O Egito preparava a estreia no Estádio Ahmadou Ahidjo, em Yaoundé (até aí jogara em Garoua), quando Carlos Queiroz desarmou os presentes com uma tirada daquelas que a brincar falam muito a sério.
– Faltou a luz? Precisamos de um número 10 para arranjar a eletricidade!
A primeira reação do treinador português perante a falha de energia na sala de imprensa gerou muitos risos entre todos os presentes, na sua maioria jornalistas, mas o momento de boa disposição acabou também por revelar a forma como Queiroz não gostou de ver as críticas táticas aos dois primeiros encontros da equipa egípcia na Taça das Nações Africanas (derrota com a Nigéria, vitória diante da Guiné-Bissau) mas dividiu essa análise em dois blocos, um de forma irónica e outro de uma maneira mais “analítica”.
“5x5x0 na folha da constituição das equipas concedida pela Confederação Africana de Futebol? Isso vou deixar para o livro sobre piadas no futebol. Não é a CAF que me paga, é a Federação do Egito. Não posso fazer nada por vocês mas depois do jogo ficarei feliz em ajudá-los”, começou por referir.
“Três no meio-campo com ausência de um número 10? Jogamos com uma mentalidade que não se resume a três jogadores no meio-campo, jogam três, quatro, cinco, seis, sete, oito se necessário… Não jogamos com três avançados, jogamos com seis, sete, oito se necessário… Não jogamos com quatro defesas, jogamos com 11 se necessário… É assim o futebol moderno, atacamos como equipa, unidos, e defendemos como equipa, também unidos. Eu acho temos um número 10 na equipa. Não podemos jogar futebol de topo numa seleção e achar que a criatividade se resume a um 10. Todos, desde a defesa ao ataque, devem ter a qualidade e a inspiração para ser, na altura certa, o 10 da equipa, porque são jogadores de seleção nacional. Esta é a minha humilde opinião. O futebol é um jogo de opiniões e de erros, eu tenho as minhas opiniões, vocês têm as vossas, no final está tudo bem, desde que todos se respeitem”, argumentou depois.
Pode haver críticas ao Egito, às principais figuras da equipa e a Carlos Queiroz mas o técnico continua sem mexer um centímetro em relação ao que foi proposto. “A equipa tem dado uma resposta fantástica desde que cheguei. Como sabem cheguei apenas em outubro, tivemos um estágio e todas as decisões têm sido tomadas em cima da competição mas mesmo num período de tempo tão curto temos conseguido recuperar o bom espírito e especialmente a alegria da equipa nacional do Egito. Os jogadores têm mostrado grande atitude e comprometimento. Para mim isso é o mais importante, o moral, a alegria de jogar, e por isso confio muito que farão um bom jogo com o Sudão”, atirou, antes de falar sobre o adversário.
“Nunca fazemos distinção entre grandes equipas e pequenas equipas, respeitamos sempre os nossos adversários da mesma forma. O importante é que possamos fazer o nosso futebol, jogar bem e ganhar o jogo. Para nós, seja perante Sudão, Nigéria ou Argélia, jogamos sempre da mesma forma. Não jogamos contra nomes, jogamos contra adversários que também querem ganhar, e por isso temos que fazer o nosso melhor”, referiu antes de uma “final” na fase de grupos jogada ao mesmo tempo do Nigéria-Guiné-Bissau.
Contas feitas, não houve surpresas e imperou a lei do mais forte: os nigerianos derrotaram a Guiné-Bissau com golos de Umar Sadiq (56′) e Troost-Ekong (76′) e seguraram o primeiro lugar do grupo D, tendo agora pela frente um dos terceiros classificados apurados na fase de grupos, ao passo que os egípcios voltaram a vencer pela margem mínima o Sudão com um golo de Abdel Monem na sequência de um canto (35′), num jogo em 4x3x3 onde o 1-0 não expressa o domínio dos faraós na partida apesar de um livre perigoso do Sudão já nos minutos finais da partida que ainda assustou Queiroz depois de várias oportunidades falhadas. Agora, o Egito terá pela frente nos oitavos o vencedor do grupo E, que parte com Costa do Marfim na frente tendo ainda Guiné Equatorial, Serra Leoa e Argélia como candidatos a chegarem à fase a eliminar.