Leondra R. Kruger, Ketanji Brown Jackson ou J. Michelle Childs. Uma destas mulheres deverá suceder ao juiz da ala liberal Stephen Breyer no Supremo Tribunal dos Estados Unidos, avança o The New York Times, em coro com a CNN e a restante imprensa norte-americana.
As três mulheres — juízas, norte-americanas e negras — são os rostos mais apontados para o “passo em frente nesta longa jornada pela justiça social” que está a entusiasmar os aliados mais progressistas do Presidente norte-americano, Joe Biden. “É, realmente assim que queremos que os EUA sejam nos próximos 50 anos”, festeja, em jeito de antecipação, o congressista californiano, Ro Khanna, numa entrevista citada pelo The New York Times.
Promessa eleitoral do atual inquilino da Casa Branca, a entrada de uma afro-americana na corrida pelo cargo foi espoletada pela reforma de Breyer, que ao fim de 27 anos deixa de cruzar as portas do Supremo Tribunal dos EUA. Na lista das eventuais sucessoras, Leondra R. Kruger, com 45 anos, foi braço direito do procurador-geral adjunto dos tempos de Barack Obama, John Paul Stevens. Mais do que conhecer os cantos à casa, tem no currículo a distinção da magistrada mais jovem de sempre a ser nomeada para o Supremo Tribunal do Estado da Califórnia.
Nomeada ainda no ano passado para o Tribunal de Apelação dos EUA — que em Portugal corresponde ao Tribunal da Relação — para o circuito do Distrito de Columbia, Ketanji Brown Jackson esteve cara a cara com o Presidente para a entrevista obrigatória que antecede qualquer nomeação para um órgão de justiça semelhante.
Formada em Harvard, a juíza de 51 anos esteve recentemente debaixo dos holofotes no caso da divulgação de documentos relacionados com a invasão ao Capitólio de há um ano. É dela a assinatura que no despacho que nega a Donald Trump o segredo sobre os ficheiros documentos da Casa Branca.
Mais discreta, a atual juíza do Tribunal Federal da Carolina do Sul, J. Michelle Childs, foi apontada como um apoio de peso na vitória de Joe Biden naquele Estado, nas primárias de 2020. De acordo com a CNN, Sherrilyn Ifill, Anita Earls, Wilhelmina “Mimi” Wright, Eunice Lee e Candace Jackson-Akiwumi são outros nomes em cima da mesa.
O nome deverá ser anunciado até ao final de fevereiro, na leitura do The Washington Post. Durante o evento em que oficializou o fim da carreira de Stephen Breyer como juiz, o próprio Joe Biden revelou que a decisão está “ “já tardou tempo demais”, comprometendo-se de antemão a escolher “um candidato digno do legado de excelência e decência” liberal que foi nomeado pelo então Presidente Bill Clinton, em 1994.
“Não tomei nenhuma decisão. Mas a pessoa que vou nomear será alguém com extraordinárias qualificações, caráter, experiência e integridade. E essa pessoa será a primeira mulher negra nomeada para o Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos. Já tardou tempo demais”, disse Biden, ao lado do juiz mais antigo do Supremo.
O Supremo mais diversificado da história
Vista como uma balão de oxigénio, capaz de “galvanizar” os democratas mais descontentes, a nomeação que, constitucionalmente, está a cargo de Joe Biden arrisca entrar para a lista de efemérides e conquistas raciais dos EUA. Caso o Chefe de Estado norte-americano cumpra a promessa eleitoral de nomear uma mulher negra para o mais alto tribunal do país, a escolhida tornar-se-á na primeira afro-americana a desempenhar o cargo. “É importante porque estamos a falar de um símbolo de liderança pública que sempre foi visto como domínio de homens brancos”, explicava há dias a analista e estratega democrata, Donna Brazile.
Caso uma das mulheres apontadas assuma o cargo, torna-se na terceira negra a transpor as portas do Supremo, depois de Thurgood Marshall e Clarence Thomas – dois, entre 108 homens brancos. Será também a sexta mulher a ter poder de decisão nas mais altas instâncias da justiça norte-americana, juntando-se a Sandra Day O’Connor, Ruth Bader Ginsburg e às atuais juízas Sotomayor, Kagan e Justice Amy Coney Barrett. Lembra o The Whashington Post que nunca houve quatro mulheres a desempenhar o cargo em simultâneo.
De qualquer forma, qualquer mudança radical no Supremo Tribunal dos EUA é improvável, já que, independentemente da saída do juiz liberal Stephen Breyer, a entrada de outro não deverá ter impacto na correlação de forças do órgão que mantém seis juízes conservadores e três liberais.