O dirigente do Livre Rui Tavares alertou este sábado em Almada para o perigo de propostas que pretendem aumentar os níveis de preconceito contra a comunidade cigana em Portugal.

Sem mencionar o nome de nenhum partido, o cabeça de lista do Livre por Lisboa, que esteve este sábado numa sessão pública no Parque da Paz, em Almada, começou por lembrar a “importância do legado de Joaquim Benite”, fundador do Teatro de Almada falecido em 2012, que se orgulhava das suas raízes ciganas.

“Sabemos que há partidos que têm propostas de exclusão que são muitas vezes centradas no aumento do preconceito contra uma das comunidades que já sofre de mais preconceito secular em Portugal. Têm propostas que pretendem aumentar os níveis de ciganofobia neste país”, disse no discurso que fez na sessão com os seus apoiantes.

O fundador do Livre fez questão de aludir à última vez que conversou com o encenador e diretor, dando-o como exemplo de alguém que muito contribuiu para a cultura. “Na última conversa que tivemos demonstrava um grande orgulho na sua autoidentificação e nas suas raízes como pessoa cigana. Nos anos 90 tive a sorte de conhecer uma pessoa muito importante para a cultura de Almada e que tem o seu nome no Teatro desta cidade. Joaquim Benite foi alguém que fez cultura e ajudou a construir a esfera pública e política desta cidade”.

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Rui Tavares, que teve ao seu lado Paulo Muacho, cabeça de lista por Setúbal do Livre, considerou que nas últimas legislativas foi “esbanjada” a maior maioria de esquerda de sempre.

“Estas são umas eleições pelas quais a maior parte de nós não esperava, embora houvesse quem tivesse avisado desde o início que a falta de um acordo escrito no início da legislatura iria encurtar a legislatura, tornando-o menos escrutinada. A maior maioria de esquerda de sempre foi esbanjada quando deveria ter sido utilizada para os grandes combates de esquerda do nosso país”, considerou.

Na ocasião, Paulo Muacho, que encabeça a candidatura do Livre em Setúbal, alertou para os problemas do distrito que continuam por resolver, destacando, entre outros, as questões relacionadas com o ambiente e a saúde.

“Somos completamente contra o Aeroporto de Alcochete, que colocaria em causa a biodiversidade do estuário do Tejo. Somos pela defesa da Arrábida e do estuário do Sado e contra as dragagens que aí são feitas. Na saúde, as situações do Hospital de Setúbal e no Garcia de Orta, em Almada, são complicadíssimas e requerem soluções. O hospital do Seixal continua à espera para ser uma realidade. São promessas atrás de promessas por cumprir”, acusou.

Tavares foi ao Casal da Boba beber poncha com moradores a pedir que não apareçam só em campanha

Também na Amadora, o dirigente do Livre Rui Tavares visitou o bairro do Casal da Boba, na Amadora, e entre uma poncha e cafés, ouviu apelos para que os partidos, principalmente à esquerda, não apareçam só na altura da campanha.

Uma comitiva de cerca de três dezenas de apoiantes do Livre percorreu algumas ruas e cafés do Casal da Boba, mas Rui Tavares foi interpelado logo a seguir ao almoço no restaurante “O Fontainhas” por José Pina, habitante do bairro, que lhe deixou alguns apelos.

“Você disse que queria uma esquerda unida, eu quero essa esquerda a não brincar com as pessoas. Usar agendas políticas com um ser humano é falta de caráter. Portanto eu, aproveito que estão todos aqui, [para apelar] que a esquerda venha às comunidades, não venham aqui só em campanha, venham ver as pessoas porque se também não há interesse político dessas comunidades é por excluí-los”, defendeu.

José apelou a um combate ao racismo institucional e pediu mais atenção para as periferias, que na sua opinião são muitas vezes excluídas ou “usadas como bode expiatório do mal de como vai o país”, lamentando ainda problemas no acesso a documentação.

“Temos uma mancha de jovens que de 1981 para a frente continuam a não ter nacionalidade e isso é privar dos direitos e de oportunidades para viajar, para trabalhar, para comprar casa, para várias coisas. Esses jovens nasceram aqui não precisamos de integração, precisamos de inclusão”, defendeu, enquanto Rui Tavares concordava.

Rui Tavares, cabeça-de-lista por Lisboa, lembrou os tempos em que dava explicações nos anos 90 na Cova da Moura, outro bairro do concelho, “onde só se ouvia falar para dizer ‘a polícia não entra lá’”.

“Eu ia lá todas as semanas, estava lá a polícia. Tudo o que se dizia era uma caricatura da realidade do que havia lá”, sustentou o dirigente, apontando que o centro de explicações desse bairro “ajudava os miúdos a chegar até ao 12º ano e a sonhar entrar para a universidade, que é uma coisa cada vez mais importante e que tem que chegar a todo o lado”.

Na despedida, José Pina desejou uma “continuação de boa campanha a todos os partidos que são a favor da justiça, da igualdade e da solidariedade” e Rui Tavares seguiu o percurso até ao café “Doces da Sandra”, para a esperada poncha.

Na modesta banca esperava-o Sandra, que já preparava a bebida em tons de amarelo, rosa e até azul, um cocktail alcoólico de vários sabores, desde morango, coco, manga e até nutella.

“Como dizia a minha avó, se isso é tudo bom, junto tem de ser melhor”, gracejou Rui Tavares antes de brindar “à união, à solidariedade e a ter responsabilidade e visão de futuro”, num recado à esquerda.

Sandra lamentou as dificuldades que passou desde que chegou a Portugal, aos nove anos, nomeadamente no acesso a documentação que não teve durante “bastante tempo” ou sítios onde trabalhou e não recebeu, mas mostrou-se feliz com o seu pequeno negócio.

Por entre escadas e ruelas, Tavares e a sua comitiva com bandeiras chegaram ao café “Encosta Nascente”, local onde o dirigente aproveitou para abordar também um tema que tem sido recorrente na campanha do partido, o frio que se passa nas casas do país.

No início do percurso Rui Tavares confessou que não contava trazer esse assunto para aquela ação novamente, mas que quando chegou ouviu lamentos dos moradores sobre o mau isolamento das casas, o frio, mas também incêndios causados pela humidade que entra pelas paredes e provoca curto-circuitos nas caixas de eletricidade.

No balcão do café, Maria de Lurdes também se queixou do frio e deixou o mesmo recado aos partidos que José: “Quando há campanha eles vêm, prometem mundos e fundos, mas depois fica tudo igual, não fazem mais nada”, lamentou.

Em tom leve e rindo, Tavares muniu-se da famosa expressão do dirigente comunista Álvaro Cunhal: “Olhe que não, olhe que não”, respondeu, acrescentando que é preciso fazer um trabalho de “credibilização da política”.

Questionada sobre o que pediria se pudesse, a moradora apelou às forças políticas para “olharem mais pelos pobres e pelos bairros que têm necessidades”.