O presidente da Associação Empresarial da Serra da Estrela, com sede em Seia, admitiu esta sexta-feira que a falta de neve está a afastar clientes dos restaurantes e dos hotéis e a ter efeitos negativos na faturação, sobretudo em Seia e Gouveia.

“Aquilo que se verifica neste momento é que não há pluviosidade, não há neve, e aquilo que era o turismo de inverno e que trazia muita gente para a Serra da Estrela, nomeadamente para os hotéis e para a restauração, isso, neste momento, não existe”, disse à agência Lusa o presidente da Associação Empresarial da Serra da Estrela (AESE), Luís Seabra.

Segundo este responsável, no tocante aos restaurantes, nomeadamente àqueles que se localizam nos concelhos de Seia e de Gouveia, verifica-se um cenário “que nunca aconteceu”.

“Os restaurantes, por incrível que pareça – isto nunca aconteceu, está a acontecer de há um mês para cá, mais ou menos -, servem almoços e, ao jantar, até se ‘dão ao luxo’ de já não abrirem, porque sabem que se abrirem estão ali a ‘olhar para o boneco’ e, como tal, fecham a porta”, relatou.

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A situação também está a ter consequências junto dos habitantes, pois “quem vive na cidade fica privado de poder usufruir de um serviço de restauração à hora de jantar, porque não tem”, uma vez que “só a terra não justifica a abertura” dos estabelecimentos.

Luís Seabra referiu que o cenário “é geral”, verifica-se durante a semana e também aos fins de semana, e não abrange “só um restaurante ou dois”, pois atinge “praticamente todos”.

“O que é mau, porque quem é contratado para trabalho temporário também não está a usufruir de trabalho nenhum e quem fez investimentos no turismo local, antes do Covid-19 e em pleno Covid-19, alguns estão sem trabalhar, outros têm dívidas à banca e não estão a conseguir cumprir com as obrigações. Isto acaba por ser uma bola de neve que não causa só problemas às empresas como também às famílias”, disse.

Na região da Serra da Estrela, o desejo dos empresários relacionados com o setor do turismo é que a queda de neve seja uma realidade em breve, embora o presidente da AESE admita que com a pandemia, “mesmo com muita neve”, as unidades de restauração e de hotelaria da região continuariam a não ter os números de procura que existiam antes dessa época.

Falta de neve na Serra da Estrela tem tido mais impacto nos hotéis durante a semana

A falta de neve na Serra da Estrela também tem reduzido a procura nos hotéis da região durante os dias úteis, mas não se está a refletir muito nos fins de semana.

“Temos a certeza de que se houvesse neve haveria mais procura, mas os fins de semana têm sido bons”, disse à agência Lusa Carlos Santos, diretor-geral do Hotel Luna na Serra da Estrela, situado em pleno coração da montanha mais alta de Portugal continental.

Normalmente com neve no mês de fevereiro, a Serra da Estrela tem estado este ano mais despida e sem o habitual manto que faz as delícias dos visitantes, mas a natureza, o património, as aldeias classificadas, a gastronomia e as atrações dos próprios hotéis têm contribuído para chamar visitantes, com destaque para os fins de semana.

“No nosso caso, a aposta na piscina aquecida tem funcionado muito bem e ajudado a cativar clientes”, esclareceu Carlos Santos.

Segundo detalhou, a falta de neve acaba por se refletir mais nos dias de semana, que têm tido uma ocupação mais baixa do que seria expectável e que se prolonga por menos dias.

“Ao longo da semana andamos com uma ocupação média a rondar os 30%. Se houvesse neve, provavelmente chegaríamos aos 50 a 60%”, apontou.

No LAM Hotel Serra da Estrela, a procura nos dias de semana também está abaixo do previsto e as estadas têm sido por um período de tempo mais curto, referiu à agência Lusa o diretor da unidade, José Belchior.

A falta de neve mexe sempre com a ocupação dos hotéis deste território. Os fins de semana até nem têm sido maus, mas há tudo o resto que não existe, designadamente a procura durante a semana ou as estadas por mais tempo. As pessoas vêm, mas só ficam uma ou duas noites. Se tivéssemos neve, certamente que ficavam mais tempo”, afirmou.

Na Covilhã, cidade que é uma das principais portas de entrada da Serra da Estrela, o Hotel D. Maria tem vivido uma realidade semelhante.

“A Serra da Estrela é um destino que se foi reinventando ao longo dos anos e equipado com bons hotéis e boas condições de acolhimento e isso ajuda-nos a manter índices de procura muito elevados ao fim de semana”, disse o diretor daquela unidade, Luís Ferreira.

Assumindo que a neve é o grande cartaz de inverno na Serra, este responsável também destacou que a montanha é “mais do que isso” e que os turistas querem cada vez mais descobrir o outro lado da montanha, bem como as ofertas relacionadas com o lazer e bem-estar, o que tem contribuído para os resultados “satisfatórios” desta unidade que, ao sábado e domingo, tem tido registado uma ocupação na ordem dos 90%.

Do outro lado da montanha, no Hotel Eurosol Seia Camelo, a situação repete-se. Os fins de semana “têm estado bons”, mas os outros dias são “mais tímidos”, pelo que se espera que a neve volte a cair, sobretudo para corresponder às expectativas dos clientes.

“Aqui a neve é sempre um fator que faz a diferença. Já sabemos que, sempre que neva, os telefones tocam mais freneticamente”, explicou o diretor daquela unidade, Miguel Camelo.