Se a propagação da Covid-19 na Europa prosseguir ao ritmo atual, mais de metade da população europeia vai ser infetada pela variante Ómicron nas próximas seis a oito semanas.

A projeção foi feita pelo Instituto para as Métricas e Estimativas de Saúde — uma organização independente de investigação em saúde ligada à Faculdade de Medicina da Universidade de Washington — e foi revelada esta terça-feira pelo diretor europeu da Organização Mundial de Saúde, Hans Kluge, em conferência de imprensa.

Durante a conferência de imprensa, o responsável da OMS deixou ainda uma recomendação:

A Ómicron move-se mais rapidamente e mais amplamente do que qualquer variante do SARS-CoV-2 que tenhamos visto. Por isso, incito os países a impor a utilização de máscaras de alta qualidade em ambientes fechados e indoor e a assegurarem que os indivíduos vulneráveis têm acesso a essas máscaras.”

A explicação para a alta transmissibilidade da Ómicron

Na conferência de imprensa, o diretor da OMS para a Europa começou por notar que no continente europeu foram detetados mais de 7 milhões de novos casos de infeção por coronavírus na primeira semana de 2022. O número de novos casos na Europa mais do que duplicou em duas semanas.

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Vincando também que as taxas de mortalidade continuam a ser mais altas em países com maior incidência (número de novos contágios por cada 100 mil habitantes) e que estão mais atrasados na vacinação, Hans Kluge explicou que a variante Ómicron “está-se a tornar rapidamente dominante na Europa ocidental e está agora a espalhar-se para as Balcãs”.

Os dados apurados nas últimas semanas confirmam que a Ómicron é altamente transmissível — porque as mutações que tem permitem-lhe aderir mais facilmente às células humanas, podendo infetar mesmo aqueles que já tinham estado infetados ou que estão vacinados“, apontou ainda o diretor da OMS Europa.

Um apelo à vacinação com números de um país: a Dinamarca

Fazendo questão de insistir na ideia de que “as vacinas atualmente aprovadas continuam a conferir uma boa proteção contra o desenvolvimento de doença grave e morte, incluindo quando se trata da variante Ómicron”, Hans Kluge quis deixar o alerta: “Devido à escala de contágio sem precedente, estamos agora a ver um crescimento no número de hospitalizações por Covid-19. Tal está a desafiar os sistemas de saúde nos muitos países em que a Ómicron se está a espalhar mais rapidamente e ameaça assoberbá-los”.

Pedindo por isso “mais apoio para a saúde mental e bem estar” dos profissionais de saúde, que estão a enfrentar este aumento do número de pessoas internadas e a precisar de cuidados médicos, o diretor europeu da OMS expressou igualmente uma “preocupação profunda” relativamente à propagação da variante Ómicron em países da Europa de leste.

Ainda teremos de ver o impacto total da Ómicron em países onde os níveis de vacinação são menos elevados e onde iremos ver mais doenças graves desenvolvidas por não vacinados”, referiu.

Hans Kluge deu ainda um exemplo para apelar à vacinação contra a Covid-19: “Olhando para o exemplo da Dinamarca, onde os casos da Ómicron explodiram nas últimas semanas, a taxa de hospitalizações por Covid-19 para pacientes não vacinados foi seis vezes superior à taxa de hospitalizações para pacientes vacinados na semana a seguir ao Natal”.

Escolas devem ser “últimos lugares a fechar e primeiros a abrir”

A Europa está num “momento decisivo” e deve “preparar os sistemas de resposta” à Covid-19, “aumentando o stock de testes e tornando-os amplamente acessíveis e livres de custos em farmácias, locais de trabalho e nas comunidades, disponibilizando-os também aos trabalhos dos serviços essenciais”, referiu ainda o responsável.

Hans Kluge pediu ainda que dê prioridade à população vulnerável “nas primeiras doses e doses de reforço” de vacinas, referindo também que os grupos vulneráveis devem ser aconselhados a “evitar espaços fechados e com muita gente” e deve-lhes ser oferecida a “possibilidade de trabalharem de forma remota sempre que possível, até que a atual vaga de infeções passe”.

O diretor europeu da OMS falou ainda sobre as escolas e as creches: “Manter as escolas abertas tem benefícios importantes no bem-estar mental, social e educativo das crianças. As escolas devem ser os últimos sítios a fechar e os primeiros a abrir. Os países talvez devam também equacionar rever os seus protocolos quanto à testagem, isolamento e quarentena de contactos [colegas de crianças e alunos infetados] nas salas de aulas, para minimizar a disrupção à aprendizagem”.

Porém, olhando para o futuro, o número de pessoas infetadas vai ser tão alto em muitos países que é possível que as escolas não consigam manter-se abertas e a lecionar todas as aulas, devido à ausência de staff. Este inverno, é aconselhável preparar-se a aprendizagem online paralelamente ao ensino presencial, para que as crianças possam continuar a aprender quando não podem estar presencialmente na sua escola”, recomendou-se ainda.

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