas. “Não se deve substituir a carne pela soja, pois tem impacto negativo não só na saúde como no ambiente. A carne continua a ser considerada um alimento importante para ser incluído moderadamente na dieta humana e numa alimentação diversificada pelo seu elevado valor proteico, vitamínico e mineral.”

Há que fazer, por isso, uma abordagem holística e perceber o número de medidas já implementadas, quer pela produção primária quer pela indústria da carne, as quais correspondem à estratégia Farm to Fork [F2F].

Na sua apresentação, a Dr.ª Graça Mariano, diretora executiva da APIC, salientou o incremento do Bem-estar animal consubstanciado nos sistemas de certificação voluntária, ainda como a aplicação de Boas Práticas de maneio que têm levado à redução do CO2, de como se tem promovido a biodiversidade, com o reforço da criação das raças autóctones. Enfatizou ainda, o facto da produção já há muito estar a reduzir o uso dos antibióticos em prol do uso de melhores práticas de maneio, ainda a contribuição para a economia circular com a valorização dos subprodutos da cadeia alimentar e a utilização da energias renováveis, a redução do uso de fertilizantes químicos por substituição dos fertilizantes orgânicos e também o envolvimento de todos no combate ao desperdício alimentar.

Este seminário pretendeu trazer a público as verdades sobre a produção de carne, de forma séria, sem tabus. Apenas quisemos que fosse dada a conhecer a informação adequada, técnica e científica sobre os reais impactos da produção animal e da importância do consumo da carne em termos de alguns nutrientes, que não se encontram em alimentos de origem vegetal. Quisemos fornecer informação, em primeira mão, por quem trabalha há tempo suficiente nestes assuntos, para ser considerado entendido na matéria.

Não pretendíamos criar falsas expetativas e nem visibilidade, a todo o custo. Não pretendíamos também induzir em erro os consumidores.

Acreditamos que os consumidores devem ter o conhecimento suficiente para poderem fazer as suas escolhas livres.

A APIC manter-se-á atenta e voltará a comunicar, quando necessário e  sempre com o objetivo de trazer a publico, informação adequada e credível, que permita a escolha certa pelos consumidores.