O CDS fechou a noite de terça-feira com um comício para assinalar os 47 anos do cerco ao primeiro congresso do CDS, no Palácio de Cristal, no Porto. E foi Rui Moreira quem mais aplausos recolheu. O presidente da Câmara do Porto, apoiado pelos centristas nas autárquicas, traçou um paralelismo entre a difícil noite para o CDS de 25 para 26 de janeiro de 1975 com os tempos atuais: é que, diz, há quem ainda queira ver o partido cercado.

Cerco ao Palácio de Cristal: as 12 horas mais longas da vida do CDS

Moreira lembrou o episódio. levado a cabo por grupos ligados à esquerda ao longo de 12 horas, como uma página “vergonhosa”, mas ao mesmo tempo “gloriosa” — porque “houve os que ficaram dentro e ganharam e os que ficaram fora e perderam e tem perdido sucessivamente”. Só que, diz, alguns dos que perderam ainda “não se esqueceram que perderam”.

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“São eles que têm vergonha de se lembrar deste dia e de celebrar o 25 de novembro. São eles que põem a pele de cordeiro e agora até um ar de pastorinha de Fátima. Se eles pudessem, se nós deixássemos agora, eles estavam ali fora a não nos deixavam sair”, defendeu. Por isso, deseja “muito bons resultados” ao partido de Rodrigues dos Santos, no final de um discurso muito aplaudido.

O presidente da autarquia fez questão de justificar a presença no evento organizado pelo CDS em plena campanha eleitoral com a necessidade de agradecer ao partido por ter sido “a única” força política que apoiou as suas três candidaturas à autarquia. “Espero sinceramente não vos ter desiludido”, apontou, num breve discurso, com Francisco Rodrigues dos Santos na plateia.

Na primeira candidatura, disse, “a decisão que o CDS tomou foi difícil” porque o partido vinha de “três mandatos consecutivos em aliança com o PSD” e os social-democratas apresentavam uma “candidatura muito forte”. Da segunda vez foi “mais fácil”, mas da terceira — em setembro passado — o cenário voltou a complicar-se, com o envolvimento do autarca no caso Selminho (do qual já foi absolvido). “Caíram sobre mim suspeitas e calúnias complicadas que felizmente se resolveram na passada sexta-feira. Mais uma vez, o CDS esteve comigo”, afirmou. E foi fortemente aplaudido.

Lobo Xavier: CDS continua cercado, mas agora é à direita

O histórico militante do CDS António Lobo Xavier, que apoiou Rodrigues dos Santos nas eleições à presidência do partido, deixou uma mensagem em vídeo para marcar os 47 anos do cerco ao Palácio de Cristal. Lobo Xavier também encontra “pontos de contacto” entre o episódio e a atualidade. Só que se antes o cerco era feito pela esquerda, agora é pela direita.

Há 47 anos, o cerco era feito por uma esquerda que se queixava de que “não tinha tido liberdade para existir no Estado Novo” e “impedia a direita democrática de exercer a sua liberdade de expressão e ação política”. Mas “o CDS resistiu” e foi naquele congresso que “forjou o projeto” que depois levaria às eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.

Mas hoje o problema é à direita. O partido está “cercado não por essa esquerda que entretanto foi branqueada” — Lobo Xavier acredita que o episódio trágico “desapareceu da cabeça das pessoas” —, mas pelas “dificuldades que resultam do facto de haver vários projetos que podem confundir o eleitorado, sobretudo à direita do PS”.

O CDS, argumenta, compara bem com essas novas forças políticas: à direita tem um “partido não democrático” que “despreza valores fundamentais da civilização” (disse, aludindo ao Chega sem o referir) e a Iniciativa Liberal (nome que já mencionou) “que tem boas ideias para a economia, mas não sabe o que fazer à pobreza e à fragilidade do país”.

“O CDS tem tudo isto, mantém-se igual ao tempo do Palácio de Cristal, defensor da família, dos valores da vida, da iniciativa e do progresso e atento à justiça social”, embora esteja “ameaçado na sua existência”, reconhece. “O CDS está cercado e, como hoje, tenho a certeza de que vai resistir.”

CDS “cresceu sob cerco”, diz líder do partido

No discurso de encerramento da cerimónia, que ainda se prolongou com um jantar, Francisco Rodrigues dos Santos também traçou paralelismos entre o cerco de 75 e o atual. “Naquela altura, como hoje, opunham-se à democracia todas as forças antidemocráticas que queriam a liberdade só para eles. Nós sempre escolhemos o lado certo, do 25 de novembro, lutarmos até às últimas consequências”. Foi esse o CDS que, refere, “cresceu sob cerco e debaixo de fogo que ainda hoje nos cumpre defender”.

O CDS “é um partido que nunca morrerá porque tem alma”, adiantou.

Rodrigues dos Santos voltou a disparar contra a ideia de um bloco central — e se na segunda-feira acusou o PSD de estar na iminência de se tornar o partido da toranja (“laranja por fora, vermelho por dentro”) hoje prefere uma analogia mais ‘doce’: “Com um CDS forte haverá uma governação laranja de direita no governo. Sem um CDS forte haverá uma torta de laranja no governo.”