A Caixa Geral de Depósitos fechou o exercício de 2021 com um resultado líquido de 583 milhões de euros, mais 18,7% do que o lucro obtido no ano anterior. Segundo informação submetida ao regulador de mercado e apresentada pelo banco em conferência de imprensa em Lisboa, o aumento da cobrança de comissões, a descida dos custos e os resultados em operações financeiras (grosso modo, venda de títulos de dívida pública) compensaram a quebra de quase 5% na margem financeira.

Esse indicador, que em termos simples reflete a diferença entre os custos que o banco paga para se financiar (depósitos de clientes, BCE, etc.) e aquilo que cobra em juros pelos empréstimos que concede, baixou em 51 milhões (-4,8%) face ao ano anterior. Essa descida é justificada pela Caixa com o “custo suportado dos depósitos junto do BCE (34 milhões de euros) e pela queda das taxas de juro no mercado, com reflexo direto nos indexantes da carteira, bem como pela baixa generalizada dos spreads nas novas operações, fruto da competitividade do mercado”.

O banco compensou essa evolução da margem financeira com vários fatores, incluindo a cobrança de comissões. Na atividade doméstica, o banco cobrou 476,2 milhões de euros em serviços e comissões, mais 13,3% do que no ano anterior (as comissões na atividade internacional também aumentaram 10%, para 88,4 milhões). A CGD destaca, a esse respeito, o “crescimento registado nos resultados de serviços e comissões associadas à colocação de fundos de investimentos, seguros financeiros e nova concessão de crédito”.

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Na conferência de imprensa, o presidente da comissão executiva, Paulo Macedo, notou que “a banca tem duas fontes de proveitos – juros e comissões. E os juros, quando não são negativos como agora, remuneram o custo do capital. E as comissões remuneram os custos operacionais”. E “há uma demagogia e uma má compreensão como se às vezes se achasse que as comissões deviam acabar. Quando as comissões acabarem os trabalhadores não são pagos“.

Os resultados com operações financeiras também deram uma ajuda importante – o valor saltou de 13,2% para 138,8 milhões de euros – mas para o desempenho operacional do banco foi, também, decisiva a redução dos custos de estrutura da operação doméstica: esses baixaram 13,4% para 532 milhões, com os custos com pessoal a reduzirem-se em quase 22% para 281 milhões.

Caixa quer contratar entre 400 e 600 pessoas até 2024

A Caixa Geral de Depósitos também, esta sexta-feira, deu alguns primeiros detalhes sobre o plano estratégico para 2021-2024. Esse é um plano que inclui a intenção de contratar entre 400 e 600 pessoas, conforme as saídas que entretanto existam.

Esse é um plano, também, que prevê que a Caixa continue a ser “um banco com gestão portuguesa, com capital português e público“.

Ainda sobre os resultados de 2021, a Caixa em Portugal aumentou em 3,4% a concessão de crédito total, com a produção de novo crédito à habitação a saltar de 2.320 milhões para 3.376 milhões (+45,5%). Os depósitos no banco público aumentaram quase 10% entre o final de 2020 e o final de 2021.

O banco público salientou, também, através da nova administradora financeira Maria João Carioca, que 6,4 mil milhões em moratórias expiraram em 2021. Neste momento, o banco tem 480 milhões de euros “em negociação” (330 milhões para cerca de 3.000 famílias e 150 milhões para cerca de 600 empresas).

Prazos dos créditos à habitação vão baixar para quem tem mais de 30 anos

Acerca da nova recomendação feita pelo Banco de Portugal, em que baixaram os prazos máximos para crédito à habitação, conforme a idade, Paulo Macedo comentou que, sendo esta uma decisão aplicável “a toda a banca” e que pode ser “relativamente discutível”, do ponto de vista da Caixa “nós compreendêmo-la e iremos aplicá-la“. De qualquer forma, na opinião do Paulo Macedo, que diz compreender a “preocupação” do Banco de Portugal, a regra não traz “uma grande alteração”.

Por outro lado, numa altura em que se discute quase diariamente como deve o BCE reagir à inflação mais elevada, Paulo Macedo confirmou que a expectativa da Caixa é que “as taxas de juro continuem em níveis historicamente baixos” nos próximos tempos – até porque mesmo que houvesse, por hipótese, dois aumentos de taxas de juro de 25 pontos-base, isso levaria a Euribor… para zero, admitiu o gestor.

“Positivo” haver uma maioria absoluta, diz Paulo Macedo

O banqueiro também comentou o resultado das eleições de 30 de janeiro, Paulo Macedo disse achar “positivo haver uma maioria que claramente possa tomar decisões, que possa continuar a tomar decisões sobre a distribuição da riqueza e com a melhoria da mesma, que também é necessária”. O banqueiro acrescentou que “é necessário fazer reformas e essas reformas podem mais facilmente ser feitas em maioria absoluta”.

Depois de o primeiro-ministro, António Costa, ter confirmado que poderá estar em cima da mesa a hipótese de alguns ministérios virem a ocupar parte do edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, Paulo Macedo lembrou que este é um tema antigo e que para já “está tudo em aberto”. Sendo “clara” a vontade da Caixa de rentabilizar o espaço disponível, o gestor confirmou que, “como o sr. primeiro-ministro disse, houve conversas sobre o interesse, sobre os timings, sobre a forma”.

Mas “houve também conversas com outras entidades, quer empresas quer reguladores, houve outras entidades que manifestaram interesse“, acrescentou Paulo Macedo, notando que “não temos nada contra a vizinhança do Governo” até porque “a Autoridade Tributária também queria vir para cá”. Aliás, o banqueiro admite que a própria Caixa Geral de Depósitos possa, um dia, abandonar o espaço – mas “nunca será antes de 2026 ou 2027”.