Depois de o PAN ter anunciado que iria avançar para um processo de auscultação das bases do partido no rescaldo das eleições legislativas, dez membros do órgão máximo do partido entre Congressos (a Comissão Política Nacional) anunciam agora que abandonam as funções. Entre eles três baixas de peso: o ex-deputado Nelson Silva e o deputado no Parlamento Açoriano Pedro Neves e o porta-voz do PAN na Madeira Joaquim de Sousa.

Nelson Silva, que já tinha abandonado a Comissão Política Permanente (órgão mais restrito do partido) antes das eleições legislativas e que foi uma das ausências mais notadas na comitiva do partido durante a campanha, abandona agora também a Comissão Política Nacional. Ainda que o nome do ex-deputado ainda conste na página oficial do PAN como membro da CPN, o Observador sabe que no sábado Ernesto Morais foi eleito para substituir Nelson Silva.

Os dez membros já apresentaram as cartas de demissão ao partido, segundo apurou o Observador . Dos 27 membros da Comissão Política Nacional, seis dos dez que agora se demitem votaram em sentido contrário à decisão anunciada de auscultar as bases e não realizar já um Congresso extraordinário.

Além de Pedro Neves, também Sónia Domingos, dos Açores, deixa a CPN. A estes somam-se: Paulo Baptista e Ricardo Cândido de Faro; Vítor Pinto, de Setúbal; Carolina Almeida, de Viseu; Fábio João de Castelo Branco e o membro da mesa da direção, Jorge Alcobia”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os dirigentes do partido alegam “total asfixia democrática interna” e notam que sem a realização de um Congresso extraordinário — depois do chumbo do Tribunal Constitucional aos novos estatutos — “metade dos dirigentes da Direção Nacional” ficam sem direito de voto.

“As razões que levaram a esta saída em conjunto prendem-se, nomeadamente, com o chumbo da proposta para a realização de um Congresso Eletivo Extraordinário com vista à discussão e balanço das eleições legislativas de 2022 e retificação dos estatutos, devolvendo a palavra ao órgão máximo do partido em ambiente de discussão democrática interna e panorama alargado. Apenas um Congresso, pela amplitude de debate que proporciona entre todos os filiados, oferece condições para que a discussão seja realmente global e que ratifique os Estatutos que não foram aprovados pelo Tribunal Constitucional”, lê-se num comunicado a que o Observador teve acesso.

Legislativas. PAN vai auscultar bases e não exclui realização de congresso

“Os membros demissionários consideram que uma Direcção que deseja ouvir as bases para traçar estratégia, mas que, perante os maus resultados em dois actos eleitorais consecutivos, foge ao escrutínio em congresso, não se pauta por uma metodologia verdadeiramente transparente nem democrática, quando falhou nos objetivos assumidos e logo necessita de ser reavaliada”, apontam os membros demissionários.

Os dirigentes falam da “maior derrota eleitoral de sempre” e dizem os dirigentes que “só o órgão máximo do PAN tem o poder total para reerguer o partido e revalidar uma direção e a sua porta-voz”. “Sem um Congresso, o partido estará sempre numa fragilidade contínua, algo insustentável que irá condenar o PAN a uma erosão que querem a todo o custo travar”, lê-se no comunicado que aponta ainda “falta de maturidade e lucidez política nas análises dos resultados eleitorais pouco realistas que sustentam as causas da dramática descida de votos em externalidades“.

De acordo com os dirigentes que agora saem do órgão máximo entre Congressos, houve também “pouca disponibilidade da Comissão Política Permanente (CPP) para debater com a Comissão Política Nacional todas as opções que contribuíram para a derrota, cerrando fileiras às opiniões divergentes”.

E se o PAN tem falado para fora a uma só voz — contrastando com o regresso a público de André Silva — sobre o resultado eleitoral de dia 30, com a saída destes membros ficam mais claras algumas das falhas apontadas internamente: “Uma mensagem de posicionamento político difuso após eleições, uma estratégia de comunicação e design falhadas e completamente contrárias às soluções internas que tinham sido bem sucedidas no passado, a aposta num discurso de campanha monotemático e repetitivo e o pouco espaço deixado para o PAN continuar a ser disruptivo, mantendo, assim o eleitorado jovem que acabou por fugir para outros quadrantes partidários”.

Artigo atualizado às 16h25 com a correção do número de demissões. São dez demissões, conforme os nomes avançados pelo Observador