Não é a totalidade, mas a grande maioria do gás natural importado pela Europa vem da Rússia. Dos três quartos que chegam de fora, 41% são comprados à Rússia, 16% à Noruega, 8% à Argélia e 5% ao Qatar, segundo dados do Eurostat. Por isso, a hipótese de ver cortado esse fornecimento durante um inverno rigoroso é bastante real (e não seria sequer a primeira vez), à medida que a Rússia continua com manobras militares perto da fronteira com a Ucrânia.
A tensão diplomática cresce e sabendo que o gás natural é uma arma económica importante de Putin e um trunfo que pode querer jogar, mesmo que cortar o fornecimento a um cliente como a Europa traga custos para o seu país, os Estados Unidos estão apostados em encontrar uma solução alternativa. A ideia da administração de Joe Biden é garantir que a Europa não tenha de lidar com um corte de fornecimento de energia repentino. Ao ampará-la energeticamente, os Estados Unidos contam poder vê-la alinhar-se mais facilmente com as sanções que o Presidente Joe Biden pretende impor.
Entre os líderes europeus o tom tem sido de cautela sobre o que farão se Moscovo invadir a Ucrânia — ideia que Vladimir Putin garante não estar nos seus planos. A Alemanha, por exemplo, quando decidiu encerrar as suas centrais nucleares ficou mais dependente das importações. Se ao gás juntarmos o petróleo bruto, a Rússia fornece um terço das importações da União Europeia.
Esta terça-feira, a imprensa norte-americana dava conta de que Washington — para além das medidas de apoio militar à Ucrânia — tem mantido negociações com fornecedores de gás e petróleo espalhados pelo Médio Oriente, Ásia e África. O objetivo? Aumentar a produção de gás natural liquefeito para que possa ser desviado para a Europa no caso de haver uma interrupção de fornecimento russo devido a pressão política.
No entanto, nem tudo corre como esperado. Segundo a agência Reuters, as reservas de energia são baixas e as empresas do setor duvidam da capacidade de alimentar as necessidades do continente europeu em caso de rutura com a Rússia.
Já o New York Times, cita um alto funcionário do Governo norte-americano sobre esta matéria. “Esperamos estar preparados para garantir abastecimentos alternativos” cobrindo parte significativa de um potencial défice energético. “Se a Rússia decidir armar o seu fornecimento de gás natural ou de petróleo bruto”, acrescentou a mesma fonte, “não seria sem consequências para a economia russa”, já que “é uma economia unidimensional, e isso significa que precisa de receitas de petróleo e gás tanto quanto a Europa precisa do fornecimento de energia”.
Quem tem estado alinhado com Washington desde o primeiro minuto é Londres. O primeiro-ministro britânico, que diz estar disposto a enviar mais tropas para a região se a Ucrânia for atacada, lembrou que os “amigos europeus” estavam preocupados em impor as sanções mais duras por causa da forte dependência do gás russo.
Apesar disso, a mesma fonte da administração Biden garantiu que há uma convergência “notável” entre norte-americanos e europeus. Mais: o impacto das sanções será muito maior do que a resposta em 2014 quando a Rússia anexou a Crimeia, território ucraniano. “O gradualismo do passado acabou, e desta vez vamos começar no topo da escalada e ficar por lá.”