A Marinha norte-americana intercetou na semana passada, no Golfo de Omã, um navio iraniano sem bandeira carregado de compostos químicos que podem ser utilizados para fazer explosivos, anunciou este domingo a 5.ª Frota Naval dos Estados Unidos.

“As forças norte-americanas descobriram 40 toneladas de fertilizante de ureia, um composto químico com aplicações agrícolas que também é conhecido por ser utilizado como um precursor explosivo”, lê-se num comunicado da frota com base no Bahrein.

O incidente ocorreu na terça-feira, 18 de janeiro, “durante um embarque para verificação da bandeira e subsequente inspeção”, segundo o comunicado citado pelas agências noticiosas France-Presse, Associated Presse e EFE.

O navio era proveniente do Irão e navegava por uma rota em águas internacionais “historicamente utilizada para o tráfico de armas para os Houthis do Iémen”, de acordo com a declaração das forças norte-americanas.

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Trata-se de um grupo rebelde xiita apoiado pelo Irão que está em guerra com o Governo internacionalmente reconhecido do Iémen.

O mesmo navio iraniano já tinha sido intercetado em fevereiro de 2021, ao largo da costa da Somália, com um carregamento de armas de guerra a bordo, segundo os militares norte-americanos.

“Na sequência da interceção de 18 de janeiro, a Marinha dos EUA transferiu o navio, a carga e cinco tripulantes iemenitas para oficiais da Guarda Costeira do Iémen no dia 21 de janeiro”, acrescenta a 5.ª Frota Naval no comunicado.

A apreensão agora divulgada surge num momento de grande tensão na região: em 17 de janeiro, os Houthis levaram a cabo um ataque sem precedentes nos Emirados Árabes Unidos com ‘drones’ (aviões não tripulados) e mísseis, em que morreram três pessoas.

Em resposta, a coligação liderada pela Arábia Saudita que ajuda o Governo iemenita a combater os rebeldes lançou ataques aéreos contra posições dos Houthis.

A coligação reconheceu ter atacado Sanaa e Hodeida, onde morreram pelo menos 17 pessoas, mas negou ter bombardeado uma prisão em Saada, um bastião Houthi no Norte, que matou pelo menos 80 pessoas e feriu mais de 100.

A coligação e os seus aliados, incluindo os Estados Unidos, acusam regularmente o Irão de apoiar os Houthis com meios militares, o que Teerão nega.

Com base em Manama, capital do pequeno reino insular do Bahrein, a Quinta Frota da Marinha norte-americana efetua ações de vigilância no Médio Oriente, no Golfo Pérsico e na Ásia Central.

A atual guerra no Iémen matou 130.000 pessoas desde 2015, tanto civis como combatentes, e exacerbou a fome e a miséria em todo o país.

O conflito no Iémen é considerado pela ONU como a maior tragédia humanitária atual do planeta: 80% da população do país necessita de algum tipo de assistência para colmatar as necessidades básicas.

Localizado no Médio Oriente, junto ao Mar Arábico, Golfo de Aden e Mar Vermelho, e com fronteiras com Omã e a Arábia Saudita, o Iémen tem uma população de cerca de 33 milhões de pessoas.

Liga Árabe pede que houthis do Iémen sejam considerados terroristas

A Liga Árabe pediu este domingo a todos os países que considerem os rebeldes houthis no Iêmen como uma “organização terrorista”, após o ataque de mísseis de segunda-feira, contra os Emirados Árabes Unidos (EAU), que provocou três mortes.

Numa sessão extraordinária realizada hoje no Cairo, a Liga Árabe pediu a “todos os países que classifiquem o movimento houthi como uma organização terrorista, na sequência de ataques com mísseis e aviões não tripulados (‘drones’) contra os Emirados Árabes Unidos”.

Num comunicado, a organização pan-árabe pediu igualmente ao Conselho de Segurança da ONU que tome “uma postura firme e unida” contra os ataques dos insurgentes houthis e apoiou o direito dos EUA à “legítima defesa”, para responder às “agressões ao direito internacional”.

Na passada segunda-feira, os rebeldes xiitas, apoiados pelo Irão, atacaram uma zona do aeroporto internacional de Abu Dhabi e uma zona industrial desta cidade, provocando uma severa resposta da coligação militar liderada pela Arábia Sauita contra as posições houthis no Iémen.

Ao longo desta semana, a coligação lançou um violento ataque contra a capital do Iémen, Saná, que provocou 14 mortos e 11 feridos.

Na sexta-feira, aviões de combate da coligação realizaram uma ação em que destruíram a torre de telecomunicações na cidade de Al Hudeida, o que causou uma interrupção total do serviço de Internet em todo o país, enquanto um outro ataque, nesse mesmo dia, contra um centro de detenção em Saada, no norte do Iémen, provocou quase 90 mortos e mais de 200 feridos.

Após o ataque aos EAU, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o seu Governo está a reconsiderar a possibilidade de voltar a incluir os houthis na sua lista de organizações terroristas.

No início do ano passado, o Governo dos EUA tinha removido os houthis dessa lista, revertendo uma decisão anteriormente tomada pelo ex-Presidente Donald Trump, nos seus últimos dias no poder.

A decisão de Biden foi tomada “em reconhecimento à terrível situação humanitária no Iémen”, palco da pior tragédia humanitária do mundo, segundo a ONU.