No dia em que se ficou conhecida a demissão de dez membros da Comissão Política Nacional do PAN (sendo que quatro destes ficaram sem direito de voto com o chumbo do Tribunal Constitucional aos novos estatutos), Inês Sousa Real repete o argumentário que o PAN usava há quase dois anos quando viu sair Francisco Guerreiro (eurodeputado) e Cristina Rodrigues (deputada eleita por Setúbal em 2019): “Jogos palacianos” e “agendas próprias e pessoais”.
Receio de ir a votos? “De forma alguma” responde a líder do PAN
“Há aqui dois projetos e duas visões distintas. Há quem esteja comprometido com o partido e as causas que o partido representa e quem esteja claramente a representar uma agenda própria e pessoal. Não nos revemos nesta forma de fazer política, não é isto que os nossos eleitores, filiados e acima de tudo, não é isso que os animais esperam daquilo que é o partido único na Assembleia da República que tem representado os seus interesses”, disse acrescentando que não vai “entregar de bandeja a estas pessoas que estão com uma agenda pessoal própria”.
Mudam os atores dentro do partido, mas os problemas parecem mais que nunca estruturais. Na reação à demissão dos dez dirigentes do PAN, Sousa Real considera a atitude como “profundamente lamentável” e diz que essa decisão “é um favor que estão a fazer à CAP, ao lobby da tauromaquia, a todos os interesses com quem o PAN tem batido de frente”.
“Não contam com esta direção para este tipo de jogos. Estarem a prejudicar as nossas causas. Isto que estão a fazer é um favor que estão a fazer à CAP, ao lobby da tauromaquia, a todos os interesses com quem o PAN tem batido de frente porque, de facto, devem estar a aplaudir neste momento as decisões internas do PAN e o exemplo que estão a dar é um exemplo muito pouco saudável naquilo que deveríamos estar a fazer que era marcar a diferença com responsabilidade e elevação estar a fazer a análise do que é o balanço destas eleições e que enquanto partido temos que melhorar”, apontou a líder do PAN em declarações esta segunda-feira à Rádio Observador.
Comparando o resultado do PAN ao do Bloco de Esquerda, da CDU ou do CDS, diz Sousa Real que “no caso do BE e do PCP vão dar tempo ao que é a vontade e voz dos filiados e filiadas exatamente no mesmo sentido que o PAN decidiu este sábado”.
Ainda antes de André Silva ter pedido claramente a demissão de Sousa Real, a líder do PAN e cabeça de lista por Lisboa rejeitou a ideia de deixar o lugar no hemiciclo, que permitiria a Nelson Silva — um dos membros que pediu a demissão e que mais críticas tem feito nos últimos dias à direção do PAN — sentar-se no Parlamento.
“Se querem, de facto, deitar uma direção abaixo para conseguirem ficar com o lugar na Assembleia da República e também uma nova direção, lamento. Esta direção tem sete meses de existência, estamos perfeitamente legitimados por aquela que foi a nossa eleição democrática, mais ninguém se apresentou a eleições em junho. Os resultados não surgem do dia para a noite. Implicam trabalho e é esse o compromisso desta direção, trabalhar ouvir as pessoas. Em função da auscultação logo convocaremos ou não um congresso eletivo”, disse recordando o chumbo do TC aos estatutos e a necessidade de convocar outro Congresso para aprovar novos.
“Se as bases ainda assim não quiserem um congresso, recordo que temos uns estatutos que foram rejeitados pelo Tribunal Constitucional pelo que para esta direção será sempre importante realizar um Congresso. Iremos sempre promover a sua realização após auscultação, precisamente para poder levar os estatutos que deviam estar em vigor no partido e promovem ferramentas de maior proximidade, de maior pluralidade interna em termos democráticos como é o caso das inerências na Comissão Política Nacional”, notou.
Comentando ainda as declarações de Nelson Silva no programa Semáforo Político na Rádio Observador, Sousa Real diz que o ex-deputado tem uma postura de “autodesresponsabilização total”: “Nelson Silva fazia parte desta direção, se não colaborou, se não participou foi pela sua própria responsabilidade”. “Em democracia temos de saber aceitar quando existe diversidade de opinião e quando a maioria não está de acordo com aquela que é a nossa visão. Recordo que o PAN é um partido horizontal, não é um partido presidencialista. Tem sido um coletivo a tomar todas as decisões, inclusivamente em relação àquilo que está para trás”, frisou a líder, que rejeitou ainda as críticas de falta de democracia interna.
“Virem com argumentos de que há falta de democracia não colhe, de todo. Lamentamos profundamente. Quem fica prejudicado com este tipo de atitudes e discurso são as nossas causas, não apenas o ambiente, mas acima de tudo outros seres vivos que connosco partilham este planeta e mais ninguém lhes tem dado voz como é o caso da causa animal”.