Novak Djokovic já tinha admitido uma violação do isolamento obrigatório depois de saber que teria testado positivo a meio de dezembro, um crime à luz do artigo 248 do Código Penal da Sérvia que foi cometido para que não desmarcasse uma entrevista com o L’Équipe. E tinha também assumido, perante todas as dúvidas e imagens reveladas pela imprensa, que existiam erros no formulário que enviou às autoridades quando aterrou em Melbourne, nomeadamente o facto de dizer que não tinha feito qualquer viagem nos 14 dias anteriores. Todavia, e ao longo da audiência no Tribunal Federal na madrugada de sábado para domingo, nenhum destes factos foi colocado como o mais relevante. E foram até referidos de passagem.

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Agora percebe-se porquê. Pela defesa e pela acusação. Porque havia algo superior a isso.

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Os três juízes do Tribunal Federal, que fizeram a audiência noutras tantas cidades australianas (um em Sidney, outro em Adelaide, outro em Melbourne), revelaram esta quinta-feira em termos públicos os motivos que levaram a indeferir o pedido de recurso do sérvio à decisão de revogação do visto tomada de forma pessoal, como está previsto nas leis australianas, pelo ministro da Imigração, Alex Hawke – que, até por ser a segunda, fará com que o jogador não possa entrar no país nos próximos três anos. E, na súmula dos 106 pontos que explicam a decisão, há um que impera: a questão do movimento anti-vacinas.

“Apesar de aceitarmos que a recente infeção por Covid-19 de Djokovic comporte um risco insignificante de infeção e, por isso, comporte um risco insignificante para quem o rodeia, a sua presença na Austrália, dada a sua bem conhecida posição sobre a vacinação, gera um risco de crescimento do movimento anti-vacinas numa minoria da população australiana”, referem numa argumentação que sustenta que “um certo grupo da sociedade poderá considerar Djokovic como herói símbolo da liberdade de se vacinar ou não”. “Foi possível inferir que foi percebido pelo público que o senhor Djokovic não era a favor das vacinas”, frisou.

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“A possível influência [que Novak Djokovic poderia ter sobre essas pessoas] vem do senso comum e da experiência. Um ícone do mundo do ténis pode influenciar pessoas de todas as idades, jovens ou maiores, mas especialmente os mais jovens e impressionáveis que o quiseram emular. Isto não é um dado que seja especulativo, não necessita de evidência”, pode ler-se no extenso documento assinado pelos três juízes australianos que estiveram na sessão, James Allsop, Anthony Besanko e David O´Callaghan.

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“Considerando o interesse público, acreditamos que as pessoas não vacinadas comportam um maior risco de contágio por Covid-19 e de propagação aos outros, mais do que as pessoas vacinadas, o que pode levar a uma saturação do sistema de saúde”, acrescenta ainda a esse propósito.

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“O Tribunal não está aqui para considerar os méritos ou a sabedoria da decisão, a tarefa do Tribunal é decidir sobre a legalidade ou não da decisão. Outra pessoa que estivesse no cargo do ministro [Alex Hawke] poderia não ter cancelado o visto do senhor Djokovic. Este ministro fez isso”, destacou também.

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