Um grupo de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a estudar o processo de envelhecimento do Vinho do Porto para construir de modelos que permitam padronizar as condições de armazenamento e atingir a qualidade desejada.
Desenvolvido no âmbito do projeto de I&D denominado SMARTAGEING (Sistema de Apoio à Decisão para o Envelhecimento de Vinho do Porto Branco), o projeto, a três anos, é liderado pela empresa WineGrid, com participação da empresa Vallegre, Vinhos do Porto, S.A. e envolve investigadores do Laboratório de Química Alimentar e do Vinho do Centro de Química — Vila Real e do CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas e do INESC-TEC polo UTAD.
Financiado pelo COMPETE2020, Portugal2020 e FEDER, a investigação, com um valor de cerca de 1,5 milhões de euros, e divulgada na véspera do Dia Internacional do Vinho do Porto, tem como objetivo primário compreender mais aprofundada o processo de envelhecimento do Vinho do Porto, aferindo as variáveis químicas e ambientais que a afetam a sua qualidade, explicou à Lusa, o investigador Fernando Nunes da UTAD.
Após a recolha destes dados, acrescentou, a investigação avança para uma segunda fase, com a construção de modelos de previsão.
Através da colocação de sensores nos barris será possível aferir a cor, o teor de oxigénio, o PH e a deturpação do vinho de forma a, se necessário introduzir alterações nas condições de armazenamento para “atingir um determinado parâmetro de qualidade”.
“Muitas vezes, o problema é que essas análises são feitas por via sensorial do enólogo. Este modelo permitiria que, mesmo à distância, consultar, por exemplo, utilizando uma ‘app’ [aplicação para telemóvel] ver como está o envelhecimento e recomendar alterações ao nível das condições de armazenamento para obter um determinado resultado final”, exemplificou Fernando Nunes.
Com a introdução destes sensores, a monitorização seria constante e em tempo real.
“Num estudo anterior que fizemos sobre os vinhos do Porto Twany Branco, verificámos que devido à variabilidade dos barris que são utilizados, as condições de armazenamento não são iguais em todos os barris. Com esta investigação, a ideia seria poder de certa forma uniformizar, padronizar as condições de maneira a atingir uma determinada consistência no produto final“, concluiu.
Questionado sobre as conclusões de um estudo científico realizado por uma equipa da Universidade de Groningen, na Holanda, que apontam para que metade de um conjunto de vinhos do Porto Tawny 10 anos e Tawny 20 anos, comprados aleatoriamente em lojas holandesas e sujeitos a análises de laboratório em Groningen, são menos velhos do que o declarado no rótulo, o investigador disse não conhecer o estudo para além do que foi noticiado, mas alertou para o facto de os Tawny serem feitos por lote.
“Em termos de legislação, os tawny são produzidos por loteamento, podemos ter vinhos mais velhos e vinhos mais novos, ele tem de ter é em termos sensoriais uma característica idêntica ao de 10 ou de 20 anos”, referiu, salientando mais uma vez que não conhece o estudo.
Numa às conclusões do estudo, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) garantiu, ao Expresso que avançou com a notícia em 13 de janeiro, que o vinho “está perfeitamente enquadrado na legislação e nos regulamentos aplicáveis, os quais são escrupulosamente seguidos pelo instituto”.
Num comunicado divulgado à data, o IVDP explica que “os vinhos de lote, como os Tawny 10 anos e 20 anos, correspondem a uma arte de lotação secular, permitindo que os vinhos apresentem as características de uma idade, sem estar em causa a idade do vinho”.
Além disso, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto diz que “não há indícios de que possa estar em causa qualquer comportamento fraudulento por parte de qualquer das empresas visadas na notícia”.