Uma planta no canto do olho faz diferença. Várias plantas em casa, em pontos estratégicos ou de preferência pessoal, fazem uma revolução. No livro Terapia das Plantas — Como um oásis verde interior pode melhor o seu bem-estar mental e emocional, a autora e psicóloga britânica Katie Cooper, que tem mais de 200 plantas entre quatro paredes, encara as plantas domésticas como uma ferramenta terapêutica ao longo de cinco capítulos.
Sugestões práticas para criar ambientes mais verdes, em casa ou no trabalho, dicas para vivermos mais próximos da natureza e um guia de plantas, ora “respiradoras” ora “restauradoras”, animam as páginas de um livro esteticamente aprazível que mistura fotografias de uma verdura inspiradora com dados entusiasmantes que nos fazem querer dar um salto à estufa local. Mas antes uma explicação breve para entender o “poder” das plantas.
A modernidade que engoliu a natureza
“Nunca foi tão importante compreender a relação entre as plantas e as pessoas, dado que a urbanização engole os ecossistemas da terra.” A relação descurada e descuidada do ser humano com a natureza, da qual este depende, é ponto fulcral e omnipresente no trabalho assinado pela psicóloga Katie Cooper. E é também um ponto de partida para a reflexão. Afinal, em 2050 75% da população mundial viverá em cidades e a isso acresce o tempo passado em casa: “No Ocidente, somos agora predominantemente uma espécie que vive dentro de quatro paredes, com a média americana a passar 93% do seu tempo dentro de casa, e a média europeia, 90% — ou seja, menos de meio dia por semana passado ao ar livre, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental”.
A relação, ou falta dela, com o mundo natural traz prejuízos além daqueles amplamente mediatizados. Não estão apenas em causa as alterações climáticas, o esgotamento dos recursos naturais ou a extinção em massa de espécies, mas sim questões do foro mental, sobretudo numa altura da história em que a depressão e a ansiedade custam à União Europeia cerca de 170 biliões de euros. O vilão desta história é o stress — de acordo com uma previsão da Organização Mundial da Saúde, será o maior contribuinte para a doença mental por volta de 2030.
É aqui que a natureza entra em cena, com a autora a defender que existe um conjunto crescente de provas que mostram que esta “é um poderoso regulador dos nossos níveis de stress”. “Estar na natureza ajuda a ativar o nosso sistema parassimpático, o meio natural de destressar o corpo, que atua para promover o relaxamento ou o restabelecimento.” A importância do apego ao mundo natural e a influência deste na regulação do stress fazem parte da conversa, bem como o termo “síndrome do défice de natureza”, descrito em 2005 pelo jornalista Richard Louv no livro “Last Child in the woods”. “Louv traz para primeiro plano uma investigação científica em expansão, sugerindo que a síndrome do défice de natureza contribui para questões sociais como a obesidade, doenças emocionais e físicas, dificuldades de atenção e uma diminuição do uso dos nossos sentidos.”
Plantas e saúde. O que diz a ciência?
Ao longo do livro, a autora destaca evidências que confirmam a existência de uma “clara ligação” entre estar na natureza e saúde e bem-estar, enumerando benefícios como melhor imunidade, melhor qualidade do sono, redução dos níveis de stress, da depressão e da ansiedade, e ainda o aumento do sentimento de felicidade. Destaca também os efeitos positivos já estudados e confirmados da prática japonesa dos banhos de floresta, ou shinrin-yoku, que tão simplesmente implica passar tempo debaixo das copas das árvores — mas na falta de uma floresta nas traseiras de casa, a boa notícia é que “qualquer contacto diário com natureza faz a diferença”.
As investigações realizadas nesta área já são tão persuasivas que começam a influenciar as iniciativas e políticas governamentais: o governo holandês prevê uma poupança de mais de 65 milhões de euros por ano no orçamento de saúde ao investir em espaços verdes nas suas cidades, enquanto no Japão, os banhos de floresta são reconhecidos como uma forma de medicina preventiva e têm sido incorporados no plano nacional de saúde.”
Do exterior para o interior, apresentados os argumentos a favor dos espaços verdes, ter plantas em casa pode melhorar o nosso bem-estar dado os “benefícios multifacetados”, isto é, ambientais, fisiológicos, cognitivos e afetivos — estudos demonstram que as plantas podem aumentar a humidade numa sala até 15%, além de terem qualidades purificadoras do ar, com outros a sinalizar que a nossa tolerância à dor aumenta quando estamos rodeados de plantas. Além de ajudarem a filtrar a poluição atmosférica, também o fazem tendo em conta a poluição sonora, uma vez que ajudam a gerir a acústica nos interiores. Mais: “O envolvimento ativo com as plantas também pode aumentar os sentimentos de ‘autodomínio’ (a perceção de que estamos a controlar as nossas vidas) e da coesão social. Uma forma conhecida de melhorar o estado físico e emocional das pessoas que sentem que têm diminuído o controlo sobre as suas próprias vidas é encorajando-as a assumir a responsabilidade por outro ser vivo”.
A importância dos padrões fractais — formas que se repetem à medida que são ampliadas e que, na natureza, são tudo menos exatas — não passa ao lado da autora. “Os padrões fractais estão por toda a parte na natureza (…) e, como resultado, pensa-se que os nossos olhos evoluíram para os processar facilmente. O excecional equilíbrio da previsibilidade e variabilidade dos padrões torna-os fáceis de observar, mas suficientemente interessantes para nos manterem concentrados. Estudos demonstram que a fluência com que percebemos os padrões fractais nos coloca à vontade e pode ter um efeito imediato de redução do stress.”
Plantas de interior, uma intervenção
Ainda que os mais céticos possam achar exagerada a ideia de que as plantas interferem ou influenciam na forma como nos comportamentos ou sentimos — disclaimer feito no livro — a autora dá dicas úteis sobre o que fazer e não fazer. É, por exemplo, altamente desaconselhado deixar uma planta deteriorar-se à vista de todos, até porque, quer se esteja ou não consciente disso, tal poderá aumentar os níveis de ansiedade. Outra dica? Ao invés de nos ficarmos pelas plantas favoritas e de confiança — como aquelas que já sabemos serem resistentes a eventuais descuidos —, a ideia é mesmo reunir uma gama diversificada em casa. “Pensa-se que ao imitar um habitat que é rico e abundante, pode ajudar-nos a sentirmo-nos mais seguros e alegres.”
Escolher plantas ao invés de usar ornamentos ou obras de arte caras para decorar a casa, dizer adeus a mobiliário de plástico ou metal e optar por materiais naturais, como madeira, pedra ou tecidos biológicos, são alguns conselhos para criar um ambiente regenerador em casa, bem como desenhar jardins suspensos. Fundamental mesmo é escolher entre plantas “respiratórias” ou “restauradoras” — as primeiras ajudam a melhorar a qualidade do ar (palmeira-areca, ninho-de-passarinho, hera-do-diabo, língua-da-sogra ou flor-da-fortuna), as segundas têm uma influência regeneradora sobre nós, fisiológica e psicologicamente (estrelícia, ficus microcarpa, planta chinesa do pinheiro, samambaia-de-crocodilo, maranta-riscada ou cacau selvagem). Dúvidas na escolha serão certamente resolvidas na “plantopédia” reservada para o final do livro.