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Não foi propriamente uma surpresa mas, à semelhança do que acontece nos jogos de Novak Djokovic, o melhor era mesmo esperar pelo fim para perceber se iria ou não haver um novo capítulo da novela. Contas feitas, pouco mais de oito horas depois (com uma pausa para almoço pelo meio) o Tribunal Federal decidiu mesmo indeferir o recurso apresentado pelo tenista depois de ter visto o seu visto cancelado pelo ministro da Imigração da Austrália, Alex Hawke. Na antecâmara do arranque do Open da Austrália, o número.1 do ranking ATP chegava ao aeroporto e seguia num voo fretado à Emirates para o Dubai.

Quase de imediato, as reações começaram a cair em catadupa com diversos ângulos – sendo percetível que aqueles que se mostravam contra a conduta do jogador balcânico passaram agora um pouco ao lado do que se passou, quase como se tivessem visto “justiça” feita. Assim, e em contraponto com o alívio do governo australiano perante uma situação que causou mossa política no plano interno (e poderia causar mais), o grande foco foi mesmo a Sérvia, a mostrar-se revoltada com a exclusão do herói nacional da prova.

Os jornais sérvios reagiram como esperado depois da decisão conhecida ao início da manhã em Portugal (tarde na Austrália). “A maior vergonha na história do desporto”, escreveu o Kurir. “Decisão escandalosa do Tribunal: tiram Novak em definitivo da Austrália”, diz o Telegraf. Ambos levantam o véu sobre as medidas que o país possa agora vir a tomar contra a Austrália numa esfera que passou o desporto. “Vencedor de títulos do Grand Slam, o melhor de sempre, alguém que escreve história no desporto mundial. Isto é e será sempre Novak Djokovic”, salientou Vanja Udovicic, ministro do Desporto sérvio.

Já Aleksandar Vucic, presidente da Sérvia, disse à BBC que “Novak Djokovic foi torturado e atormentado pelo governo australiano como se fosse um homicida em massa”. “A decisão podia ter sido tomada há dez dias. Se ele não fosse sérvio não seria assim. Ele chegou à Austrália com uma isenção médica e foi mal tratado dez dias. Porquê? Para fazerem uma caça às bruxas com ele? Ninguém consegue perceber. Acredito que não está humilhado, quem está é que organizou esta caça às bruxas”, comentou. “A decisão em relação à expulsão de Djokovic é escandalosa e mostrou como alguns países funcionam, ou seja, não funcionam num estado de direito. É incrível como em tão poucos dias houve decisões tão diferentes depois de 11 dias de maltrato psíquico e físico”, defendeu Ana Brnabic, primeira-ministra da Sérvia.

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A reação mais dura, como seria de esperar, veio da própria família do jogador e com uma expressão que não demorou a correr mundo pela força que comporta. “Acabou a tentativa de assassinato do melhor desportista do mundo. 50 balas no peito do Novak”, escreveu Srdjan Djokovic na conta do Instagram.

A Federação Sérvia de Ténis catalogou a decisão como “uma farsa”. “É uma vitória da política sobre o desporto que abre muitas interrogações. Que mensagem está a Austrália, que já organizou duas vezes os Jogos Olímpicos, a enviar para a sua terceira organização em 2032?”, questiona.

Entre jogadores, a reação com mais “peso” (e também a mais partilhada) foi a de Nick Kyrgios, tenista australiano que contraiu recentemente Covid-19 e que colocou apenas um emoji de um boneco com a mão na cabeça. De referir que o jogador já se tinha manifestado a favor do sérvio e que este sábado confidenciou que Djokovic lhe tinha ligado pessoalmente para agradecer as palavras e a posição tomada. “O Nole sempre teve e sempre terá classe. É uma lenda absoluta no meu livro que trouxe tanto de bom para milhões de pessoas pelo mundo. Isto não está certo”, escreveu John Isner, norte-americano que se encontra atualmente no 24.º lugar do ranking mundial. “Sei pouco para avaliar a situação. O que sei é que o Novak foi sempre o primeiro a chegar-se à frente pelos jogadores e agora nenhum de nós o apoiou. Mantém-te forte Djokovic. E, pessoas, não me chamem anti-vacinas, por favor”, referiu a francesa Alizé Cornet.

Miomir Kecmanovic, que seria o primeiro adversário de Novak Djokovic no Open da Austrália, criticou também todo o processo que afastou o compatriota. “Não falei com muitos jogadores mas com os que falei estão de acordo que tudo isto foi uma tontice e que nunca devia ter acontecido. Foi tratado de forma injusta pelos políticos. Não jogar é uma grande perda para o desporto”, destacou o sérvio.

“A política firme de proteção das fronteiras da Austrália manteve-nos em segurança durante a pandemia de Covid-19. Os australianos fizeram grandes sacrifícios para aqui chegar e o governo Morrison está fortemente decidido a proteger essa posição”, comentou de forma lacónica Alex Hawke, ministro da Imigração que esteve na origem do segundo ato da novela ao revogar o visto do jogador sérvio.

“A decisão de revogar o visto tinha sido tomada por razões de saúde, de segurança e de ordem, tendo por base o interesse público. Agradeço a decisão para manter as nossas fronteiras fortes e os australianos seguros. Como referi na sexta-feira, os australianos fizeram muitos sacrifícios durante a pandemia e esperam que o resultado desse sacrifício seja protegido”, salientou também Scott Morrison, primeiro-ministro da Austrália, entre elogios às políticas adotadas pelo país em relação à pandemia e ao trabalho que é feito a nível de fronteiras que não pode conhecer exceções sob pena de se tornar depois infrutífero.

“Em último caso, as decisões das autoridades tendo em contra matérias de saúde pública devem ser respeitadas. É preciso mais tempo para fazer um balanço e tirar conclusões desta situação”, defendeu o ATP Tour, prosseguindo: “Independentemente de como se chegou a este ponto, Novak é um dos grandes campeões  do ténis e a sua ausência do Open da Austrália é uma perda para o jogo Sabemos o quão turbulentos foram os últimos dias para Novak e o quanto ele queria defender o seu título em Melbourne. Desejamos-lhe tudo de bom e esperamos vê-lo no court em breve”. “O ATP continua a recomendar fortemente a vacinação para todos os jogadores”, acrescentou ainda o mesmo comunicado da organização.